Por Eduardo Campos e Edna Simão BRASÍLIA
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar 2015 em 9%, abrandar para 4,8% em 2016 e chegar a 4,5% ao fim do segundo trimestre de 2017. Essa é a trajetória da inflação no cenário de referência do Banco Central (BC), que considera a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e câmbio de R$ 3,10 ao longo do período analisado.
As projeções estão no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que tem data de corte em 12 de junho, e corroboram a tese defendida pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, de que, apesar de elevada no curto prazo, a inflação tende a cair para próximo de 4,5% até o fim de 2016. Para o próximo ano, a projeção é de uma alta de 4,8% no IPCA, ligeiramente abaixo da taxa contemplada no relatório anterior, de março, de 4,9%. Esse movimento é gradual, com inflação em 6,7% no primeiro trimestre de 2016, em 5,4% no segundo e em 5% no terceiro.
Sem surpresa, as projeções para 2015 tiveram piora em comparação com o documento divulgado no fim de março, quando o prognóstico era de um aumento de 7,9% para o IPCA no fim 2015. O pico da inflação no ano deve acontecer no terceiro trimestre, em 9,3%.
É a primeira vez que o BC apresenta a projeção de inflação para o segundo trimestre de 2017, de 4,5%. Para o primeiro trimestre daquele ano, o prognóstico ficou estável em 4,7%. No cenário de mercado, a inflação pelo IPCA deve desacelerar de 9,1% no fim de 2015 para 5,1% no fim de 2016, marcando a 4,8% no encerramento do segundo trimestre de 2017. Em março, nesse cenário, as projeções eram de avanço de 7,9% no fim de 2015, recuando para 5,1% no fim de 2016.
O BC considerou, na ocasião, que as projeções dos agentes econômicos indicavam uma taxa de câmbio média de R$ 3,09 no último trimestre de 2015, valor que agora é visto em R$ 3,19. Para 2016, a taxa média prevista saiu de R$ 3,11 para R$ 3,30. Para 2017, a projeção de câmbio passou de R$ 3,10 a R$ 3,40.
Em relação aos juros básicos, o cenário de mercado adota Selic média de 14% ao ano no último trimestre deste ano, contra 13% no relatório anterior. Para 2016, as expectativas consideradas levam em conta Selic média de 12%, contra 11,50% do relatório de março. Para 2017, as expectativas se deslocaram de 11,50% para 12% ao ano.
Segundo o Relatório de Inflação mais recente, a probabilidade de o IPCA estourar o teto da meta de 6,5% é de 99% em 2015 e de 11% em 2016. No relatório anterior, a probabilidade de não cumprimento da meta era de 90% em 2015 e de 12% em 2016. Pelo regime de metas para a inflação, o BC tem de perseguir uma inflação de 4,5%, mas conta um uma banda de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O estouro da meta acontece quanto o IPCA encerra o ano acima de 6,5%, o que obriga o presidente do BC a escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando os motivos que levaram ao não cumprimento da meta. No caso do cenário de mercado, a probabilidade de o IPCA estourar o teto da meta é de 99% neste ano.
Em 2016, a chance é de 15%. Antes, essa probabilidade era de 89% e de 15%, respectivamente. Vigilância O Comitê de Política Monetária (Copom) reiterou a mensagem de que a política monetária deve manterse vigiante e que os avanços alcançados no combate à inflação ainda não se mostram suficientes.
Os comentários no Relatório Trimestral de Inflação repetem a ata da reunião de junho. O documento também reafirma a “determinação e perseverança” do colegiado presidido por Tombini em atuar para impedir que a inflação elevada no curto prazo se transmita para prazos mais longos.
Os ajustes de preços relativos, diz o documento, “fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015, necessitando determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos”. O colegiado reforça que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem decorrentes, para circunscrevê-los a 2015. O BC também repetiu os fatores que leva em consideração para a tomada de decisões futuras. “O Copom avalia que a demanda agregada tende a se apresentar moderada no horizonte relevante para a política monetária.
De um lado, o consumo das famílias tende a se estabilizar, devido a fatores como emprego, renda e crédito; de outro, o financiamento imobiliário, a concessão de serviços públicos e a ampliação da renda agrícola, entre outros, tendem a favorecer os investimentos. Por sua vez, as exportações devem ser beneficiadas pelo cenário de maior crescimento de importantes parceiros comerciais e pela depreciação do real”, avalia.
Fonte: Valor