‘A guerra cambial já foi declarada’

A guerra cambial global já está em andamento e os países que se recusarem a entrar na disputa serão derrotados, diz o economista americano Michael Pettis, que vê o Brasil pouco equipado para o enfrentamento, em razão do impacto que a eventual desvalorização acentuada da moeda teria sobre a inflação e o endividamento externo. “Esse é o problema das guerras cambiais. Não há escolha. Uma vez que elas começam, você tem de participar”, disse em entrevista ao Estado na quarta- feira, em seu escritório na capital chinesa. Professor da Universidade de Pequim, Pettis acaba de lançar o livro The Great Rebalancing: Trade, Conflict, and the Perílons Road Ahead for the World Economy (O Grande Rebalanceamento: Comércio, Conflito e o Perigoso Caminho Diante da Economia Mundial), no qual sustenta que o mundo ainda tem de corrigir os problemas que estiveram na origem da crise global. Para ele, os elevados índices de poupança e consumo que representam os extremos desses desequilíbrios não são reflexo de traços culturais, mas de políticas econômicas cujo impacto ultrapassa as fronteiras de cada país. A seguir, os principais trechos da entrevista. • Na origem da crise financeira estava o desequilíbrio entre o alto consumo dos Estados Unidos e a elevada poupança da China. O mundo retornou a um cenário de equilíbrio? Ainda não. Nos EUA, o nível de endividamento diminuiu e o de poupança, aumentou, que é a condição para que haja reequilíbrio. Mas está sendo dolorido e lento. Na Europa, não houve re- balanceamento. Eles se reequilibraram ao custo de desemprego extremamente alto, o que não é sustentável, e o problema da dívida se agravou. • Na China, houve um pouco de rebalanceamento no ano passado, mas ele foi revertido. O mundo não se reequilibrou. O que falta ser feito? A Europa tem de resolver seus problemas econômicos e há três maneiras possíveis de isso ocorrer. Uma é que os alemães aumentem sua demanda doméstica de maneira significativa e tenham déficit em conta corrente, o que permitiria que os países europeus periféricos tivessem os superávits correspondentes necessários para pagar suas dívidas. Se os alemães não fizerem isso, os países periféricos da Europa continuarão a ter elevadas taxas de desemprego por muitos anos. A terceira possibilidade é a de os países periféricos deixarem o euro. No caso da China, é preciso reduzir o índice de poupança e elevar o de consumo. A única maneira de aumentar o consumo é expandir a fatia da renda das famílias no PIB, mas isso significa reduzir a fatia do governo, o que enfrenta resistência política. • No seu livro, o sr. defende a ideia de que o governo americano deveria restringir a possibilidade de estrangeiros terem ativos em dólar. Por quê? Muitos dizem que o fato de que todo o mundo compra dólares permite que os americanos consumam mais do que eles produzem. Eu digo que o fato de que todo o mundo compra dólares força os americanos a consumirem mais do que eles produzem. Se um país acumula reservas em dólares e exporta capital para os EUA, esse país tem de ter superávit (em conta corrente) e os EUA, déficit. Não há outra possibilidade. Essa é a razão pela qual os países acumulam dólares. Quando a China começa a acumular iene, os japoneses ficam extremamente insatisfeitos. O mesmo ocorre com a Coreia ou a Europa. Ninguém quer o suposto benefício de ter uma moeda que é usada como reserva de valor. (Fonte: O Estado de São Paulo) (Veja a matéria em nosso site)

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