Tudo bem ou tudo péssimo



É natural que o ambiente eleitoral contamine as análises econômicas. Nada mais previsível, nesse momento, do que a possibilidade de o calendário das eleições potencializar os temores sobre o futuro da economia. Por isso, a verdade é que o quadro das reais possibilidades e dificuldades costuma passar mais ou menos longe do descrito no calor das campanhas.

Essa característica não é uma jabuticaba, como outras exclusividades brasileiras. A tendência é que seja assim em todas as democracias em que a alternância de poder só é possível pela via do voto universal. Basta lembrar os radicalismos republicanos e democratas que afloraram na campanha de reeleição de Barack Obama, em 2012.

Lá como cá – e como em qualquer outro lugar – o debate entre o tudo bem dos situacionistas e o tudo péssimo dos oposicionistas tende a excluir ou encobrir as muitas nuances da real situação econômica e de suas perspectivas. Explica-se: os surtos de pessimismo ou otimismo das forças envolvidas nos embates eleitorais se baseiam mais nos níveis subjetivos de confiança ou desconfiança do que nos fundamentos econômicos.

Diferença, no caso específico da presente eleição brasileira, só mesmo o acirramento dessas características, a partir da carga emocional adicionada ao processo pelo inesperado e trágico desaparecimento, em acidente aéreo, do candidato Eduardo Campos e da ascensão de Marina Silva, sua emblemática vice, ao palco da disputa pela Presidência.

Tudo o que se poderia esperar do script eleitoral ficou mais embaralhado e ganhou cores mais intensas. É de se prever, assim, que essa maior intensidade também se reflita nas análises. Porém, não custa lembrar que, mesmo sem essa dose extra de emoção, avaliações econômicas ponderadas costumam estar sempre entre as primeiras vítimas dos períodos eleitorais.

“Estabelece-se uma confusão entre incertezas e falta de perspectivas”, observa Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da Fazenda e agora professor da Escola de Economia da FGV-SP. O que se tem hoje, segundo ele, são mais incertezas do que, de fato, falta de perspectivas.

As incertezas turbinadas pelo período eleitoral deverão ser reforçadas no fim deste mês com a divulgação pelo IBGE da variação do PIB no segundo trimestre do ano. Todos os indicadores apontam para um recuo da atividade econômica em relação ao trimestre anterior, compondo um primeiro semestre de recessão ou perto disso.

O resultado negativo provavelmente virá acompanhado de uma queda acentuada nos investimentos, o que aumentará ainda mais a desconfiança em relação aos rumos da economia. Se faltava alguma coisa para determinar uma paralisia empresarial, ainda que presumivelmente temporária, não deverá faltar mais nada.

Nada mais propício a digressões de cunho eleitoral, na direção de soluções heroicas, do que um quadro de baixo crescimento e inflação alta, como o que se apresentará na reta final da campanha presidencial. Pode ser, no entanto, que o simples desfecho da eleição, ao remover o grande entrave da incerteza sobre os rumos da política econômica, recoloque o mínimo de previsibilidade que falta agora às decisões econômicas.

Entre a declaração do presidente em exercício da Fiesp, Benjamin Steinbruch, na semana passada, de que “só louco investe no Brasil” e o anúncio da General Motors, no mesmo dia, de que fará investimentos de R$ 6,5 bilhões, em cinco anos, há um enorme espaço para ajustar preços relativos e limpar a estrada da recuperação econômica, requisito para empreender reformas mais estruturais.

Se o passado não muito distante for instrutivo, veremos que, nas crises do último quarto de século, a resposta aos ajustes de preços relativos, como os que terão de ser feitos em 2015, já no ano seguinte dá o ar da graça, com crescimento em alta e inflação cadente.

Fonte: Estadão

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