Por Luiz Guilherme Gerbelli
Os grandes acordos comerciais ao redor do mundo fizeram ressurgir a discussão sobre o rumo da política externa brasileira, segundo avaliação de especialistas. “O debate estava esquecido e, de alguma forma, esses grandes acordos trouxeram-no de volta”, disse Lia Valls Pereira, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O Brasil precisa decidir qual é a sua estratégia de comércio exterior”, disse ela ontem, durante uma mesa redonda no Instituto Fernando Henrique Cardoso sobre os desafios da economia brasileira diante do surgimento de mega acordos.
Diversos países e blocos econômicos têm buscado acordos multilaterais sem a participação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em fevereiro deste ano, a União Europeia e os Estados Unidos anunciaram o início de uma negociação para criar a maior área de livre comércio do mundo. Já o Brasil tem ficado para trás – as conversas entre o Mercosul e a União Europeia para um acordo, por exemplo, não saem do lugar há mais de uma década.
Para Lia, nos últimos anos, uma das grandes apostas do governo brasileiro foi na integração da América do Sul, mas avançou-se “muito na retórica e pouco na consolidação efetiva dessa integração”. “Agora, temos uma América do Sul muito fragmentada”, disse.
Na avaliação do diretor-geral da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Ricardo Markwald, há uma sensação de isolamento e de que o País perdeu oportunidades. Ele produziu um trabalho que comparou o desempenho do comércio exterior do Brasil com os demais integrantes do grupo Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul – e com outros seis países: México, Coreia, Indonésia, Turquia, Austrália e Chile.
“Sem nenhuma surpresa, a economia brasileira apareceu como a mais fechada de todas as analisadas”, disse. No total, foram pesquisados 25 indiciadores, como o número de acordos comerciais de cada nação, por exemplo. “O Brasil se destaca como o país mais desconectado das cadeias de valor e por ter acordos comerciais menos profundos” , afirmou.
O diretor da Funcex também alertou para a baixa importância nas negociações internacionais que a economia brasileira assumiu para diversos países da região. “No caso da Colômbia, Chile e Peru, o Brasil aparece entre quarto e o nono lugar como um mercado de exportação”, disse Markwald. “Relações exteriores e política externa não costumam ser temas muito debatidos nas eleições, mas pode ser que esse tema tenha alguma relevância na eleição de 2014.”
A agenda de integração nacional também foi pouco favorecida por causa da política adotada pelo governo nos últimos anos, de proteção industrial. “Existe um diagnóstico de repensar a política comercial e industrial brasileira. É uma discussão que está apenas começando, mas pode criar um debate importante”, afirmou Sandra Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes).
Nos últimos anos, a indústria aponta o aumento de custo, causado, entre outros motivos, pelo aumento do custo da mão de obra, como um dos entraves, para a perda de competitividade.