Governo segura divulgação de dados que podem afetar campanha de Dilma



FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA

Por decisão do governo federal, o país chegará ao segundo turno da eleição presidencial no domingo sem ter dados atualizados sobre o desempenho dos alunos em português e matemática e a arrecadação de tributos, estatísticas potencialmente negativas para a campanha da presidente Dilma Rousseff.

Como a Folha informou, também só serão divulgados depois da eleição dados sobre odesmatamento e um novo estudo sobre o contingente de pobres e de miseráveis.

Avaliações independentes ou informações oficiais já publicadas sinalizam que os indicadores mostrarão piora nessas duas áreas.

Diferentes instituições do governo Dilma Rousseff responsáveis por esses dados apontam questões técnicas, administrativas ou legais para explicar o que houve.

No caso da educação, tradicionalmente até agosto são apresentados os resultados de um exame nacional aplicado, a cada dois anos, a mais de 7 milhões de alunos.

Em setembro, o Ministério da Educação divulgou indicador que usa como base a prova de 2013 e a taxa de aprovação dos alunos –o Ideb–, sem mostrar qual foi o resultado em cada âmbito.

Assim, não é possível saber como está o nível atual dos estudantes brasileiros em português e matemática.

Por meio de dados secundários do próprio ministério, é possível estimar que os estudantes do ensino médio tiveram notas piores na prova nacional, mas menor reprovação nas escolas.

Os colégios nesse nível de ensino são mantidos majoritariamente pelos Estados, mas cabe à União induzir melhorias no sistema.

Já os alunos do ensino fundamental devem ter obtido desempenho positivo nas duas matérias.

Associação de funcionários do Inep (órgão que organiza a prova) divulgou carta pedindo autonomia ao órgão e “proteção frente a demandas de caráter privado”.

O professor da USP Ocimar Alavarse, especialista em avaliações educacionais, afirma que o intervalo entre a aplicação da prova (novembro de 2013) e a divulgação dos resultados (provavelmente novembro de 2014) “limita a análise” dos dados.

ECONOMIA

Outra informação que será divulgada apenas após as eleições é o resultado da arrecadação de tributos em setembro. Mantida a tendência recente, a arrecadação será menor do que a esperada pela gestão Dilma.

O anúncio normalmente ocorre até o dia 25. Em abril, maio e junho, porém, foi feito após essa data (nos dias 27, 26 e 28, respectivamente).

Na aferição do desmatamento da Amazônia, cujos resultados são divulgados todo mês, apenas em novembro serão publicados os dados de agosto e setembro.

Segundo análise da ONG de pesquisa Imazon, a taxa subiu 191% se comparado os bimestres de 2013 e 2014.

Outra divulgação postergada foi o estudo do Ipea que analisará o número de miseráveis no país. Um diretor chegou a pedir afastamento devido à decisão.

Segundo pesquisa do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), houve ano passado pequeno aumento no número de indigentes. A informação já foi usada pelo tucano Aécio Neves em sua campanha.

Os órgãos responsáveis pela postergação da divulgação dos dados citaram questões técnicas, administrativas ou legais para explicar o atraso das informações.

Fonte: Folha SP

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