Brasil cai para quinta posição entre destinos de capital externo produtivo

O fluxo global de entrada de investimento estrangeiro direto voltou a crescer no ano passado, mas o Brasil não acompanhou este movimento. O ingresso de capital produtivo no país caiu 1,9% em 2013, para US$ 64 bilhões, o que levou o Brasil a cair uma posição, para quinto lugar, no ranking dos principais destinos de investimento no ano passado. A queda, que já havia sido apontada por um relatório preliminar, foi a primeira desde 2006. Os dados são da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e foram divulgados ontem.
Após o tombo de 22% observado em 2012, o fluxo de IED voltou a crescer no ano passado, ao alcançar US$ 1,45 trilhão, 9% a mais do que em 2012. Ainda que os dados permitam “otimismo cauteloso” em relação aos prognósticos para os próximos anos, há ainda um longo caminho a percorrer para retomar os níveis de investimento entre países no período pré-crise, nota Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), responsável pela divulgação dos dados no Brasil.
O fluxo de investimentos produtivos ainda está em nível semelhante ao observado em 2006 e bem distante do pico de US$ 2 trilhões registrado no ano seguinte, de acordo com o “Relatório de Investimento Mundial de 2014 ” da Unctad. Para Reynaldo Passanezi, diretor da Sobeet, este é um reflexo do ainda incipiente movimento de recuperação da atividade econômica global, que deve beneficiar principalmente os países desenvolvidos, com o processo de normalização da política monetária americana. “Com a alta de juros, os emergentes vão voltar a competir por capital com países avançados”, afirma.
Além do fim do afrouxamento quantitativo, a Unctad observa que dificuldades inerentes a esses países, como incertezas em relação às políticas econômicas adotadas e instabilidade regional, devem levar o investimento em economias em estágio mais avançado a voltar a superar os países em desenvolvimento em 2015, padrão observado até 2012.
A Unctad projeta que o IED vai alcançar US$ 1,6 trilhão em 2014, mas boa parte desse aumento vai acontecer nas economias desenvolvidas (de US$ 566 bilhões em 2013 para US$ 763 bilhões em 2014), enquanto os emergentes vão ter pequena perda, de 1,8%, para US$ 764 bilhões no período.
Dentro desse grupo, o Brasil também não se destacou. Passou para quinta colocação no ranking dos principais destinos de IED, uma a menos do que em 2012. “Claramente houve no ano passado interrupção de um processo de ascensão do Brasil no cenário externo que teve início em 2006, quando o país não estava nem entre os 20 principais destinos de IED”, comenta Lima, da Sobeet.
O Brasil perdeu atratividade por questões internas que já tem sido observadas nos últimos anos, como o baixo crescimento e a necessidade de elevar a competitividade em setores chave, como a infraestrutura, comenta Frederico Turolla, sócio da Pezco Microanalysis e diretor da Sobeet. Como o IED responde com alguma defasagem a mudanças de cenários, já que depende de visão de longo prazo de investidores, só agora números um pouco menos desfavoráveis começam a aparecer.
Para Lima, mesmo que o volume de IED se mantenha em patamar elevado, em torno de US$ 60 bilhões neste ano, é provável que o Brasil perca mais posições no ranking, devido ao avanço de Cingapura e Canadá no ano passado.
Ainda assim, se o Brasil não é mais a “bola da vez”, não deixou de ter relevância no cenário global, comenta Passanezi. Entre 164 companhias pesquisadas pela Unctad, o Brasil ainda é o quinto país mais atrativo para receber investimentos nos próximos dois anos, mesmo patamar observado em 2013. A China continua a liderar o ranking, seguida pelos EUA. Já a Indonésia subiu para o terceiro lugar, invertendo posições com a Índia.
As empresas brasileiras também reduziram presença no exterior em 2013. Houve repatriação de US$ 3,5 bilhões no ano passado, mas Lima, da Sobeet, lembra que este número está muito influenciado pelo forte aumento de empréstimos intercompanhia, impulsionado no ano passado pela redução do IOF e alta de juros. As compras de participação no capital de empresas estrangeiras aumentaram no ano passado, diz Lima, e o estoque de investimento brasileiro no exterior soma US$ 300 bilhões. (Colaborou Daniela Chiaretti, de Nairóbi)


Fonte: Valor Econômico

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