Renúncia do presidente do BC complica crise argentina



A crise argentina sofre novos golpes a cada dia e o governo parece cada vez mais distante de encontrar soluções. O dia ontem começou confuso, sem informações precisas de como o depósito do pagamento da dívida reestruturada, feito na véspera numa instituição de Buenos Aires, chegará aos credores com títulos sob jurisdição de Nova York. E terminou com mais incertezas, com a renúncia do presidente do Banco Central.
Foi principalmente por divergências com o ministro da Economia, Axel Kicillof, que Juan Carlos Fábrega apresentou sua renúncia à presidente Cristina Kirchner no fim da tarde. Fábrega é mais um presidente de Banco Central que enfrenta oposição do governo por discordar de que as reservas em moeda estrangeira sejam usadas para financiar o gasto publico.
Alejandro Vanoli, que dirigia a Comissão Nacional de Valores (CNV), é o quinto a assumir o cargo ao longo dos 13 anos de poder de Cristina Kirchner e o marido, Néstor. “Vanoli é um soldado de Cristina”, afirma o economista Aldo Abram, professor de finanças e diretor da Libertad & Progreso.
O novo presidente do BC argentino destacou-se na mídia no fim do ano passado ao dizer que publicar o valor do dólar no paralelo nos jornais era como informar o preço da cocaína. Fábrega permaneceu no cargo oito meses. Nesse período, ganhou respeito dos banqueiros e empresários.
Sua estratégia de política monetária, depois da desvalorização do peso em janeiro, era elogiada e indicava que o país voltaria ao mercado internacional. Mas a sentença da Justiça americana em favor de credores que ficaram fora da dívida reestruturada impediu isso.
Fábrega também participou das negociações com um grupo de bancos locais, dispostos a emprestar dinheiro para que o governo negociasse com os fundos que venceram batalha na Justiça americana. Mas encontrou a resistência do ministro da Economia, Axel Kicillof. Esse não foi o único motivo do embate. O chefe de pesquisa da consultoria Ecolatina, Juan Pablo Paladino, lembra a falta de sintonia sobre a política monetária. “Fábrega não se conformava com o fato de o déficit público continuar a ser financiado com a emissão de moeda”, destaca o economista.
A gota d’água para a renúncia foi o discurso de Cristina Kirchner, na noite de terça-feira. Em meio às críticas ao juiz americano Thomas Griesa, que declarou a Argentina em situação de desacato à corte, ela acusou as autoridades monetárias pela falta de controle em operações especulativas com dólar.
Vanoli assume o comando de um BC que enfrenta dificuldades para estancar a perda no nível de reservas, que soma hoje US$ 27,9 bilhões, quase a metade do que havia em 2010, quando Martin Redrado deixou o mesmo cargo em meio a uma polêmica com Cristina, que insistia no uso das reservas para o pagamento de dívida.
A questão da dívida é outra incerteza que pesa sobre o país. O governo argentino cancelou o contrato com o Bank of New York Mellon e ofereceu uma instituição em Buenos Aires para pagar os credores da dívida reestruturada. O pagamento nos EUA foi embargado pela Justiça até que a Argentina cumpra a sentença que determina o pagamento integral a credores que rejeitaram a reestruturação da dívida após o calote de 2001.
Em princípio, os credores poderiam ir para a Argentina, pegar o dinheiro e pedir a transferência para uma instituição fora do país. Mas não se sabe como isso funcionaria, já que o Bank of New York Mellon diz que ainda é o agente fiduciário. “É um caso inédito e confuso”, disse Paladino, da Ecolatina. Por causa disso, o país entrou em default em julho e há poucas indicações de quando conseguirá sair.

Fonte: Valor  Econômico



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