EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
As projeções para a economia brasileira pioraram com as dificuldades crescentes do governo em relação ao compromisso de melhorar as contas públicas no próximo ano.
Economistas consultados semanalmente pelo Banco Central estimam que o PIB brasileiro terá queda de 0,50% em 2016. Até semana passada, os cálculos apontavam uma retração de 0,40%.
O cenário para 2015 também é ruim: um tombo de 2,44%, ante a queda de 2,26% estimada há uma semana.
No caso dos índices de preços, os economistas ouvidos na pesquisa Focus pioraram suas previsões para os próximos anos. Para 2016, o BC promete colocar o IPCA em 4,5%, mas o mercado espera 5,6%. Para o ano seguinte, a projeção já esteve em 4,5%, mas subiu para 4,7%.
PRESSÃO NOS PREÇOS
As dúvidas sobre a trajetória da inflação crescem porque, em seus comunicados, o BC tem dito que, para conter os preços, conta com a melhora nas contas públicas, o que pode não ocorrer.
Os cortes de gastos, segundo o BC, provocariam retração na demanda do governo, que responde por cerca de 20% do consumo total. O efeito dessa política sobre emprego e salários levaria à redução no gasto das famílias e no custo da produção, o que contribui para segurar a inflação.
Mas, segundo o BC, esse efeito é defasado. A instituição calcula que um aumento de um ponto percentual no superavit (resultado de cortes nos gastos) começa a ter efeitos significativos sobre a inflação depois de um ano.
O impacto máximo ocorre dois anos após o aumento do superavit primário e é de cerca de 0,30 ponto de redução no IPCA naquele momento.
Se o governo mantiver o esforço, o benefício pode se estender por um período de, no mínimo, quatro anos.
Outra forma para se obter o mesmo resultado, seria aumentar ainda mais a taxa básica de juros, hoje em 14,25% ao ano, para compensar a falta de controle orçamentário.
O superavit maior, porém, ajuda a reduzir a dívida pública, quanto o aumento dos juros, por outro lado, contribui para sua elevação.
AJUSTE SOB RISCO
Fazenda e Planejamento, no entanto, encaminharam ao Congresso propostas que admitem a possibilidade de fechar 2015 e 2016 no vermelho. Nesta semana, pela primeira vez, a pesquisa Focus mostra expectativa de deficit fiscal em 2015 (-0,1% do PIB).
A meta do governo é um superavit de 0,15%, mas a Fazenda já informou que pode realizar um abatimento, o que levaria a um resultado negativo de 0,3%.
Para 2016, a proposta do Orçamento traz um deficit de 0,5%, apesar de parte do governo ainda defender que se faça um superavit de 0,7%. Na pesquisa, a projeção é um resultado positivo de 0,2%.
O ministro Joaquim Levy (Fazenda) afirmou na segunda-feira (7) que, se o governo não conseguir reequilibrar a proposta orçamentária de 2016, eliminando o deficit de R$ 30,5 bilhões previsto, a retração econômica no Brasil será mais forte e a inflação continuará bem acima da meta perseguida pelo BC (leia mais sobre as negociações do ajuste fiscal em “Poder”).
A incerteza em relação ao futuro do governo e de sua equipe econômica também contribuiu para a alta do dólar, outro fator que tem pressionado os índices de preços.
Fonte: Folha