Quando a Apex-Brasil lançou a primeira edição do Projeto Extensão Industrial Exportadora (PEIEX), no início dos anos 2000, a proposta era prospectar mercados e levar as empresas brasileiras para o exterior, principalmente as de pequeno e médio porte. Não demorou, contudo, para a entidade constatar que antes de participar de feiras e missões internacionais, as empresas precisavam se preparar melhor, ter um conhecimento mais profundo da cultura exportadora, do comportamento dos mercados e de até onde elas seriam capazes de ir.
“Em 2009, o projeto passou a qualificar as empresas com metodologia própria, premiada pela ONU, ajudando-as a melhorar a gestão do negócio, o controle financeiro, a criação e desenvolvimento dos produtos, a solucionar problemas internos para só, então, oferecer a oportunidade de se apresentar no exterior”, afirma Tiago Terra, gerente de competitividade internacional da Apex-Brasil.
A iniciativa contemplou mais de 80 setores da economia, agrupados em seis complexos produtivos (alimentos, bebidas e agronegócio, moda, tecnologia e saúde, casa e construção, economia criativa e serviços, máquinas e equipamentos). Desde então, quase 13 mil empresas foram analisadas, ajustadas e iniciaram seus processos de exportação, tendo em mente que hoje, com a economia globalizada, o mercado externo não é só para vender, mas também contribui para ficar atualizado.
Terra observa, ainda, que em maio último a Apex-Brasil levou 33 empresas, todas capacitadas pelos programas da entidade, para participarem de rodadas de negócios no Peru e na Colômbia. O resultado foi o fechamento de contratos da ordem de US$ 36 milhões. “No ano passado, realizamos uma missão para os mesmos locais, com um grupo de empresas exportadoras, porém, não capacitadas. O resultado foi US$ 1 milhão a menos nos contratos assinados”, afirma. “Trata-se de uma prova evidente de que empresas bem preparadas alcançam melhores resultados”.
Um exemplo deste trabalho é a Frutos da Amazônia, com sede em São Paulo, que fabrica geleias, molhos, biscoitos e chocolates gourmets à base de frutos nativos da região amazônica, como cupuaçu, açaí, graviola, taperebá e castanha. Com 18 anos de mercado, a pequena indústria passou por uma completa transformação, que incluiu uma consultoria para preparar a empresa a fim de ganhar escala na produção, inovação na produção, com a proposta de dar maior tempo de vida útil às linhas, e reformulação das embalagens, que passaram a ser desenhadas por uma artista plástica e, nas versões premium, preparadas por ceramistas, artesãos e ribeirinhos da Amazônia.
“Tudo isso só foi possível porque integramos o projeto Happy Goods Baked Brasil, da Associação Nacional das Indústrias de Biscoito, que conta com a parceria da Apex-Brasil”, ressalta Iolane Tavares, fundadora da Frutos da Amazônia. “Até, então, tínhamos vontade de exportar, sabíamos que fabricávamos um produto de qualidade e com apelo de brasilidade, mas não sabíamos como dar continuidade aos poucos contatos que fazíamos”, afirma Iolane.
Com um faturamento estimado de R$ 2 milhões para este ano e totalmente realinhada, a Frutos da Amazônia passou a trabalhar no mercado de especialidades, que valoriza produtos de maior valor agregado tanto no Brasil quanto na Itália e na Alemanha. Com esses países, a empresa já fechou bons contratos.
“Mais do que as feiras, foram as rodadas de negócios realizadas pela Apex aqui no Brasil com compradores estrangeiros que nos deram maior retorno”, avalia Iolane. “Negociar olho no olho, ouvir as expectativas do comprador, o que acha do produto, tudo isso é muito importante. Não me intimido em dizer que o desafio da pequena empresa é abrir portas e as iniciativas com esse perfil são um verdadeiro divisor de águas”, afirma ela.
Na opinião de Paulo Alvin, gerente de acesso a mercado e serviços financeiros do Sebrae Nacional, mais do que um divisor de águas, a capacitação para atuar no exterior garante às PMEs mais competitividade no mercado interno. “Com esse propósito mantemos parcerias com quase 20 instituições, entre elas, a Fundação Dom Cabral, que nos ajudam na formatação dos cursos e nas consultorias”, afirma o executivo. “Das cerca de 12 mil pequenas empresas exportadoras, 10% procuram o Sebrae em busca deste apoio”, afirma.
Fonte: Valor Econômico