A falta de investimentos públicos no setor de logística – portos, aeroportos, rodovias e ferrovias – já provoca perdas da ordem de US$ 80 bilhões ao ano às empresas brasileiras, segundo cálculos feitos pelo coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Rezende. O valor corresponde a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e é idêntico ao volume que o país precisa investir para acabar com os gargalos do setor.Para Rezende, essa perda reflete diretamente a limitação de novos negócios, já que não há canais suficientes para escoar a produção. Ao lembrar que os aportes nesse sentido estão estagnados em 1,5% do PIB ao longo dos últimos 30 anos, Rezende aponta que esse resultado negativo está em fase de evolução, pois os governantes brasileiros tomam ações reativas, ou seja, de curto prazo. “Temos falta de projetos, planejamento e demora na execução das obras”, dispara. Ele destaca a morosidade nacional ao comparar obras chinesas com as brasileiras. Enquanto que a China construiu em três anos e meio 2 mil km de ferrovia em região montanhosa, por aqui a ampliação do corredor ferroviário Norte e Sul – com 2,2 mil km e que contempla a Transnordestina e a Ferronorte – esperado desde 2010, não tem prazo de entrega.O custo logístico é outro agravante apontado por Rezende que tende a manter suas projeções pessimistas. No Brasil, os gastos dos empresários com transporte de cargas chega a 12% do PIB, muito acima do que observado em outros países. Na China e na África do Sul, ele é de apenas 8% e 9%, respectivamente. “Nesses países a projeção é de queda para algo em torno de 7% do PIB. Resultado que não se pode esperar do Brasil, já que observamos a evolução do agronegócio seguido pela alta dos gargalos em suas fronteiras”, desabafa, estimando que este valor possa atingir por aqui 20% do PIB nos próximos anos. Os reflexos da perda de competitividade, segundo Rezende, são sentidos na redução da capacidade de produção da indústria, que sofrem aumento no seu custo operacional, e na redução de renda per capita do produtor que é ligado ao agronegócio. “Às vezes utilizar o modal hidroviário é muito mais vantajoso, mas sua limitação faz com que o escoamento da produção seja desviado para outro, elevando os custos, que chegam a atingir 30%. Sobra cada vez menos dinheiro para investimentos”, critica o pesquisador.Ainda de acordo com Rezende a infraestrutura no Brasil está sujeita ao calendário eleitoral e não ao desenvolvimento. Por isso, sugere que seja criado um marco regulatório principalmente para o modal ferroviário. “Isso já existe em outros países, que fazem uso dele para blindar seus projetos”, argumenta.Segundo projeções do BNDES, dentro de quatro anos, a atual malha ferroviária de carga será expandida para 40 mil km – hoje ela está com 28.614 mil km.Para isso, a instituição vai investir recursos da ordem de R$ 30 bilhões até 2015. “Além desse montante, haverá aportes das concessionárias”, explica o gerente do departamento de logística do banco, Dalmo Marquetti. Quanto ao investimento no setor logístico, eles devem somar R$ 121 bilhões, em igual período. (Fonte: Brasil Econômico)