Repelente, sem dúvida!

Como se sabe, o verão aumenta muito o risco de doenças como dengue, zika e chikungunya. Por isso, nesta época é fundamental redobrar o combate a focos de água parada, que favorecem a reprodução do mosquito que transmite essas doenças, e utilizar uma das armas mais poderosas e eficientes para se proteger delas: os repelentes. “A temperatura elevada acelera o ciclo de vida do Aedes aegypti, aumentando sua proliferação”, explica Paolo Zanotto, virologista e professor de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Para piorar, as chuvas, que se intensificam nessa época do ano, fazem crescer a quantidade de criadouros do inseto, que precisa de água parada para se reproduzir”.

Em 2016, a situação atingiu níveis alarmantes, com mais de 1,4 milhão de casos de dengue, que provocaram 590 mortes; 260 mil casos de chikungunya, número oito vezes maior do que em 2015; e 210 mil casos de zika, cuja infecção em gestantes foi apontada como a principal causa para o nascimento de 10 mil bebês com microcefalia ao longo do ano. A doença, que compromete o desenvolvimento do cérebro e reduz o tamanho do crânio, causa prejuízos tão graves ao desenvolvimento das crianças que fez a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificar o vírus zika como emergência internacional de saúde pública, colocando a doença em um nível similar ao do ebola.

A seguir, confira as recomendações da OMS, do professor Paolo Zanotto, da USP, e de outras duas especialistas no assunto, a dermatologista Carla Vidal e a cosmetóloga Sônia Corazza, de São Paulo, para prevenir esses males. Elas afastam o mosquito da dengue e outros insetos que se alimentam de sangue humano, incluindo pernilongos, borrachudos e espécies que também causam doenças graves, como febre amarela e malária.

Recomendações da OMS

Além de não deixar água parada acumulada, a OMS recomenda usar roupas que cubram a maior parte do corpo (de preferência em cores claras), se proteger com telas nas janelas, manter portas fechadas, dormir sob a proteção de mosquiteiros e aplicar repelente de insetos sobre a pele.

Repelente salva-vidas

Segundo o professor Zanotto, o Aedes aegypti é um inseto antropofílico, isto é, precisa de sangue para se reproduzir. O mosquito consegue identificar odores por meio das antenas e sente-se especialmente atraído pelo nosso suor, além de outros cheiros corporais. Os repelentes atuam nesse mecanismo e desorientam os insetos, que acabam não encontrando a gente.

O ingrediente ativo certo

Não é qualquer repelente que serve na hora de se proteger do transmissor da dengue, zika e chikungunya. A orientação da OMS e também da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é que o produto contenha alguns dos seguintes ingredientes ativos: DEET (DiethylToluamide), IR3535 ou icaridina. Sônia Corazza esclarece que esses componentes possuem eficácia comprovada em testes complexos e apresentam maior segurança toxicológica.

Cuidado com repelentes caseiros

Vale lembrar que os repelentes caseiros não são recomendados para substituir os que são produzidos pela indústria, que possuem registro na Anvisa e têm sua eficácia testada. “Receitas preparadas em casa podem deixar as pessoas expostas aos perigos da picada do Aedes aegypti”, diz a médica dermatologista Carla Vidal. Atualmente, no Brasil, há mais de 120 produtos registrados, o que revela que o mercado nacional está preparado para ajudar no combate dessas doenças graves.

Gel, creme ou spray?

Os três tipos são eficientes, portanto, depende basicamente do gosto de cada pessoa. Quem tem pele oleosa geralmente prefere repelente em gel; o creme é op- ção mais usada em crianças e também em quem tem pele seca; sprays, incluindo aerossol, são mais práticos e podem ser passados inclusive sobre a roupa. Eles também costumam ser os preferidos por homens muito peludos.

O horário e a frequência de aplicação

O repelente tópico deve ser usado por toda área de pele exposta e reaplicado de acordo com o tempo indicado na embalagem do produto – normalmente, a cada duas horas. Manter-se protegido constantemente é necessário, de acordo com o professor Zanotto, da USP: “Apesar do horário de maior atividade do Aedes aegypti ser durante a manhã e ao entardecer, por volta das 18h, os mosquitos picam também fora desses horários, inclusive à noite”. Outra recomendação é não passar o produto na palma das mãos, especialmente nos menores, que costumam colocá-las na boca.

O uso por gestantes, bebês e crianças

A Anvisa não vê restrições no uso de repelentes por gestantes. No entanto, recomenda-se durante a gravidez e a amamentação, consultar um médico sobre a utilização do produto. A Federação Brasileira das Associa- ções de Ginecologia e Obstetrícia(Febrasgo) orientaque o repelente sejaaplicado em toda área exposta da pele e sobre os demais cremes habitualmente utilizados pela grávida. Para crianças com até dois anos, por terem maior absorção pela pele e pela respiração, o uso deve ser controlado e sob orientaçãomé- dica. “O DEET não deve ser usado nessafaixa etária. O ideal é usar os produtos que contenham icaridina e, em vez de aplicar na pele, passar o produto somente na roupa, antes de vestir”, ensina a dermatologista CarlaVidal.Os pequenos entre 2 e 12 anos podemfazer uso do DEET, desde que a substância esteja em concentração de até 10%, e não sejam ultrapassadas três aplicações diárias.Outrasmedidas recomendadas no caso das crianças é o uso demosquiteiros e telas nas janelas, além de roupas cobrindo todo o corpo e de tonalidade clara, pois os mosquitos são fotossensíveis e preferem cores escuras.

Quem está doente também deve usar

O virologista e professor da USP faz um aviso importante: “Quem está com dengue, zika ou chikungunya também deve usar repelente na pele para evitar novas transmissões”. Segundo Zanotto, o mosquito que pica um doente acaba levando o vírus para outras pessoas, inclusive na mesma casa. “É uma responsabilidade de quem foi infectado”, diz.

 

Fonte: Estadão/ABIHPEC

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