Por Camilla Veras Mota
Os dois principais indicadores de mercado de trabalho darão sequência em julho à perda de fôlego que vêm mostrando desde o início do ano. Para a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que será apresentada amanhã pelo IBGE, a média colhida pelo Valor Data entre 17 consultorias e instituições financeiras aponta aumento da taxa de desemprego de 6,9% em junho para 7% no mês passado.
Ainda sem data de divulgação definida, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), conforme a média de 11 estimativas, fechou 115,8 mil vagas com carteira.
Praticamente todos os setores darão contribuição negativa para o Caged de julho, ressalta Fabio Romão, economista da LCA Consultores. Nas contas da instituição, indústria incluindo os segmentos de transformação, extrativo e serviços industriais de utilidade pública e construção cortaram 43,5 mil e 10 mil vagas, respectivamente números “menos piores” do que o apurado em junho, com 66,3 mil e 24,1 mil perdas, nessa ordem, em cada um dos ramos. Os serviços, nas contas da LCA, terão o quarto saldo líquido negativo do ano, de 28,9 mil, contra 39,1 mil no mês anterior. “Os serviços podem ter leve saldo negativo em 2015, algo que não acontecia desde 98”, destaca Romão.
O desempenho desse segmento que abriu em média 525 mil vagas por ano entre 2011 e 2014 é bastante heterogêneo e espraiado , diz o economista, é um dos principais sintomas da chegada da desaceleração da atividade ao mercado de trabalho. A partir de agosto, a agropecuária, que deve dar nova contribuição positiva para o Caged de julho, inicia o período sazonal de demissões, lembra Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
A menor ajuda do setor, contudo, pode ser compensada pelo início do período de contratações da indústria, entre agosto e setembro, para atender às encomendas feitas para o fim do ano. O Ibre estima que a taxa de desemprego cresça para 7%, mais de dois pontos percentuais acima daquela apurada em julho de 2014, de 4,9% da população economicamente ativa (PEA), diz Moura.
A taxa tem sido pressionada neste ano por seus dois principais componentes aumento das demissões e da procura por trabalho, expressas, respectivamente, na retração da população ocupada e na elevação da PEA. “Só pela PEA ter voltado a crescer em linha com a demografia, já ajuda a aumentar o desemprego”, pondera.
O Ibre projeta o indicador em 6,6% neste ano, contra 4,8% em 2014. No ano passado, a força de trabalho encolheu 0,7% sobre 2013. No primeiro semestre deste ano, avançou 0,5%. Romão, da LCA, ressalta que, em julho, a PME deve mostrar nova retração da renda média real, de 4,1%. Depois de crescerem 2,7% no ano passado, os salários recuarão 2,9% em 2015, conforme as estimativas do economista. No próximo ano, com a ajuda da inflação, que deve desacelerar para 7,2% em março e para 5,2% em dezembro, a renda média real ficaria estável.
Fonte: Valor