Artigo Boletim Sustentabilidade – FIESP
* Por João Carlos Basilio
Diversos temas relacionados aos três pilares da sustentabilidade têm ganhado cada vez mais relevância no mundo e estão gerando significativas transformações na sociedade. Apesar de o chamado “triple bottom line” já estar integrado às estratégias de negócios das empresas do setor higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), ainda são muitos os desafios a serem superados para garantir o sucesso das ações de âmbito social, ambiental e econômico.
Em relação à logística reversa das embalagens pós-consumo, por exemplo, o setor de HPPC tem o programa de responsabilidade socioambiental “Dê a Mão para o Futuro – Reciclagem, Trabalho e Renda”, criado em 2006 pela ABIHPEC como uma alternativa viável para as suas associadas no atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2018, a iniciativa recuperou e encaminhou para reciclagem aproximadamente 117 mil toneladas de embalagens pós-consumo, e apoiou, por meio de investimentos, 144 cooperativas, localizadas em 91 municípios de 14 estados, e 4.700 mil catadores.
Apesar de o programa ser um case de sucesso ao unir ações que viabilizem a reciclagem e criar oportunidades para a melhoria das condições de trabalho, qualidade de vida e renda dos catadores de materiais recicláveis, a implementação da logística reversa passa por alguns desafios, como a dimensão geográfica do país que demanda soluções inovadoras em infraestrutura e logística; a necessidade urgente de desconcentração da indústria recicladora das regiões Sul e Sudeste para outras regiões do País; além dos tão necessários incentivos fiscais para fomentar projetos que estimulem a cadeia produtiva da reciclagem.
Dentro da perspectiva da bioeconomia e do uso sustentável da biodiversidade, o Brasil está à frente de muitas nações no que se refere ao cenário regulatório, com regras claras e um sistema eletrônico de fácil acesso e em constante melhoria. Esse pioneirismo nacional, porém, muitas vezes é interpretado como um “risco Brasil”, provocado especialmente pelo receio de autuações dos órgãos fiscalizadores ou pela repartição de benefícios que pode eventualmente onerar o custo de um produto.
Vale ressaltar que a legislação sobre o acesso a recursos genéticos não é uma invenção brasileira, já que mais de 80 países possuem legislações semelhantes, com processos regulatórios até mais complicados e com custos de repartição de benefícios mais elevados. É preciso olhar para o cenário nacional como uma oportunidade e um desafio a ser enfrentado com grandes chances de êxito.
Ainda tratando sobre questões do meio ambiente, em junho de 2018, foi estabelecido um Compromisso Voluntário Setorial para substituição do uso de Micropartículas Plásticas Sólidas Insolúveis por outros ingredientes com função semelhante, mas biodegradáveis, em produtos enxaguáveis, no prazo de três anos, até 2021.
De acordo com estudos realizados na Europa, o setor de HPPC é responsável por apenas 0,1% a 1,5% dos microplásticos emitidos em todo o mundo. Ainda que o impacto seja muito pequeno, a ABIHPEC mobilizou a indústria, atendendo a um movimento global para redução da poluição oceânica sem comprometer a qualidade e a segurança dos consumidores.
Levando todos esses importantes temas em consideração, a ABIHPEC mantém diálogos com a iniciativa privada, governos, academia, cooperativas, comunidades, entre outros atores, a fim de proporcionar o crescimento sustentável do setor brasileiro de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos.
* João Carlos Basilio atua no setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos desde a década de 70. Atualmente, o executivo acumula os cargos de presidente-executivo da ABIHPEC e Conselheiro do SIPATESP; além de Conselheiro dos Conselhos Superiores de Inovação e Competitividade e de Meio Ambiente; e Diretor Titular Adjunto do Departamento de Desenvolvimento Sustentável.