BRUNO VILLAS BÔAS
A produção industrial do país manteve a tendência de retração e caiu 0,8% em março frente ao mês anterior, na série livre de influências sazonais. Foi a maior queda nessa comparação para meses de março desde 2006.
De janeiro para fevereiro, a indústria já havia recuado 1,3% – pelo dado revisado. Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na manhã desta quarta-feira (6).
O número de março veio próximo do esperado. O centro (mediana) da expectativa de projeções ouvidas em pesquisa da agência internacional Bloomberg era de que a produção caísse 0,7% em março sobre o mês anterior.
Quando comparado ao mesmo mesmo mês do ano passado, o setor registrou uma retração de 3,5%. Essa foi a décima terceira queda consecutiva nessa base de comparação, a maior já vista da série histórica do IBGE, iniciada em janeiro de 2002.
QUEDA DE 4,7% EM 12 MESES
No acumulados dos últimos 12 meses até março, a produção industrial brasileira teve queda de 4,7% – a maior nesse tipo de comparação desde janeiro de 2010, que foi de 4,8%.
Segundo André Macedo, gerente de Coordenação de Indústria do IBGE, o setor manteve em março uma tendência de baixa que bem sendo percebida desde setembro do ano passado.
“A indústria teve um perda importante de setembro para cá, de 5,1%, e com um comportamento de queda amplamente disseminado [de redução da produção]”, disse Macedo.
O fraco desempenho é explicado pela baixa confiança dos empresários e dos consumidores, a desaceleração da demanda doméstica, estoques ainda elevados e um mercado internacional ainda pouco favorável.
Para enfrentar esse quadro, uma parcela da indústria tem realizado cortes de funcionários, férias coletivas, adiando decisões e tomadas de investimentos.
SETORES
A indústria mostrou na passagem de fevereiro para março não só um menor ritmo de produção, mas uma crise cada vez mais disseminada. As quatro categorias econômicas tiveram retração, assim como 14 dos 24 ramos pesquisados.
De fevereiro para março, as perdas de maior peso para a indústria ficaram com os setores de equipamentos de informática (-4,1%), fumo (-3,6%) e veículos automotores (-2,9%). Os ramos são afetados pela redução do consumo e do crédito.
Entre as atividades, a produção de bens de capital (como máquina e equipamentos usados para produzir produtos) teve queda de 4,4% de fevereiro para março. A produção de bens de consumo duráveis (que inclui automóveis e linha branca) recuou 15,8% no mesmo intervalo.
Com esse desempenho, a indústria operava em março 11,2% abaixo do pico histórico de produção, atingido em junho de 2012.
PERSPECTIVAS
Os números mostram também que a indústria começou o ano com desempenho pior do que no início de 2014. No primeiro trimestre deste ano, a queda acumulada foi de 5,9%. No ano passado, a alta foi de 0,6%.
Segundo economistas, a indústria terá mais um ano de queda de produção. Rafael Bacciotti, economista da Tendências,diz que com estoques elevados e demanda em baixa, a produção tem vai ter fôlego para retomar o crescimento.
Fonte: Folha