Cosméticos: Peso dos tributos e juros prejudicam avanço do setor

“Nosso desejo é que tenhamos uma reforma tributária ampla, geral e irrestrita”, afirmou o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), João Carlos Basilio, em 12 de abril.

Essa reivindicação, no entanto, poderia ter sido proferida em qualquer época. Ano após ano, desde a sua fundação, a Abihpec convive com os altos impostos.

Hoje, aliás, a tributação é o maior desafio do mercado de HPPC. Mesmo após ser reconhecido como atividade essencial para os brasileiros, o setor segue como o terceiro mais tributado do país.

Basilio citou a redução de 25% do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciada pelo governo federal, como um alento, apesar de se revelar frustrado, pois esperava os 50% prometidos inicialmente.

De qualquer forma, o setor já obteve muitas conquistas.

A categoria de protetores e bloqueadores solares, cuja alíquota de IPI já foi de 77%, hoje goza de uma justa isenção fiscal.

Outro gargalo do setor diz respeito ao curto prazo estipulado para a quitação dos impostos federais. Basilio explicou que, muitas vezes, a indústria recolhe os tributos antes de receber o pagamento pelas vendas.

“No passado, chegamos a ter 180 dias para pagar os impostos, hoje temos 30”, reclamou.

A ideia é ampliar, paulatinamente, o prazo de pagamento dos impostos para liberar mais capital de giro às empresas. ”Essa é uma das lutas que vamos acentuar”, disse.

O crescimento do mercado de HPPC também é comprometido pelos efeitos da inflação e a alta taxa de juros.

“É difícil uma empresa ter resultados positivos com um custo financeiro tão alto como é o nosso”, afirmou.

Ele ressaltou que as taxas de juros impedem o empreendedorismo, que é justamente uma característica predominante do setor.

Segundo Basilio, hoje são mais de 3,3 mil empresas cadastradas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com condições de fabricar produtos de HPPC no país.

Mesmo com as dificuldades, no entanto, o setor acumula posições de liderança no cenário mundial.

O Brasil é o quarto maior mercado consumidor, atrás de Estados Unidos, China e Japão, além de assumir o segundo lugar, em número de lançamentos (Estados Unidos é o primeiro).

Foram cerca de 7.300 novos produtos no mercado só no ano passado.

“Quem conseguiu lançar produtos inovadores, surfou na onda de maneira positiva”, disse Basilio. Aliás, para ele, um dos pilares para o crescimento é a inovação.

Apesar dos investimentos, o desempenho do setor está aquém das expectativas. No ano passado, houve queda de faturamento de 2.8%.

Ainda assim, segundo Basilio, na média geral, não houve demissões e algumas empresas tiveram bons resultados. A balança comercial, por sua vez, se destacou.

O ano de 2021 terminou com superávit animador, e janeiro e fevereiro de 2022 despontaram com crescimento positivo.

Basílio ressaltou que o setor de HPPC será o único na cadeia química a ter superávit na balança comercial.

Para ele, mesmo considerando as previsões de especialistas, segundo as quais o dólar pode chegar a 4,20 reais, as vendas ao mercado externo não serão comprometidas.

“O país continuaria competitivo nas exportações, dado que os preços das commodities subiram muito em âmbito global; tivemos aumentos de 800%”, afirmou.

No quesito sustentabilidade, Basilio destacou a economia de baixo carbono como tendência.

“Não tem planeta B, precisamos cuidar do nosso”, provocou.

Ele falou sobre a possibilidade de as medidas de regulamentação governamental acerca do sequestro de carbono serem adotadas setorialmente, e mencionou a disponibilidade da entidade de criar um programa para atender a essas necessidades.

Ele citou a experiência adquirida com o programa Dê a Mão para o Futuro, o qual teve sua eficácia reconhecida pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para Basílio a indústria de HPPC vai continuar agindo com resiliência e perseverança. “Tem de encontrar um diferencial, buscar modelos novos e respeitar a sustentabilidade”, finalizou.

Fonte: Por Renata Pachione, portal Quimica.com.br

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