O que mais prejudicou o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre, na avaliação de Luís Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, foi a redução das exportações para a Argentina. “Se não fosse por isso, o PIB poderia ter crescido 0,4 ponto percentual mais, chegando a 0,8% frente ao primeiro trimestre”, calcula. Leal lembra que desde a intensificação de medidas protecionistas da Argentina, as exportações do Brasil para o vizinho recuaram cerca de 40%. “Essa é uma das explicações para o enfraquecimento da nossa indústria”, pontua. Dentre os setores industriais que se destacam pelo recuo das vendas externas, comenta Leal, estão o de máquinas e equipamentos e o de veículos automotores. “São exatamente esses os setores que mais exportam para a Argentina.”Entre o primeiro e o segundo trimestre, as exportações brasileiras recuaram 3,9%, de acordo com dados do IBGE. Leal acredita que o impacto da redução das vendas para a Argentina não desaparecerá nos próximos trimestres, mas a tendência é de acomodação. “Parte dos automóveis que não foram vendidos para a Argentina, por exemplo, será desovada no mercado interno. A renovação do corte no IPI ajudará nesse sentido.” Na avaliação do sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, a queda de 3,9% nas exportações brasileiras no segundo trimestre indica que as condições da economia mundial estão afetando com mais força o comércio exterior brasileiro. De abril a junho, o preço das commodities, com exceção da soja e do milho, teve uma queda mais acentuada do que no início do ano. Além disso, a desaceleração chinesa, o baixo crescimento dos Estados Unidos e a crise na União Europeia, que já estavam afetando o resultado das exportações desde o ano passado, começaram também a impactar mais substancialmente a economia de um mercado em que os produtos brasileiros contam com presença relevante: a América Latina. “Os latinos começaram a perder o fôlego, assim como houve piora nas condições das economias mais desenvolvidas. E isso foi captado pelo nosso setor externo. O ponto principal é que esse cenário vai persistir”, afirma. Na contramão das vendas ao exterior, as importações apresentaram alta de 1,9% no segundo trimestre, ante contração de 0,4% no primeiro trimestre. Esse resultado é reflexo das medidas de estímulo do governo tomadas neste ano, que atuaram com mais força na demanda doméstica. “Queda dos juros, desonerações, aumento dos gastos dos bancos públicos, tudo isso está surtindo efeito, mas o setor externo não vai melhorar no terceiro trimestre. Até o fim do ano a exportação vai continuar empurrando para baixo o desempenho da atividade econômica”, diz. O crescimento de 0,4% do PIB divulgado hoje estava dentro do esperado pela consultoria. De acordo com Silveira, o resultado não vai provocar grande alteração na sua projeção do indicador para este ano, que é de alta de 1,5%. (Fonte: Valor Econômico)