Por Carla Simões, Raymond Colitt e André Soliani BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff vai terminar o seu mandato, proteger a nota de crédito brasileira, e o país não está fora do controle, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em entrevista nesta quinta-feira à agência Bloomberg em Brasília. O comentário veio no mesmo dia em que cresceu o número de parlamentares que articula o fim do governo e quando a popularidade da presidente está em um nível recorde de baixa. “É obvio e ululante” que Dilma terminará o mandato. “Não vejo razão e nem benefício no impeachment.
Temos um plano e estamos fazendo progressos a cada dia.” O comentário do ministro foi feito após o dólar bater R$ 3,57 com um nova derrota do governo na Câmara, após a saída do PDT e PTB da base aliada e após a divulgação de pesquisa Datafolha mostrando que a reprovação a Dilma subiu para 71%, a maior já registrada pelo instituto.
O dólar encerrou o dia a R$ 3,536, mantendo o nível mais alto em 12 anos. O PMDB avalia como retirar Dilma do cargo por meios constitucionais, disse um dos principais nomes do partido sob a condição de anonimato. Um terço dos deputados do PMDB na Câmara defende a abertura de um processo de impeachment, afirmou o deputado Darcisio Perondi (PMDBRS).
Ainda assim, Levy não aparentava tensão. Interrompeu a entrevista algumas vezes para atender ligações telefônicas, inclusive da presidente Dilma convidando-o para acompanha-la em uma visita à Roraima. Ao mesmo tempo, mascava aipo porque, segundo ele, tem fibra e faz bem à saúde. Sobre derrotas do governo no Congresso que podem comprometer o ajuste fiscal, como a aprovação em primeiro turno da proposta de emenda constitucional que eleva os salários das carreiras da Advocacia Geral da União, delegados e procuradores, Levy disse que é preciso tempo para os congressistas “entenderem a nova realidade” “O Congresso tem o ritmo dele”, disse. “Fui a algumas reuniões.
Eles estão tentando entender o novo mundo. Tem que dar um tempinho para entender, principalmente a Câmara. Nem todo mundo pensa em economia o tempo todo”. Rebaixamento Para Levy, “o país não está fora de controle” e é descabido pensar na perda do grau de investimento. “Temos ferramentas para evitar o downgrade”, disse o ministro. “E acho que é descabido todo mundo ficar aceitando como absolutamente normal ter rebaixamento.” Acrescentou que o governo está “tomando as medidas que tem que tomar. Não só na área fiscal, que todo mundo se encanta, como em outras áreas.”
A S&P reduziu perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para negativa em 28 de julho, citando “circunstâncias políticas e econômicas desafiadoras”. O Brasil está apenas um degrau acima do rating especulativo. “Se houver rebaixamento, você acha que seria bom para o mercado financeiro? O mercado passaria por uma contração colossal”, disse Levy. Desde que assumiu o Ministério da Fazenda, em janeiro, Levy elevou impostos e cortou subsídios e despesas discricionárias da União.
Ele quer reverter o déficit primário das contas públicas e conter a inflação, numa tentativa de fortalecer a confiança dos investidores. Questão fiscal Após o governo reduzir a meta de superávit primário do setor público de 1,1% do PIB em 2015 para 0,15%, no mês passado, Levy pede cuidado com área tributária e fala em abrir a economia para o mercado externo. “Temos uma questão fiscal que a gente tem que encarar de frente”, disse ele. “Tem um trabalho duro na área de gasto. A gente tem que ter certo cuidado com a carga tributária.
Houve uma erosão mas tem que atacar de forma inteligente. Tem que tomar medidas para adequar a economia à nova realidade.” Ele disse novamente que a redução da meta não significa que o ajuste acabou. “Ao contrário. A gente tem que fazer mais ajuste”. “Ficam me perguntando quando eu vou ter boas notícias.
Eu sei lá quando vou ter boas notícias,” disse ele. “Não adianta ficar discutindo agenda do pós-ajuste.” Ele comentou, contudo, que o governo está trabalhando em uma proposta que vai além do ajuste fiscal, focando em medidas que podem contribuir com o crescimento, como melhorias na infraestrutura. “Nossa experiência nos últimos 30 anos tem sido de progresso. Quando passamos por uma crise, tendemos a sair dela mais fortes.”
Fonte: Valor