Dos 387 quilos de resíduos sólidos que cada brasileiro produz em média, por ano, quase 155 vão parar na lixeira errada, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Papel, alumínio, plástico e vidro devem ser descartados para coleta seletiva, mas muitos desses materiais acabam misturados aos dejetos orgânicos e deixam de virar fonte de renda para milhares de famílias. Só na Cooperativa de Reciclagem de Resíduos Sólidos da Restinga (CooperTinga) 60% de todo material que chega ao espaço não pode ser reaproveitado em função do condicionamento incorreto. “Enquanto não houver conscientização dentro das residências essa lógica vai continuar”, lamenta Gernô Dias Prado, presidente da CooperTinga.
Fundada em 2011, a CooperTinga, empresa de reciclagem, só conseguiu expandir sua produção a partir de 2015, quando conquistou uma área de 8 mil m² da prefeitura de Porto de Alegre e passou a atuar no Parque Industrial do bairro Restinga. Durante os últimos quatro anos, o espaço recicla cerca 80 toneladas por mês de resíduos sólidos, através do trabalho diário e árduo de 35 cooperativados. Esses trabalhadores têm papel fundamental também na preservação do meio ambiente, pois evitam que esse material acabe em aterros sanitários, lixões a céu aberto, ou passe o resto da vida útil à deriva no oceano.
“Mesmo assim, somos vistos pela comunidade como um lixão a céu aberto. É muito importante mudar esse entendimento para que sejam reaproveitados mais resíduos e menos materiais sejam lançados em aterros sanitários”, acrescenta o presidente da CooperTinga, que começou na reciclagem como carroceiro.
Por isso, está em desenvolvimento na cooperativa um projeto social que prevê a visitação de alunos dos ensinos Fundamental e Médio às etapas de manejo do lixo. “Estamos em busca de parceiros que possam fazer o translado entre as escolas e a cooperativa. Isso iria ter um impacto muito maior do que a conscientização ambiental dentro das escolas, que já feita”, diz Prado.
O ciclo na Cooperativa começa com os caminhões abarrotados de sacos plásticos, que chegam hora após hora; passa pela peneira minuciosa, feita a mão, dos cooperados e cooperadas dispostos na linha de produção; é separado por cor e tipo de material, prensado e distribuído para o setor industrial. Um trabalho desgastante, mas que pode ser amenizado com o descarte correto.
Durante a visita, a reportagem presenciou mais de seis tonéis cheios – com a capacidade de 50 litros – de materiais que poderiam ser reciclados, mas que não foram em razão do descarte incorreto.
“Quem define o que será lixo e o que será convertido em renda para nossos cooperativados são as pessoas que descartam em suas casas. É possível equilibrar produção com sustentabilidade, mas demanda um pouco de esforço de cada um”, ressalta o presidente da Cooperativa de Reciclagem de Resíduos Sólidos da Restinga.
Conquistas mais recentes da CooperTinga foram possíveis através do projeto “Dê a mão para o futuro”, promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), em parceria com outras associações. O projeto inclui investimentos em equipamento e melhorias na infraestrutura, capacitação e assessoria das cooperativas de reciclagem. Também auxilia na divulgação com objetivo de melhorar a qualidade e aumentar a quantidade dos materiais recicláveis coletados ou entregues para essas cooperativas.
As metas do projeto consistem em viabilizar a reciclagem das embalagens pós-consumo por meio de ampliação e melhoria da coleta, triagem, beneficiamento, valorização e comercialização. “O que se busca é colaborar com a melhoria do panorama nacional em relação à correta destinação de resíduos sólidos urbanos, ajudando a reduzir o volume de materiais recicláveis que seriam destinados aos aterros”, diz Rose Hernandes, diretora de meio ambiente da ABIHPEC e coordenadora da iniciativa. No Rio Grande do Sul o programa “Dê a Mão para o Futuro” já está implantado em nove cooperativas.
Na CooperTinga os investimentos foram convertidos em uma nova prensa de resíduos sólido, na instalação da nova rede elétrica e na aquisição de um caminhão de pequeno porte, que servirá para recolher materiais recicláveis na região.
Fonte: Jornal do Comércio