Valor Econômico – 23/03/2012
O comércio brasileiro com a Argentina deve sofrer outra retração neste mês, depois do represamento das importações daquele país em fevereiro, decorrentes da criação da Declaração Jurada de Antecipação de Importações (DJAI).
Segundo um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que foi divulgado ontem pelo presidente da entidade, Paulo Skaf, o atraso na liberação das declarações pelo governo argentino, que afetava 20% do total das operações em fevereiro, atinge 50%, de acordo com uma pesquisa com os exportadores, encerrada no dia 20. Potencialmente, de acordo com o mesmo estudo, poderá atingir 65% até o fim do mês.
Skaf tinha encontros programados ontem na capital argentina, mas a sua visita foi cancelada em função da reunião que a presidente Dilma Rousseff manteve com um grupo de empresários brasileiros, em Brasília, e da qual ele tomou parte.
As vendas do Brasil para a Argentina caíram 6% em fevereiro, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ficando em US$ 2,296 bilhões em fevereiro, ante US$ 2,492 bilhões no mesmo mês no ano passado. Mas caso se exclua a importação argentina de energia, o total cai 17%, indo para US$ 1,35 bilhão, em comparação com US$ 1,618 bilhão registrado em fevereiro do ano passado.
De acordo com o levantamento da Fiesp, o atraso na liberação das, que passam pelo aval da Secretaria de Comércio Interior da Argentina, generalizou o problema vivido por muitos exportadores que tiveram mercadorias retidas pela demora na concessão de licenças não automáticas. Entre 2008 e o ano passado, segundo a entidade, a quantidade de produtos brasileiros que passaram a depender de licenças para entrar na Argentina passou de 53 para 576, ou de 1,2% para 21,7% do total.
De acordo com o levantamento da Fiesp, o maior atraso na concessão de licenças é de 500 dias. A entidade também registra o aumento de certificados sanitários pendentes. No setor de alimentos, existem atualmente 70 pendências, sendo que o maior atraso é de 330 dias.
As exportações de autopeças, vestuário, calçados, linha branca, medicamentos, cosméticos e perfumes são as mais atingidas pela demora na concessão das declarações juradas.
O atraso nas licenças não automáticas afeta também o setor de pneus, móveis de madeira, fio de cobre, de parafusos e de condensadores.