Por Tatiane Bortolozi, do Valor Econômico
Para contornar a alta do dólar, algumas empresas de higiene e cosméticos substituem embalagens, outras reforçam a negociação com fornecedores ou repassam parte do custo maior aos preços. O aumento de exportações e a abertura de lojas em outros países também ajudam a compensar a pressão da moeda estrangeira sobre os gastos com insumos.
A variação do câmbio afeta de forma diferente cada segmento da indústria. Fabricantes de produtos para cabelos têm uma ampla base industrival de fornecedores no Brasil, enquanto os cosméticos têm 80% das matérias-primas importadas e as fragrâncias, 60%, compara João Carlos Basilio, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfurmaria e Cosméticos (Abihpec).
A Natura afirma que o impacto da desvalorização do real nos custos tem sido parcialmente compensado pela maior representatividade das operações internacionais. A empresa tem lojas da marca australiana Aesop fora do Brasil. As receitas no exterior subiram de 18% no segundo trimestre de 2014 para 27% em igual período deste ano, enquanto as vendas domésticas caíram 4,6%. A maior fabricante de cosméticos do país praticou dois reajustes de preço no ano, de 3,7% em fevereiro e 2,5% em junho, citando como um dos motivos a alta da divisa americana.
A Hypermarcas implementou reajustes de 6% a 8% no segundo trimestre e, em julho, fazia aumentos de acordo com a categoria, considerando o dólar a R$3,10. Em teleconferência sobre os resultados do fim de julho, Claudio Bergamo, presidente da companhia, disse que se a divisa americana chegasse a R$3,40, poderiam vir mais repasses. O dólar era cotado a R$3,58 na sexta-feira, com valorização de 34,7% em relação ao real desde o início de 2015.
A mineira L’acqua di Fiori enfrentava dificuldades alguns meses atrás para importar as tampas dos perfumes Inizzio e as embalagens da linha V’olgere, marcas tradicionais do portfólio. Para evitar o desabastecimento, criou uma edição limitada dos produtos em embalagens nacionais, que devem permanecer nas prateleiras até o fim do ano.
A companhia fez também parcerias com fornecedores, comprando formatos-padrão de embalagens ou desenvolvendo novos moldes e depois de algum tempo partilhando-os, para reduzir custos.
No Grupo Boticário, dono da maior rede de franquias de produtos de beleza do país, algumas matérias-primas são importadas e outros inusmos, comprados de parceiros locais, são cotados em dólar.
“Nem sempre é possível a troca de produtos importados por nacionais, seja por tecnologia, disponibilidade desses itens no Brasil ou até mesmo pelo tempo e custo que uma troca de fornecedor poderia acarretar”, disse o presidente Artur Grynbaum. A companhia foca suas ações na negociação com fornecedores em busca de eficiência operacional e para obter as melhores condições de compra. “A troca de embalagens ou de fornecedores não é uma medida rápida que se justifique pela oscilação do custo do câmbio”, afirmou.
O Grupo Boticário tem baixa exposição líquida ao câmbio. Ainda assim, 66% do total diretamente afetado tem proteção cambial e a parcela do custo de produço sem hedge é inferior a 3%, de acordo com a companhia.
Para tirar proveito da escalada do dólar, mais empresas buscam exportar. O projeto Beautycare Brazil, parceria da Abihpec com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex – Brasil), iniciou o ano com 58 empresas. A meta de alcançar 65 participantes até dezembro foi atingida ainda no primeiro semestre.
“Tem um monte de gente na fila. São empresas sem experiência em exportar, que querem aprender”, disse Basílio. Mesmo no programa, obter resultados leva tempo. “É uma experiência que dura anos”. A desvalorização do real eleva a competitividade fora do país, mas algumas dificuldades ainda são sentidas pelas exportadoras, como a adaptação a regras internacionais, a formação de contratos em importadores e o enfraquecimento da credibilidade política do Brasil, disse Basilio.
Texto extraído de: http://www.valor.com.br/empresas/4202124/marcas-de-cosmeticos-tentam-driblar-dolar