pedro luiz passos
Depois de domingo, a retomada do crescimento deve concentrar toda a atenção do presidente eleito. Essa é a demanda básica, embora seja incompleta.
Apesar de sua relevância, ela não pode eclipsar a compreensão sobre a busca pela atualização tecnológica e excelência produtiva e gerencial que mobiliza empresas das principais economias do planeta.
A boa notícia é que tal movimento vem conquistando adeptos no Brasil. Aqui, ele é impelido por um grupo de empresas e empresários que lutam pela eficiência de suas atividades, batalham pela inovação, procuram internacionalizar suas operações e enfrentam a duras penas os desafios da concorrência onde quer que ela se apresente, aqui ou lá fora, em contraponto ao lado protecionista da economia -indutor de acomodados e de formulação macroeconômica defensiva.
Apesar do marasmo da economia brasileira nos últimos anos, o grupo de empreendedores inquietos é crescente. Ele envolve novos setores, novos empreendimentos, sobretudo entre os mais jovens, atrai o entusiasmo dos desenvolvedores de start-ups de conteúdo tecnológico. É com ele que o próximo governo deve contar para firmar a verdadeira base de uma política econômica transformadora.
Uma parcela ainda considerável do universo empresarial não tomou consciência desse novo ambiente. Se não o fizeram, é porque estão acomodados, mas também porque são beneficiados pela ajuda proporcionada por mecanismos fiscais ou ainda são erroneamente orientados pela política econômica.
Na maioria dos casos, nada impede que mudem sua trajetória se condições e orientações corretas de uma nova política econômica venham a ser introduzidas no país. Este, aliás, é, em minha opinião, um desafio que o novo governo deveria se colocar: promover a convergência empresarial em torno de um projeto de busca de eficiência e inovação.
E como provocar essa transição? Não seria, é claro, com uma intervenção estatal na economia. As empresas vão ter de correr atrás de ganhos de qualidade e produtividade quando ficar claro que as benesses setoriais ou dirigidas a formar “campeões” saíram de cena, liberando os escassos recursos públicos para que, com transparência e aferição de resultados, sejam aplicados em áreas prioritárias de fato, como as políticas sociais e o desenvolvimento tecnológico.
Proteção setorial, subsídios e desonerações são como remédios com tarja preta, necessários para a saúde, desde que com uso restrito e com acompanhamento clínico para não criar dependência nem sequelas indesejáveis. Na economia, o que é excepcional, quando tratado como prática habitual, degenera a iniciativa empresarial, levando ao que se quer combater: o baixo crescimento econômico e a concentração da renda.
Além disso, a insistência nesse tipo de políticas traz outro efeito nocivo, pois nos alija das redes de produção global e, portanto, dos ciclos de desenvolvimento tecnológico que têm lugar ao redor do mundo.
Assim, é prioritário focar políticas horizontais, voltadas a apoiar as novas tecnologias, as soluções aos desafios da sustentabilidade, a inserção internacional da economia, como já faz o grupo de empresas que dão orgulho ao Brasil, ao contrário daquelas que congestionam os corredores de Brasília.
A agenda da tecnologia, da qualidade dos serviços públicos, da inovação competitiva e da eficiência produtiva grita para ser ouvida, e não podemos mais continuar surdas para ela. O risco será enorme.
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Em artigo publicado na Folha, o ministro Mauro Borges volta a defender a ideia de que o Brasil não necessita de mais abertura comercial e que o multilateralismo é o caminho para maior inserção do país na economia global. Pois bem, a CNI mostra que o deficit brasileiro de manufaturados cresceu 150% nos últimos sete anos, revelando nossa baixa integração às cadeias produtivas mundiais.
Ao mesmo tempo, como admite o próprio diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, o multilateralismo vive uma crise sem precedentes e não gera os resultados esperados.
O Brasil precisa se inserir mais no comércio mundial e se aproximar dos grandes centros econômicos por meio de acordos bilaterais. O próximo governo terá de abordar esses temas e agir o quanto antes.
Fonte: Folha