Apoiador de Dilma, Belluzzo afirma que, ao não assumir um lado, economistas procuram discurso mais “científico”
Documentos que circulam na internet colocam definitivamente os departamentos de economia das principais universidades do país na disputa eleitoral. Um deles reúne uma lista inicial de 11 economistas que se colocam ao lado de Dilma Rousseff, no “Brasil que não quer voltar atrás”. Para eles, o que está em jogo nesta eleição seria a opção entre as políticas que serviram para perpetuar desigualdades e o modelo que contribuiu para aprofundar a democracia – o do governo atual.
Reconhecem “dificuldades conjunturais” e a necessidade de correções e ajustes “sempre que necessário”. Mas ressaltam que essas dificuldades não podem servir de pretexto para um retorno às políticas econômicas do passado. “Eu também faço críticas e reparos à política econômica, mas, a despeito disso, acho que tem uma direção que é a correta”, diz o ex-secretário de Política Econômica e professor da Unicamp e também da Facamp, Luiz Gonzaga Belluzzo. Apoiador declarado de Dilma, Belluzzo figura ao lado de nomes como Nelson Barbosa, professor e pesquisador da FGV e da UFRJ e ex-integrante do governo Dilma, e Ricardo Carneiro, professor da Unicamp e diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Há também um manifesto divulgado ontem que não explicita apoio a nenhum dos candidatos. Nele, um grupo de 164 professores universitários de economia de diferentes centros – que vai da PUC do Rio, passa por Yale e chega aos departamentos da Unicamp e da UFRJ – se propõe a desconstruir o que chamam de “um dos inúmeros argumentos falaciosos ventilados na campanha eleitoral”. O grupo rechaça uma das principais justificativas dadas pelo governo para o baixo crescimento atual – a desaceleração da economia global – ao não reconhecer a ideia de uma crise internacional generalizada.
O manifesto alerta ainda que, no cenário atual que identificam como de baixo crescimento e inflação alta, a “semente do desemprego está plantada e os avanços sociais obtidos com muito sacrifício ao longo das últimas décadas estão em risco”. Para o grupo, “diante dos sérios desafios a ser enfrentados pelo país, é necessário um debate transparente e intelectualmente honesto”.
Um dos signatários do manifesto, o professor Arilton Teixeira, da Fucape Business School, frisa que o texto não é uma manifestação de apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB). “Muitos de nós fizemos doutorado e PhD no exterior, com frequência com a ajuda financeira de órgãos do governo. Nós tínhamos obrigação de nos manifestar. Nossa omissão seria penalizar o país”, diz Teixeira, cuja crítica se volta especialmente ao uso recorrente da crise internacional para explicar a desaceleração da atividade neste ano. “Nossos principais mercados consumidores – os Estados Unidos, a Europa – estão se recuperando. A Argentina continua mal, mas quanto ela representa nas nossas exportações, 8%, 9%?”, pondera o economista.
Teixeira afirma ainda que a maioria dos 164 signatários do manifesto não tem ligação com partidos políticos e que o grupo não objetaria auxiliar a candidata Dilma Rousseff na formulação de uma nova política econômica, caso seja reeleita. Para Belluzzo, o grupo deveria se “declarar explicitamente”, pois, ao não assumir um lado, acaba por se dizer “isento”, ou com um discurso mais “científico”, o que não seria correto. “Acho que é, no mínimo, autoengano”, diz. “Fazer política econômica é também tomar direções que se revelam incorretas mais a frente”.
Fonte: Valor Econômico