“O papel social da empresa e da sociedade não é só usar o laço rosa, é sim fazer um Outubro Rosa de esperança, de perspectiva, de cura, de bem viver”

Carine Cidade é coach profissional e consultora na área de trabalho, carreira e liderança. Ela criou a organização Rede Inspire Ser, que além de outros apoios, ajuda mulheres no enfrentamento ao câncer

Carine Cidade é coach profissional e consultora na área de trabalho, carreira e liderança. Empreendedora, idealizadora e fundadora da Rede Inspire Ser – Mulher, Trabalho e Câncer. Ela também atua como voluntária no Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), em ações para grupos de mulheres após o câncer, participante do projeto De Bem Com Você, coordenado pelo Instituto ABIHPEC, apoiando a ação do Good Look Feel Better.

Pense em uma mulher “de fibra”, que agrega gente para empreender projetos inovadores, troca experiências profissionais com parceiros e nunca desiste diante de obstáculos? Carine Cidade, que conversou com Claudia Correia entre um compromisso profissional e um momento de atenção ao filho, é assim. Ela é a nossa personagem de hoje. Carine vive inspirada em criar soluções de impacto positivo para pessoas e empresas investirem no desenvolvimento pessoal e profissional. Confira! [Áudio disponível no final]

Caderno de Notícias – Você tem uma história de vida marcada pela superação, tanto no enfrentamento dos desafios para conciliar a vida profissional com as responsabilidades familiares como na vivência com o câncer de mama. Que aspectos positivos favoreceram esse processo até você chegar onde está?

Carine Cidade – Claudia, na verdade, a superação já está dizendo, a gente tem de ser mulher. Geralmente a gente precisa fazer superações, grandes ações, para que a gente possa sobreviver. Então, os desafios cotidianos fazem parte de nossa vida e a gente precisa encontrar equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Fazer o que gosta, estar com quem a gente gosta, sentir prazer ao acordar e fazer coisas que possam realmente fazerem sentido no mundo. Esse é dos grandes propósitos meus: inspirar pessoas para cada dia que eu acordo, a gente possa fazer um mundo melhor. O câncer veio para também me alertar a pensar um pouco mais em mim, e não só nessa transformação do outro, para o mundo, enfim. Então, ele abre um alerta, da gente também pensar muito mais na gente. Quando eu tive um câncer de mama, foi um câncer que teve origem em um estresse que eu tive com meu pai, pelo câncer dele. Estresse que eu digo, a preocupação, foram três anos passando por isso. A partir disso, o meu câncer foi desenvolvido, por todo esse sofrimento. Eu aprendi que a gente pode sim lutar contra o câncer, a gente pode seguir em frente e atuar onde a gente quiser. Nós somos e podemos sim fazer superações em nossa vida.

Como surgiu a ideia de criar a Rede Inspire Ser e quais seus principais frutos?

A Rede Inspire Ser nasceu em 2017. Eu já era coach e consultora há mais de 15 anos atuando na área de Recursos Humanos e uma vez eu atendi uma pessoa com bastante dúvida em se recolocar no trabalho, após um câncer de mama. Eu fiquei surpresa achando que isso era uma coisa pontual, mas depois eu fui descobrir, através da médica Luciana Landeiro, que tinha feito uma pesquisa de doutorado a respeito da reinserção de mulheres no mercado de trabalho após o câncer, e ela me disse que aproximadamente dois anos é o prazo que as mulheres possam se recolocar no mercado de trabalho após o câncer, por diversos fatores: vergonha, achando que é incapaz de voltar ao mercado, e aí devido ao braço pode também causar essa inabilidade de fazer trabalhos braçais, enfim. A partir disso, eu fui ouvir mulheres, nessa perspectiva de reintegração ao mercado de trabalho e também comecei a pesquisar com os meus colegas de trabalho de RH como era isso. E aí formou-se o grupo Inspire Ser, para inspirar mulheres a se recolocarem no mercado de trabalho, e depois do livro que a gente fez no grupo Inspire Ser, de histórias de superação de dez mulheres, a gente seguiu com a Rede Inspire Ser que é uma rede de infinitas possibilidades onde a gente oferece serviços e produtos em prol da causa ‘mulher, trabalho e câncer’. Nós somos uma empresa e decidimos ser uma empresa porque nós queremos inovar, queremos criar e queremos ter autonomia para que a gente possa ajudar mais instituições em prol do câncer.

Parte do nosso faturamento, que a gente tem dos nossos serviços, é revertido para instituições em prol da causa. Então a gente sempre ajuda uma causa, ou uma instituição em prol do câncer. Esse ano a gente fez diversas ações, os principais frutos foram uma jornada Mulher, Trabalho e Câncer para mulheres que estavam passando ou passaram pelo câncer. A gente ajudou o Projeto Sacura com dez empreendedoras que estavam tendo dificuldade de vender na pandemia, junto com “Sebrae Delas”, que é um grande parceiro. A gente desenvolver essas mulheres para formar empreendedoras sacura onde elas podem divulgar, aprender a como comercializar, aprender como serem empreendedoras apesar do câncer. A gente também ajudou o Além da Cura, que é um projeto belíssimo, sobre contação de histórias de mulheres no mundo, de câncer. A gente também ajudou a Unamama que é uma instituição também do câncer de mama. Salientando que a Inspire Ser não é para o câncer de mama, mas de câncer em geral, mas o câncer que mais atinge as mulheres é o câncer de mama. E, além disso, a gente disponibiliza para o mercado, cursos, workshops, diversos eventos que possam sim ajudar essas mulheres a se reintegrar no mercado de trabalho, como também para as empresas, para que possam acolher da melhor forma essas mulheres.

Só complementando, Inspire Ser não é só para mulheres, é para rede de apoio e principalmente também para empresas e RH’s que não sabem lidar com a causa.

“O que mais a pessoa com câncer demanda é seu autoconhecimento, é saber lidar com tudo isso”.

O câncer ainda é uma doença estigmatizada e traz muitas consequências psicossociais para as mulheres. A partir de sua experiência, o que elas mais demandam ao conviverem com a doença?

O câncer ainda é uma doença estigmatizada, tem pessoas que não falam o nome da doença, que não querem saber sobre o câncer porque ficam com medo dessa doença. Mas, graças a Deus a gente já está tendo muito bons indicadores, o Inca mostra isso, as pesquisas, a medicina está mostrando bons indicadores de sobrevivência de pessoas com câncer. Sendo que, para isso, a pessoa precisa diagnosticar o mais cedo possível, então é bom sempre ter os exames em dia. Na minha experiência, o que mais a pessoa com câncer demanda é o seu autoconhecimento, é saber lidar com isso. Tudo que vem para gente, desconhecido, a gente realmente tende a ficar com medo, porque a gente não sabe como lidar. O câncer muitas vezes vem para alertar. O que eu estou fazendo comigo? O que eu estou fazendo com o meu corpo? O que eu estou fazendo com a minha vida? Elas demandam muito essa colaboração, essa socialização com todos e que estão em seu entorno. Então existe uma demanda psicológica, existe uma demanda física, porque algumas delas perdem alguns movimentos, ou são limitadas de alguma forma, então tem uma demanda física também que é de fisioterapia, que é de tratamentos talvez como acupuntura, enfim. E também tem uma demanda muito grande que a gente descobriu no Inspire Ser que é se reintegrar no mercado de trabalho porque muitas descobrem que não fazem mais parte daquele contexto de trabalho, que aquele trabalho talvez foi a causa do adoecimento desta pessoa, que elas gostariam de realizar um sonho vendo que a finitude é possível. Claro que nós todos temos as finitudes, porque ela chegou no limiar. Toda vez que a gente chega no limiar da nossa vida a gente vê que a gente precisa fazer alguma coisa para que ela tenha sentido. Então, elas encontram sentido através dessa nova perspectiva. Muitas delas querem se reencontrar no trabalho, ter trabalhos significativos, que façam a diferença, que se sintam bem, e reintegração no mercado de trabalho faz com que tanto as mulheres como a rede de apoio, possam sim acreditar na continuidade da vida após o câncer.

Qual a sua avaliação quanto a eficácia da Campanha do Outubro Rosa, especialmente nesse contexto de Pandemia da Covid 19?

O Outubro Rosa é super necessário, é uma campanha, uma data, aliás é um mês que é dedicado a gente falar da prevenção do câncer de mama e falar especificamente de como a gente pode se precaver sobre essa doença. Acredito que o Outubro Rosa tem de ser o ano todo falado, porque o câncer não vem só em um mês, ele vem em qualquer momento. Mas, o que eu acredito, o que eu vejo, é que as empresas e as pessoas elas precisam efetivamente ajudar o Outubro Rosa. Não apenas usar um laço, ou uma camisa rosa, mas efetivamente o que uma instituição está precisando, o que eu posso fazer para uma pessoa, e ajudar efetivamente essa pessoa a entender o que é o câncer de mama, quem é que eu posso convidar para talvez dar uma palestra dentro da minha empresa e as pessoas entenderem o que é isso. Nesse contexto de pandemia o Inspire Ser deu muitas palestras, muitas avaliações e eu vejo que é importantíssimo as pessoas entenderem que quanto mais elas puderem ter tempo de se prevenirem contra o câncer, melhor. Não terem medo de fazer os exames, não terem medo de ir a médicos. A gente teve um momento muito significativo de pessoas com câncer nessa pandemia porque elas ficaram com medo de ir à hospitais, fazerem suas consultas. Então, não tenham medo disso. Eu acho que o papel social tanto da empresa, quanto da sociedade em si não é só usar o laço rosa, é sim fazer um Outubro Rosa, um outubro com essa cor maravilhosa, de esperança, de perspectiva, de cura, de bem viver e de muitas outras coisas. Eu acho que faltam ações efetivas, eu fiz isso, eu impactei uma mulher com câncer, eu sei mais sobre o câncer de mama, eu posso ajudar uma pessoa com câncer de mama, porque eu sei, agora entendo o que é essa doença. Esse é o principal legado do Outubro Rosa.

Sem uma rede de apoio solidária e com serviços bem estruturados é muito difícil para as mulheres vencerem os desafios impostos por qualquer doença impactante como o câncer. Qual o papel da família e do Estado nessa situação?

O papel da família e do Estado nessa situação é sim formar uma rede de suporte, de colaboração para essas pessoas com câncer. A família tem um papel fundamental de entender o que é essa doença porque alguns ainda não sabem como lidar e vão precisar de ajuda para ajudar o próximo. Por isso que a Rede Inspire Ser tanto fala que a rede de apoio é essencial que ela se cuide também, para cuidar do outro. A família tem um papel fundamental porque é sistêmico isso. O câncer não vem só para um, vem para várias pessoas. O papel do Estado é apoiar as ações, para dar mais agilidade ao tratamento de câncer, agilidade aos medicamentos, agilidade aos exames, para que essas pessoas possam se curar mais rápido e ter todo o suporte, tanto no tratamento como pós-tratamento, porque ainda tem medicamentos que precisam ser tomados, enfim. Então eu acho que o Estado precisa ser um grande aliado nas ações contra o câncer e também ser um grande aliado de apoiar pessoas na Medicina Suplementar que são os planos de saúde.

“Se cuidem, tenham em mente que a gente pode sim fazer superações em nossas vidas”.

Que mensagem você deixa para a sociedade e em especial para as mulheres diante do cenário que vivemos?

Minha mensagem para essa mulher que a gente está vivendo nesse admirável mundo novo é que as pessoas possam investir mais no autodesenvolvimento individual, se conhecer mais, ver o que elas estão falando, como elas estão se comportando, tanto com elas como com os outros, prestar atenção mais no seu corpo, no que ele fala, consumir coisas mais saudáveis, porque o mundo precisa de coisas mais saudáveis, não só o consumo de alimentos mas, de coisas, do que você vê, do que lê, do que você escuta, estar com pessoas que realmente tragam boas esperanças e a não negatividade para sua vida. Porque tudo tem seu jeito, tudo tem uma solução. A gente está num mundo que a gente pode se inspirar a ser um novo ser humano para o outro e para você mesmo. Então, se cuidem, tenham em mente que a gente pode sim fazer superações nas nossas vidas, mas que também não somos mulheres maravilha, nós temos nossos momentos de vulnerabilidade, precisamos olhar para esses momentos de vulnerabilidade como um aprendizado, para que a gente possa seguir a vida, inspirando e transpirando muitas coisas boas. Esse é o meu desejo para todas as mulheres que estejam passando por isso, porque vai passar e a gente vai aprender muito com o câncer.

Fonte: Caderno de Notícias

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