Se a crise europeia voltar a piorar, o Brasil poderá ter uma perda de cerca de dois pontos percentuais no seu crescimento econômico, mostram projeções do FMI, divulgadas no seu Relatório de Estabilidade Financeira Global. Os cálculos tomam como premissa uma deterioração na crise europeia que leve a uma fuga de capital semelhante à ocorrida na quebra do banco Lehman Brothers, de 2008. Entre os emergentes, o Brasil seria particularmente atingido porque recebeu fortes fluxos de investimentos nos últimos anos. No relatório, o FMI simula três desfechos hipotéticos para a crise europeia. Num deles, as respostas dos governos seguem no ritmo atual, levando a uma desalavancagem no sistema bancário calculada em R$ 2,6 trilhões e uma contração de 1,7% no volume de crédito. Num cenário mais otimista, os governos tomam medidas mais firmes para fortalecer os seus sistemas bancários, suas contas públicas e para ampliar sua capacidade de crescimento econômico. Num cenário pessimista, os governos se mostram incapazes de implementar as soluções já negociadas, desencadeando forte deterioração no mercado financeiro. Esse cenário mais pessimista teria impactos severos nas economias emergentes. Uma simulação pressupõe que, por causa do estresse no mercado, todos os fluxos de capitais que entraram nas economias emergentes de 2009 a 2011 sejam repatriados em apenas um trimestre – algo semelhante ao que ocorreu na crise do Lehman Brothers. Sob esse cenário, o crédito nos países emergentes poderia cair entre 2% e 4%, e o crescimento do PIB poderia se desacelerar entre 1,5 ponto percentual e 2 pontos percentuais. “Para um país como o Brasil, que recebeu um grande volume de capitais estrangeiros nesse período [2009 a 2011], o impacto no crescimento poderia ser da ordem de dois pontos percentuais, apesar de o volume de reservas [internacionais] ser suficiente para cobrir as necessidades de financiamento de curto e de médio prazos”, afirma o relatório do FMI. O Fundo alerta também que hoje algumas economias emergentes – como o Brasil – tem menos margem de manobra para usar políticas de crédito como um instrumento anticíclico para reanimar a economia, em caso de uma nova crise de grandes proporções. O relatório afirma que o Brasil exibiu um crescimento da ordem de 20% anuais no seu volume de crédito de 2008 a 2011, em parte devido ao uso de bancos públicos, como o BNDES. “O aumento contínuo dos balaços dos bancos públicos e privados já levou a um aumento nos índices de inadimplência”, afirma o relatório. “Nessas circunstâncias, o espaço para usar o canal de crédito para combater choques talvez esteja limitado.” No relatório, o FMI reconhece que, desde fins do ano passado, a situação na Europa melhorou, em virtude de medidas tomadas pelos governos. Mas o Fundo alerta que “os riscos de uma outra crise continuam ainda muito presentes e poderiam afetar tanto economias avançadas e emergentes”. (Fonte: Valor Econômico)