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Por Lucas Marchesini BRASÍLIA
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) espera para este ano a maior retração do Produto Interno Bruto (PIB) desde o plano Collor, em 1990. O “Informe Conjuntural”, que contém as estimativas do setor para as principais variáveis macroeconômicas, divulgado nesta quinta-feira, traz a previsão de uma queda de 2,9% no PIB do Brasil em 2015. “É uma avaliação mais negativa do que já tínhamos em julho”, disse o gerenteexecutivo de Política Econômica da CNI, Flavio Castelo Branco.
Na última edição do estudo, divulgada no início de julho deste ano, a expectativa era de uma queda de 1,6% no PIB. “A recessão está sendo mais intensa do que era esperado”, disse o economista. “O setor industrial é o que mais se recente dessa recessão. Ela se manifesta com mais intensidade no setor industrial porque ele é mais sensível às condições de competitividade”, afirmou Castelo Branco. A nova projeção da CNI é de uma queda de 6,1% no PIB industrial. Em julho, a CNI esperava uma retração de 3,8%.
Esse movimento deve ser puxado por uma forte queda nos investimentos. A projeção da CNI para a formação bruta de capital fixo prevê um recuo de 13,4% na variável, ante estimativa anterior de queda de 7,7%. “A retração de investimentos reflete a falta de horizonte e baixa confiança da indústria”, disse Castelo Branco. O quadro recessivo deve levar a taxa de desemprego dos 4,8% apurados em 2014 para 6,9% da população economicamente ativa no fim deste ano.
Antes, a CNI previa que o desemprego fechasse o ano em 6,7%. Sobre a inflação, a avaliação da entidade patronal é que ela “deve beirar os dois dígitos, bem acima do teto da meta, de 6,5%”, disse o economista. A previsão da CNI é que ela deve terminar o ano em 9,6%. A projeção anterior era de 8,9%. Para reverter o quadro negativo, “é absolutamente necessário a consecução de um ajuste fiscal”, apontou Castelo Branco. A expectativa da entidade patronal é que o setor público tenha um déficit primário de 0,05% do PIB, ante expectativa anterior de superávit de 0,4% do PIB. “O equilíbrio das contas públicas é essencial para o crescimento”, disse. E para ele, este equilíbrio é “um pouco mais amplo do que a discussão de superávit primário em 2015 e 2016. É preciso ir além, pensar em ajuste fiscal de longo prazo, o que implica a revisão de critério e mecanismos que determinam o crescimento automático de despesas que nós temos”.
Esses mecanismos, apontou ele, são aqueles vinculados ao reajuste do salário mínimo, como os benefícios previdenciários, que são gastos obrigatórios e só podem ser cortados com alterações legais, muitas delas na constituição. “Se não atacar os gastos obrigatórios, o ajuste fiscal não vai ocorrer”, disse ele.
O lado positivo do “Informe Conjuntural” é a estimativa de melhora na balança comercial, cujo saldo deve ser de US$ 10 bilhões em 2015, estima a CNI. Antes, a previsão era de US$ 5 bilhões. Contudo, o saldo só deve melhorar por conta de uma retração maior nas importações do que nas exportações. “Isso se deve à própria fraqueza da economia e devemos rever esse quadro para que a contribuição do setor externo seja realmente positiva”, avaliou Castelo Branco.
A CNI prevê que as vendas para o exterior sejam de US$ 188 bilhões neste ano (ante previsão anterior de US$ 202 bilhões) enquanto as importações devem ser de US$ 178 bilhões. No “Informe Conjuntural” anterior, a expectativa era de importações de US$ 197 bilhões. Em 2014, as exportações foram de US$ 225,1 bilhões e as importações de US$ 229 bilhões.
Fonte: Valor
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