Métodos alternativos ao uso de animais são debatidos em evento de inovação da ABIHPEC

Testes com pele 3D e ensaios in vitro com células humanas são alternativas cada vez mais incorporadas pela indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

Responsável pela entrega de produtos seguros e eficientes na proteção da saúde da população, o setor de cuidados pessoais vem evoluindo suas metodologias de produção por meio de iniciativas que colocam a indústria brasileira na vanguarda mundial da inovação. Uma amostra desse processo foi apresentada durante o workshop “Métodos Alternativos ao uso de animais”, realizado pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), no dia 4 de novembro, em São Paulo.

No evento, empresas do setor puderam obter informações sobre como utilizar os métodos alternativos para compor dossiês de segurança de seus produtos, por meio de discussões motivadas pela aplicação de uma norma do CONCEA (Conselho de Nacional de Experimentação Animal), que, aprovada em 2014, estabeleceu o prazo de cinco anos para fabricantes e laboratórios se adaptarem às novas regras que diminuem ou substituem o uso de animais em pesquisas e experimentos. A norma entrou em vigor em setembro deste ano.

“A orientação pela não utilização de testes em animais vem sendo acompanhada de maneira crescente pelos fabricantes do setor de HPPC brasileiro, mas também precisamos debater esses temas junto aos órgãos competentes para que as regulações sejam aprimoradas. Conversas de alto nível, como as que tivemos nesse workshop, mostram que a nossa indústria tem total vocação para inovar”, afirmou João Carlos Basilio, presidente-executivo da ABIHPEC.

A exemplo dos métodos alternativos que já vêm sendo aplicados no setor, a diretora-executiva do Instituto Harris, Maria Inês Harris, mostrou como os ensaios in vitro com células humanas podem contribuir com a avaliação de segurança e eficácia de cosméticos. A gerente científica da diretoria de inovação da Natura, Kellen Fabíola, falou sobre o uso de testes in vitro para mensuração da fototoxicidade de matérias-primas, trazendo para o debate o envolvimento de participantes humanos nos experimentos e as questões éticas que isso envolve.

No período da tarde, Rodrigo De Vecchi, CEO da Episkin Brasil Biotecnologia, apresentou a possibilidade do uso de pele humana reproduzida em 3D para os testes alternativos. Segundo ele, a inovação proporciona vantagens como resultados quantitativos seguros, alta reprodutibilidade e padronização, além de ser uma metodologia simples, ágil e de baixo custo. Já a professora da Universidade Federal de Goiás, Carolina Horta Andrade, relatou o status atual das avaliações de métodos in silico e como eles podem ser aplicadas na segurança de novos ingredientes.

 

Participação de órgãos federais

Na parte final do evento, representantes de órgãos federais atentos à questão da validação de métodos alternativos também contribuíram com o debate. Thiago de Mello Moraes, coordenador geral de saúde e biotecnologia no Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), reconheceu a importância do evento e seu objetivo. “Debater questões como essas junto a um setor tão importante é de extrema relevância para impulsionarmos a inovação”, afirmou.

Silvya Stuchi, representante dos laboratórios associados à Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA), ressaltou a importância da norma do Concea para desenvolvimento dos métodos alternativos. “Isso representa uma evolução da indústria nacional, pois as novas metodologias são ainda mais preditivas do que as tradicionais. A expectativa é que com isso tenhamos produtos de melhor qualidade”.

Para Itamar de Falco Junior, gerente de Produto de Higiene, Perfumes, Cosméticos e Saneantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o evento foi importante para elevar a discussão sobre testes de produtos. “Questões técnicas precisam ser discutidas, pois o que está em jogo é a eficácia dos produtos e, mais do que tudo, a segurança do consumidor e sua saúde”, disse.

Já Antônio Anax, membro do Conselho de Nacional de Experimentação Animal (CONCEA), destacou o setor de HPPC como impulsionador do desenvolvimento de métodos alternativos ao uso de animais. “Realmente esse setor tem sido uma referência no investimento em pesquisas e inovações com essa finalidade”.

Para finalizar as atividades do dia, todos eles participaram de uma mesa-redonda mediada por Márcio Lorencini, gerente de avaliação de produtos e assuntos regulatórios do Grupo Boticário. Entre os temas abordados estiveram a aceitação regulatória de métodos alternativos e as perspectivas de suas aplicações no mercado brasileiro.

 

Grupo de Trabalho de Métodos Alternativos

O departamento de Assuntos Regulatórios da ABIHPEC, gerido por Renata Amaral, é responsável pela coordenação do Grupo de Trabalho de Métodos Alternativos, que tem como proposta consolidar e defender o posicionamento da entidade, além de disseminar conhecimento e apoiar a implementação das metodologias alternativas validadas ao uso de animais.

Atualmente participam do GT 47 empresas associadas, que representam cerca de 90% do faturamento do setor de HPPC. Este Grupo conta, também, com o apoio do departamento de Inovação da entidade, responsável pela realização deste Workshop.

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