Exportação cai 6,2% no 1 º tri e saldo negativo vai a US$ 18,8 bi

“A balança da indústria de transformação continua a sofrer deterioração. No primeiro trimestre, o déficit comercial chegou a US$ 18,8 bilhões de janeiro a março deste ano. No mesmo período do ano passado, o saldo negativo era de US$ 16,3 bilhões. A deterioração maior ocorreu porque a importação da indústria aumentou 1,1% enquanto a exportação caiu 6,2%. O levantamento é do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O estudo, de autoria do economista do Iedi, Rogério César de Souza, analisa os desempenhos de exportação e importação olhando setores industriais de acordo com sua intensidade tecnológica.

De acordo com a análise, o recuo das exportações na indústria de transformação foi puxado principalmente pelos segmentos de produtos metálicos e de alimentos. Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica e professor da Unicamp, destaca que o desempenho de vendas ao exterior desses dois segmentos foi afetado pela queda de preços das commodities agrícolas e também em razão da superoferta de aço no mercado internacional. Os dois setores representaram no primeiro trimestre 45% da exportação total da indústria de transformação.

A indústria de alimentos está no grupo dos bens de baixa tecnologia enquanto os produtos de metal estão no grupo de média-baixa tecnologia. O que agravou ainda mais a situação, diz Almeida, é que ao mesmo tempo em que esses dois segmentos reduziram o valor exportado, não houve alta na exportação de indústrias com maior intensidade tecnológica. Responsáveis por 34% dos embarques da indústria, os setores de média-alta e alta tecnologia tiveram, na

verdade, ligeiro recuo na exportação. A queda foi de 1,4% no primeiro trimestre, contra iguais meses de 2013.

“A mudança é que antes a deterioração da balança da indústria acontecia mais em razão de crescimento das importações em ritmo maior do que o das exportações. Agora houve desaceleração das importações, mas acompanhada de uma falta de recuperação das vendas ao exterior”, afirma Almeida. E um agravante, diz ele, é que a desaceleração da importação não é resultado de ganho de competitividade do fornecedor doméstico em razão da depreciação cambial. “A desaceleração da importação reflete o baixo crescimento econômico”, explica. Ou seja, a indústria importa menos porque produz menos em razão da demanda relativamente baixa.

Os dados referentes ao desempenho da balança comercial da indústria no primeiro trimestre, segundo Almeida, mostram que, ao contrário do que se esperava, a desvalorização cambial ainda não foi suficiente para surtir maior efeito nas importações e nas exportações.

Ele lembra que em 2002, quando o real passou por forte desvalorização em decorrência da campanha presidencial, o resultado foi mais imediato. Os dados do Iedi mostram que no primeiro trimestre de 2003 a balança comercial da indústria teve superávit de US$ 2,69 bilhões, bem maior que o saldo positivo de US$ 401 milhões registrado em iguais meses do ano anterior. “Naquele período, a desvalorização cambial agia como injeção na veia”, diz Almeida. A variação do dólar, conta ele, combinada com outras variáveis, como nível de elasticidade, tornava mais previsível o comportamento das importações e das exportações.

O cenário de hoje, porém, não permite a mesma estimativa. Nesse período pouco maior do que dez anos, diz ele, alguns fatores mudaram. Almeida enumera três motivos para a falta de recuperação das exportações da indústria, mesmo com depreciação cambial.

A primeira, diz, é a mudança na forma de como a indústria interpreta a política cambial, além da falta de clareza para o rumo do dólar. Outro fator relevante, avalia, é a menor densidade industrial. “Um longo período de custos altos e real valorizado alterou a estrutura de segmentos industriais e destruiu alguns elos da cadeia produtiva.”

Além disso, diz Almeida, a falta de competitividade da indústria doméstica persiste em razão de questões estruturais como carga tributária e falta de infraestrutura. Nesse ponto, o problema é que na última década o Brasil evoluiu muito pouco enquanto países que fizeram sua lição de casa conseguiram tornar suas exportações mais competitivas.”


Fonte: Valor Econômico

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