De plástico a papelão, falta de matéria-prima compromete produção e pressiona preços; supermercado faz apelo para que clientes usem as próprias sacolas
Estão faltando sacolinhas nos supermercados, e algumas redes já pedem aos clientes que levem de casa sacolas retornáveis ou usem caixas de papelão para embalar as compras. O problema é que também está faltando papelão, assim como vidro, plástico e várias outras matérias-primas. O desabastecimento, que começou junto com a pandemia, está cada vez mais grave, e a dificuldade de comprar insumos já atinge pelo menos sete a cada dez indústrias do Brasil. Em outubro, 68% do setor estava com dificuldade para comprar matéria-prima. Em novembro, o índice subiu para 75%, segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI).
O gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explica que houve um descompasso entre oferta e demanda. “Quando a pandemia começou, muitas indústrias pararam ou reduziram a produção. Todos acreditavam que a recuperação seria mais lenta. Felizmente ela veio rápido. Só que, no momento em que as indústrias procuraram os fornecedores para reposição, eles também estavam com os estoques baixos”, explica o economista.
Desde o início de novembro, a rede de supermercados Epa está trabalhando com sacolas brancas, sem a logomarca da empresa, devido à dificuldade de comprar o produto, e está espalhando comunicados nas lojas pedindo a colaboração dos clientes. “Conseguimos fazer uma compra emergencial, com preços muito mais caros. Mas, atualmente, só estamos conseguindo de 20% a 30% do volume de sacolinhas que precisamos”, afirma o diretor da rede, Roberto Gosende.
A presidente do Sindicato da Indústria do Material Plástico do Estado de Minas Gerais (Simplast-MG), Ivana Braga, explica que, com a pandemia, houve retração de produção de resina plástica no mundo todo. “Essa produção ainda não foi retomada para o abastecimento do mercado. Atrelado a isso, aqui no Brasil temos um único fornecedor, que é a Braskem, e ela tem uma política de distribuição que está afetando bastante a indústria brasileira, que também fica à mercê do câmbio, pois não tem condições de importar pelo dólar alto e pela morosidade dos procedimentos aduaneiros”, destaca.
Por meio de nota, a Braskem ressalta que o mercado de resinas é internacional, regido pelo princípio legal da livre concorrência. Lembra ainda que os competidores internacionais reduziram a produção e não acompanharam o crescimento da demanda brasileira no seu atendimento.
Segundo a empresa, a forte recuperação brasileira no terceiro trimestre fez com que a Braskem atingisse recorde histórico de venda de resinas no mercado interno em agosto e o ultrapassasse com novo recorde em setembro”, afirma a nota.
A pesquisa da CNI indica que 47% das indústrias esperam que a situação se normalize no primeiro trimestre do ano que vem. “A expectativa é que a produção industrial continue elevada, mas a demanda caia um pouco, o que é normal nos primeiros meses do ano. Dessa forma, será possível normalizar os estoques”, avalia o gerente de análise econômica da CNI.
Fábricas de papel higiênico em crise
O papel higiênico e outros descartáveis, como lenços de papel, estão no meio da caótica situação da indústria, que não consegue equilibrar a alta nos preços dos insumos e a rejeição do varejo ao reajuste no valor do produto. Apesar do cenário, não há, por agora, risco de faltar papel higiênico nas prateleiras, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). É real, no entanto, a preocupação com a falência de pequenos fabricantes e de que estes sejam engolidos por indústrias maiores, como esclarece João Carlos Basílio, presidente executivo da entidade.
Citam-se, inicialmente, elevações nos preços de aparas de papel como consequência do incremento de 31% no valor da celulose, principal matéria-prima, até novembro. Foram detectados ainda acréscimos nos custos do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) e em materiais para embalagens – como caixas de papelão, com alta no preço próxima de 10%, e maculaturas (fontes para fabricação do rolo contido no papel higiênico), com alta de 7,5%. Procurada, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) não retornou até o fechamento desta edição.
Custo alto
De acordo com a presidente do Simplast-MG, Ivana Braga, o custo das resinas plásticas subiu entre 45% e 50%. “É inviável repassar tudo”, destaca. Segundo o diretor do Sindipeças, Fábio Sacioto, com reflexos da redução da oferta e do câmbio, o custo das matérias-primas subiu entre 20% e 30%.
Fonte: O Tempo