Estudo aponta seis tendências de sustentabilidade com oportunidades para pequenos negócios

Por Vanessa Brito, do Sebrae MT

Um novo Estudo de Tendências de Sustentabilidade para Pequenos Negócios está acessível para empreendedores e empresários de pequenos negócios no portal do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS)): www.sustentabilidade.sebrae.com.br Ele foi elaborado pelo jornalista, consultor em sustentabilidade empresarial e presidente da Ideia Sustentável, Ricardo Voltolini, encomendado pelo Centro.

Nesta nova edição, o estudo apresenta uma síntese com 6 tendências, a partir de estudos realizados em 2013 e 2014, quando foram publicadas 12 e 8 tendências, respectivamente. Elas são resultado de pesquisas, consultas e entrevistas realizadas junto a 70 especialistas nacionais e internacionais, 25 líderes empresariais e 35 livros, papers e conferências.

“Este estudo foi uma revisão dos estudos anteriores, que envolveu cinco consultores. Chegamos a estas seis tendências, que de alguma forma vão impactar os pequenos negócios. Elas são bastante oportunas e vão gerar oportunidades múltiplas para os pequenos negócios e empreendedores”, afirmou Voltoliini.

Foram consultadas mais de 80 fontes, entre elas, outros estudos sobre ecoinovação e empreendedorismo, informou. A apresentação do Estudo de Tendências 2018 ocorreu durante a primeira reunião do Comitê de Especialistas do CSS, realizada em 5/4 na sede do Centro em Cuiabá.

“Estas tendências de mercado podem ajudar o empresário a tomar decisões, mas é importante ressaltar que não representam previsões exatas do futuro. São possibilidades”, explicou Voltolini. Ele sugere aos empresários e empreendedores: analisar as empresas apresentadas nos casos de cada tendência; observar seu público-alvo (se está sendo impactado por alguma das tendências); e caso tenha observado que será positiva para sua marca e clientes, pensar sobre como vai oferecer ao mercado e quais mudanças terá de fazer para atendê-la.

As seis tendências são: Empreendedorismo como propósito; Diversidade como vantagem competitiva; Inovação e tecnologia em favor de negócios mais sustentáveis; Economia colaborativa como fonte de crescimento; Economia circular como oportunidade de negócio; Cidades sustentáveis, ambientes para o empreendedorismo.

1 – Empreendedorismo como propósito

As empresas de propósito são criadas por profissionais de diversas idades e áreas que se retiram do setor corporativo devido ao cansaço de negócios convencionais e desejo de trabalhar em ambientes menos hierárquicos e mais abertos a novas ideias.

Essas pessoas resolvem criar empresas e empreendimentos que correspondem às suas crenças e valores, segundo Voltolini. O objetivo delas é contribuir com soluções para os desafios da insustentabilidade da sociedade e do planeta, assim como para as questões socioambientais, sem visar apenas lucro. Nesse terreno, nascem os negócios de impacto social e ambiental.

No estudo estão citados os casos das empresas: ColOff; Urban 3D; Rede Mulher Empreendedora. Há, ainda, informações sobre: novas formas de financiamento; os gaps socioambientais às soluções empresariais; 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030; Lucro admirado; geração Millenials.

2 – Diversidade como vantagem competitiva

Segmentos específicos da sociedade, até há pouco tempo marginalizados e não contemplados com produtos e serviços por grandes companhias, representam oportunidade para empreendedores como alternativa profissional. Integram estes segmentos: o público LGBT; a população negra; pessoas com deficiência.

O mercado LGBT representa cerca de R$ 150 bilhões, de acordo com Out Leadership, associação internacional de organizações privadas voltadas a iniciativas para o público gay, que pode chegar a R$ 418 milhões bilhões, equivalente a 10% do PIB nacional. A população negra deve movimentar mais de R$ 1 trilhão na economia, até o final de 2017.

Os empreendedores desses segmentos são muitas vezes ligados aos quadros de grandes empresas, que ainda não definiram sua política de diversidade. Eles criam seus próprios negócios para atuar nesses nichos.

Metade dos proprietários de negócios no Brasil, o equivalente a 23,5 milhões de empreendedores se declararam pretos ou pardos, de acordo com a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio (PNAD) de 2013. Este número é 6% maior do que o registrado em 2003, pela mesma pesquisa.

Exemplos citados no estudo: Xongani, loja de roupas e acessórios com tecidos de padrão moçambicano; Makeda Cosméticos, produtos para cabelos crespos e cacheados; e Feita Preta, maior evento de empreendedorismo negro da América Latina, que movimenta R$ 4 milhões, há 16 anos.

No setor de turismo, o público gay gera R$ 3 trilhões/ano em viagens. A MCD Travel atua nesse segmento, organizando viagens e eventos para os melhores destinos gay friendly, garantindo atendimento adequado nos hotéis e segurança nas regiões visitadas.

A Bombons Finos da Amazônia é outro caso apresentado, pois comercializa balas e doces feitos com ingredientes frutas e frutos regionais, como a castanha e o cupuaçu. As embalagens são feitas por artesãos locais, nas quais são ilustradas barbos e canoas indígenas, entre outros.

A agência Turismo Adaptado, criada por Ricardo Shimosakai, atende o público cadeirante. Ele próprio é cadeirante e enxergou a oportunidade de negócio ao se tornar deficiente. “Uma pessoa com deficiência está mais apta a desenvolver produtos e serviços que atendam às necessidades desse público”, diz o estudo.

3 – Inovação e Tecnologia em favor de negócios mais sustentáveis

As mudanças climáticas e o desafio de preservar a continuidade da vida no planeta estimulam o surgimento de empreendimentos criadores de soluções disruptivas, livres de emissões de gases de efeito estufa, produtos à base de matérias-primas limpas e renováveis e com tecnologias digitais. Enquanto as grandes companhias têm mais dificuldades de se adequarem às grandes mudanças, com agilidade, os pequenos negócios podem inovar radicalmente os métodos produtivos e satisfazer às novas necessidades humanas mais rapidamente.

O nicho que esta tendência cria já está sendo enxergado por micro e pequenas empresas atuantes em negócios voltados à construção de um futuro sustentável. São negócios inovadores para um mundo novo, segundo o estudo.

Entre temas e empresas se destacam nesta tendência: a das coisas; empresa Newatt; start upbrasileira Agrosmart; nanotecnologia; empresa Nanovetores.

O estudo destaca outros aspectos e empreendimentos atuantes em mais segmentos desta tendência: na contramão da obsolescência programada; biotecnologia; consumidores verdes; legados socioambientais; engajamento do consumidor; inovação em energia solar .

4– Economia colaborativa como fonte de crescimento

A propriedade vem sendo preterida em favor do acesso – esta frase resume a força da colaboração, essência desta tendência, que está se fortalecendo na sociedade e empresas. Novos modelos de negócios, a criação de espaços de compartilhamento de ideias e projetos (coworkings), a organização de conteúdos na internet em plataformas digitais, etc, facilitam a troca de serviços e produtos.

A economia criativa deve movimentar US$ 335 bilhões em 2025, segundo projeções da consultoria PwC de 2016, especialmente nos setores: hospedagem, compartilhamento de veículos, transações financeiras peer-to-peer e plataformas de streaming de música e vídeo.

A empresa Tem Açúcar?, fundada por Camila Carvalho, é citada como exemplo. Trata-se de uma plataforma que permite o compartilhamento de itens domésticos entre vizinhos (furadeira, liquidificador, barraca de camping, etc). O empreendimento conta com 45 mil seguidores em sua página do Facebook e é financiado coletivamente.

Outros aspectos e empresas citados nesta tendência: caso da Escola Chave do Saber de Cuiabá; concorrência colaborativa; Sustainable Apparel Coalition; Redes digitais e negócios; colaboração sustentável.

5 – Economia circular como oportunidade de negócio

A economia circular está ganhando espaço no mercado brasileiro, especialmente porque busca eliminar e ou reduzir a geração de resíduos ao longo das cadeias produtivas. Apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) ainda não ter avançado no país, este conceito significa oportunidades para micro e pequenas empresas. Já há demandas e tecnologias no país para transformar materiais descartados em matéria-prima e em serviços de logística e armazenamento desses materiais.

As etapas da economia circular são: extração de recursos; processamento do material; fabricação; uso; gestão de resíduos, que podem retornar a um novo ciclo produtivo via reutilização, remanufaturação ou reciclagem.

Os três setores considerados pelo levantamento ‘Uma Economia Circular no Brasil: Uma abordagem exploratória inicial’ da Ellen Mac Arthur Foundation, divulgado em janeiro de 2017, para a transição a uma economia circular são: agricultura e ativos da biodiversidade; edifícios e construção; e equipamentos eletroeletrônicos.

Exemplos citados no estudo: a start up Nossa Casa Planejada; a Recicladora Urbana; Lepri Cerâmicas Rústicas; a ferramenta Avaliação de Ciclo de Vida (ACV); Carbon Disclosure Project (CDP) e Forest Stewardship Council (FSC); e ecoeficiência.

6 – Cidades sustentáveis, ambientes para o empreendedorismo

Esta tendência está relacionada com o ODS 11 da Agenda 2030: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Este Objetivo de Desenvolvimento Sustentável tem como meta a habitação, transporte, organização, patrimônio cultural e natural, catástrofes naturais e sociais, espaços públicos, mudanças climáticas e apoio a países menos desenvolvidos.

É preciso promover transformações ao criar negócios de modo a conciliar o lucro e o bem coletivo. O estudo diz que as micro e pequenas empresas são ágeis para realizar transformações.

O estudo cita como exemplos: o Programa Cidades Sustentáveis, iniciativa da Rede Nossa São Paulo, Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e Instituto Ethos; Programa Vivenda, empreendimento que fez da adversidade uma oportunidade ao reformar moradias populares a preços acessíveis, a partir de parcerias com instituições financeiras, materiais de construção e apoio de investidores; Pé de Feijão, negócio social que atua na criação de hortas urbanas (em telhados de prédios e lajes de casas), oficinas de educação alimentar, monitorando os impactos sociais e ambientais das atividades; empresa Organoeste, que transforma material orgânico recebido de indústrias e fazendas da região em adubo.

Avanços na legislação são apontados no trabalho: Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, o Programa Resíduos Sólidos e o Financiamento a Projetos de Eficiência Energética (Proesco).

A bioeconomia é indicada como conceito que pode apresentar respostas e soluções de grandes desafios tais como: a produção sustentável de alimentos; alternativas energéticas limpas; e uso da engenharia genérica para criar novos produtos para a saúde.

Os pequenos negócios estão atentos a esses nichos, principalmente nos setores de alimentos e bebidas, energia, higiene e cosméticos, construção e moda, segundo dados do Sebrae. A instituição investirá R$ 10,4 milhões em projetos de negócios relacionados à bioeconomia na Região Norte e no Distrito Federal.

O setor de bioeconomia já movimenta cerca de €$2 trilhões no mercado mundial e gera em torno de 22 milhões de empregos. A estratégia europeia nesse setor se concentra em conciliar as demandas de agricultura sustentável, pesca, segurança alimentar e uso sustentável de recursos biológicos renováveis para fins industriais, preservando a biodiversidade e a proteção ambiental. O documento Estratégia Europeia para a Bioeconomia foi lançada em fevereiro de 2012.

Fonte: Plurale 

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