A recuperação lá ainda é tímida, mas nem por isso a economia da União Europeia perdeu seu status, e mantém-se entre as principais do planeta, juntamente com as de Estados Unidos, China e Japão. Não há no mundo experiência de integração tão profunda e bem-sucedida como a da UE. Partindo no anos 1950 de um acordo restrito a dois produtos (carvão e aço) e a apenas cinco países, a União Europeia congrega hoje quase todos os países do continente. Mesmo com os que estão de fora, a UE firmou ou busca entendimento para liberalização comercial. Uma moeda única, o euro, prevalece na maior parte desse mercado; não fosse esse escudo, economias mais fragilizadas teriam sucumbido à crise financeira internacional dos últimos anos.
O comércio exterior é uma das forças motrizes dessa integração.
Com a eliminação das barreiras entre seus integrantes, era natural que a União Europeia estivesse mais preocupada com a entrada de novos participantes ou candidatos a futuros membros. No entanto, a crise financeira fez com que a UE passasse a dar mais atenção a possíveis acordos de livre comércio com outras economias. É grande a expectativa quanto ao que poderá advir de um acordo entre a UE e os Estados Unidos, em fase adiantada de negociação.
O Mercosul e a União Europeia também abriram negociações, há cerca de 10 anos, para um acordo de livre comércio, que pouco avançaram, em face de problemas internos no bloco, especialmente na Argentina. Porém, um dos objetivos que motivaram a formação do Mercosul era exatamente o desenvolvimento de musculatura, por meio da união aduaneira, para que as economias do continente se capacitassem a conquistar terceiros mercados.
A união aduaneira multiplicou o comércio entre os países do Cone Sul, mas a integração proposta não atingiu o estágio desejado. Com isso, interesses distintos dos países membros do Mercosul dificultam o avanço de negociações com outros blocos. Em seu conjunto, a União Europeia ainda é o maior parceiro comercial do Brasil, daí o interesse brasileiro nesse acordo. No entanto, como um dos pilares do Mercosul é a tarifa externa comum, tais acordos somente são possíveis em bloco, e não isoladamente.
Em reunião do conselho do Mercosul que deverá ocorrer amanhã na capital venezuelana (Caracas), o Brasil, anuncia-se, defenderá a retomada das negociações por etapas. Fará o certo. A Argentina, às voltas com uma crise cambial (para evitar que as reservas cambiais minguem ainda mais, o governo argentino tende a ser mais protecionista) entraria em um segundo estágio das negociações. O mesmo deve valer para a Venezuela, também enrascada numa crise econômica. Não se pode esperar até que os dois se recuperem para se tentar um acordo com a UE. Já se perdeu tempo demais nesta negociação.
Fonte: O Globo (30/01)