Quarenta anos de parceria com a China


Em outubro de 1972, o presidente da então denominada Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB), Giulite Coutinho, coordenou a primeira missão empresarial brasileira à China. Na época, nem de longe se cogitava imaginar que aquele país se transformaria em uma das economias mais dinâmicas do mundo.


O objetivo inicial era prospectar o mercado local para tentar vender produtos manufaturados, inclusive navios e caminhões, além de negociar diretamente o açúcar brasileiro, cuja comercialização era feita, naquele tempo, por meio de intermediários ingleses.


A missão voltou da China otimista, realizando alguns importantes negócios: vendeu três mil toneladas de algodão, equivalentes a US$ 70 milhões, mais US$69,3 milhões em açúcar, além de ferro gusa e sementes de soja, vislumbrando perspectivas futuras mais promissoras.


Em abril de 1974, a AEB, ainda presidida por Giulite, organizou a segunda missão empresarial à China, com uma delegação integrada por 20 empresários e representantes do governo brasileiro. A missão formalizou convite para vinda de delegação chinesa ao Brasil, já como objetivo de reaproximar os dois países.


Os chineses aceitaram o convite, e, em 15 de agosto de 1974, durante a visita do vice-ministro de Comércio chinês, Chen Chien, que liderava a missão comercial, foram reatadas as relações diplomáticas, em cerimônia no Palácio do Itamaraty.


A visão empresarial de Giulite descortinou o surgimento de um fabuloso mercado consumidor num país hoje habitado por cerca de 1,4 bilhão de pessoas e com cinco mil anos de tradição e experiência comerciais.


Logo após a primeira missão à China, o empresário criou, em novembro de 1972, o ENAEX (então Encontro Nacional dos Exportadores, hoje chamado de Encontro Nacional de Comércio Exterior), que se transformou no principal foro de diálogo da iniciativa privada com as esferas governamentais para abordagem dos aspectos que envolvem o comércio exterior.O ENAEX 2014 será realizado nos dias 7 e 8 de agosto, no Rio, e contará comum painel especial para marcar os 40 anos da parceria sino-brasileira.


Nos primórdios do século XXI, a China passou a desempenhar um papel de destaque no cenário internacional, apresentando taxas de crescimento exponenciais, expansão da produção industrial e diversificação de mercados. A ascensão chinesa criou grandes desafios à significativa parcela de empresas brasileiras, que tiveram suas posições afetadas nos mercados externo e doméstico.


Giulite sempre defendeu e praticou, em seus negócios, a máxima comercial segundo a qual “caso seu rival seja muito mais forte, procure aliar-se a ele”. É o caso das atuais relações sino-brasileiras. Nos últimos anos, a China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil. Exportamos commodities agrícolas e minerais, e realizamos diversificadas importações de manufaturas chinesas – algumas delas, é bem verdade, com a prática de preços lesivos.


E o que fazer com esse gigante? Conviver, mas com todos os cuidados que a prudência recomenda, diria Giulite. Ele endossaria

as recomendações que a AEB vem fazendo para que o país não só enfrente um gigante desse porte, como participe com mais sucesso nos mercados internacionais: reduzir custos para ampliar a competitividade; reforçar atividades para abertura do mercado chinês; atrair mais investimentos chineses; desenvolver cadeias integradas de valor;ampliar e agilizar investimentos em infraestrutura e logística; e desenvolver estratégias comerciais para abertura de novos mercados.


Giulite Coutinho faleceu em 2009, aos 87 anos. Uma de suas grandes paixões foi o comércio exterior brasileiro, ao qual dedicou sua inesgotável capacidade de empreender ações audaciosas, buscando o desbravamento de novos mercados para nossos produtos. AAEB, por ele liderada, abriu o caminho para 40 anos de relacionamento estratégico entre o Brasil e a China, hoje nosso principal parceiro comercial.

*José Augusto de Castro e Mauro Laviola são, respectivamente, presidente e vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

Fonte: Brasil Econômico (28/01)


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