[:pt]Diversidade na tela [:]

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Por Jacilio Saraiva

O e-­commerce brasileiro passa por uma nova fase. Depois de consolidar transações eletrônicas cada vez mais seguras para o consumidor, começa a abrigar negócios que não foram pensados para o mundo on­line, mas que já mostram resultados positivos. A lista de novidades inclui a entrega de combustíveis, óculos de grau e de crédito pessoal. Para especialistas, a aposta na diversidade de ofertas é amparada pelo crescimento do mercado digital. Segundo o relatório WebShoppers, realizado pela E­bit, empresa do Buscapé Company, o setor faturou R$ 18,6 bilhões no primeiro semestre de 2015, crescimento nominal de 16% ante o mesmo período do ano passado, quando o faturamento atingiu R$ 16,1 bilhões.

Os números foram puxados pelo aumento de 13% do ticket médio, que atingiu R$ 377, fermentado pelo aumento dos preços e por um maior volume de vendas em linhas mais caras, como eletrodomésticos e celulares. A pesquisa indica que 17,6 milhões de pessoas fizeram pelo menos uma compra em lojas virtuais brasileiras, contabilizando 49,4 milhões de encomendas no período. A categoria de produtos mais procurada foi moda e acessórios, com 15% do total de pedidos, antes de eletrodomésticos (13%), telefonia e celulares (11%), cosméticos e perfumaria (11%), além de livros e revistas (9%).

Para o acumulado de 2015, a E­bit/Buscapé prevê que o setor fature R$ 41,2 bilhões, 15% acima do ano passado. O avanço ganha combustível por conta da maior adoção dos dispositivos móveis para fechar negócios e da disseminação da banda larga no país, segundo André Ricardo Dias, diretor da E­bit. “Além disso, as tendências para os próximos anos apontam para uma integração omnichannel (multicanal), com a compra feita pelo site e a retirada da mercadoria na loja física; para os marketplaces, que reúnem empresas com perfil similar em um mesmo endereço eletrônico; e o aumento das vitrines de nicho.” É o caso da Hatsu, que oferece óculos fabricados no Japão e na Coreia do Sul.

Criada no ano passado pelo engenheiro Makoto Ikegame, a empresa conseguiu vencer o receio dos internautas em comprar armações pelo computador, sem experimentar. Para isso, além da venda na rede, investiu em um quiosque em Campinas (SP) e em uma equipe de consultores que pode visitar o cliente para apresentar os acessórios. Também assegura a troca ou a devolução do item em 30 dias e dá um ano de garantia para defeitos de fabricação. “A operação foi desafiadora porque precisamos ‘quebrar’ a necessidade de provar o produto antes de comprar, como aconteceu com as roupas e os tênis, há alguns anos”, diz. “Mas nunca tivemos uma devolução”, diz Ikegame.

Com 12 funcionários, a Hatsu vende 69 modelos e obteve aumento de mais de 700% no faturamento no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2014. Com um ticket médio de R$ 1,2 mil, a expectativa para 2015 é faturar R$ 1,7 milhão. A maioria dos pedidos vem de São Paulo e Minas Gerais. “É durante as crises econômicas que acontece uma seleção natural dos negócios eficientes, que oferecem mais valor agregado pelo preço cobrado nos produtos.” Para Raphael Ferrari, sócio­diretor da Sanders Estratégia Digital, especializada em gestão de pontos virtuais, a concorrência acirrada e o consumidor mais exigente têm forçado o lojista a buscar novas formas de impactar o mercado de forma positiva, colocando produtos à disposição do comprador, onde ele estiver. “O usuário está deixando de ver a internet apenas como um lugar de preço baixo ou para comparar valores, mas como um canal de compras que oferece comodidade e conveniência.” Recentemente, a rede de postos de gasolina Rode+ inaugurou um site para a venda de combustíveis, com preços menores do que os praticados nas bombas. Após comprar a quantidade desejada no endereço eletrônico, o internauta ganha um código válido por 30 dias. Com ele, é possível abastecer nos quatro pontos da rede, em São Paulo.

Para Ferrari, o maior obstáculo dos empreendedores digitais hoje é fidelizar o cliente. “Obter tráfego qualificado custa caro e, se não for feito um trabalho efetivo para o internauta voltar a comprar, o negócio acaba não sendo sustentável”, diz. A dica do especialista para atrair compradores é disparar ações de recompensa, como descontos, oferta de brindes ou frete grátis na primeira aquisição. O Rode+, por exemplo, tem preços diferenciados para os motoristas que abastecem depois das 22 horas.

Outras práticas importantes para quem deseja decolar no e­-commerce são gerar um relacionamento com o comprador desde o início da transação, mantendo­-o atualizado sobre o envio da mercadoria, e adotar uma estratégia especial para a venda via celular. “O foco no ‘mobile’ não é mais uma opção, mas uma obrigação dos sites. Temos clientes em que o tráfego de vendas por dispositivos móveis já gira em torno de 50% do total”, diz Ferrari. “Invista também em atividades de pós­venda, para criar proximidade com o usuário.

O atendimento é um dos principais fatores que o consumidor leva em conta.” A relação com o usuário faz toda a diferença no modelo de negócio adotado pela Lendico Brasil, plataforma que oferece empréstimos pessoais não consignados, com juros reduzidos. “O grande desafio é garantir que o processo de contratação e de pagamento dos valores seja o mais ágil possível”, afirma o CEO Marcelo Ciampolini. Os empréstimos no site variam de R$ 2,5 mil a R$ 35 mil, com um ticket médio de R$ 10 mil por solicitação.

Com a operação iniciada em julho, o site já acumulou 42,1 mil cadastros e 60% das propostas chegam de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O volume de pedidos de empréstimos saltou de R$ 73 milhões, no primeiro mês de atividade, para cerca de R$ 110 milhões, em agosto.

Ao optar por trabalhar apenas com clientes que apresentam um bom histórico de pagamento, a empresa consegue oferecer taxas de juros que variam de 33% a 55%, ao ano. “A crise econômica dificultou a disponibilidade de crédito nos bancos comerciais e faz com que as pessoas procurem alternativas”, diz Ciampolini. Alan Pakes, CEO do Congresso Nacional de Empreendedorismo Digital (Conaed), evento on­line que acontece desde 2013, afirma que os empreendedores que entenderem melhor as novas demandas do público consumidor podem ser beneficiados na web. “É importante aprender e fazer uso das técnicas de marketing digital.

Não adianta ter ótimos produtos se nenhum consumidor aparecer para comprar.”

Fonte: Valor

 

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