Dívida da Argentina pode afetar comércio com o Brasil

Os fluxos comerciais entre o Brasil e a Argentina podem ser afetados, caso o governo do país vizinho tenha que arcar com a dívida total que tem com credores de fundos especulativos internacionais.
Para especialistas entrevistados pelo DCI, esse cenário pode diminuir e colocar barreiras às exportações brasileiras para Argentina, um dos nossos principais parceiros comerciais, depois dos Estados Unidos e da China. As empresas nacionais de automóveis também podem ser afetadas, já que a Argentina é um mercado importante para o setor. As principais mercadorias exportadas para o país são, hoje, justamente os automóveis.
A dívida que a Argentina tem, atualmente, com credores internacionais é resultado de um calote financeiro do país dado no ano de 2001, em meio a uma crise financeira. O valor da dívida, naquela época, somava cerca de US$ 81,5 bilhões em títulos públicos. Entre 2005 e 2010, o governo argentino propôs uma renegociação da dívida, no entanto, com cerca de 60% de desconto.
Do total de detentores de títulos públicos da Argentina, 93% deles aceitaram a condição de pagamento da dívida com desconto, enquanto os outros 7% dos credores não aceitaram a proposta e alguns deles recorreram à Suprema Corte dos Estados Unidos.
Na semana passada, credores que entraram na Justiça, como os fundos de investimentos Aurelius Capital Management e o NML Capital, ganharam o recurso no qual cobra da Argentina pagamento de US$ 1,3 bilhão. Além disso, o país vizinho deverá pagar, na próxima segunda-feira, uma parcela de US$ 900 milhões referentes ao pagamento dos 93% dos credores que fizeram parte da reestruturação da dívida.
O professor de economia da Escola Superior de Propaganda (ESPM), Orlando Assunção Fernandes, comenta que os outros credores que não aceitaram a renegociação da dívida, mas que também ainda não entraram na Justiça, podem também, diante dessa situação, exigir o pagamento da dívida, o que equivaleria, nesse momento, a um desembolso de US$ 15 bilhões. Isso, de acordo com o professor, pode levar a Argentina a uma recessão e prejudicar o comércio brasileiro com o país. “Se a Argentina tiver que desembolsar esse valor de uma só vez, isso pode afetar nosso comércio, pois, evidentemente, o país vai comprar menos”, diz.
O professor de economia internacional da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francisco Américo Cassano, afirma que, atualmente, a Argentina tem aumentado o prazo de emissão de licenças de suas importações para 120 dias para controlar a entrada de mercadorias e o seu fluxo de pagamento. “Nas regras do comércio internacional, esse prazo é de 60 dias”, diz. Para ele, caso ocorra os desembolsos dos US$ 15 bilhões e de 1,3 bilhão, medidas mais incisivas serão tomadas em relação ao comércio internacional, e a Argentina tenderá a aumentar ainda mais o tempo de licenças de importação, o que vai refletir no fluxo bilateral com o Brasil. “As exportações brasileiras podem ser reduzidas ainda mais”, diz.
Em relação aos investimentos, o professor do Mackenzie acredita que a crise na Argentina não afeta o Brasil, já que os investidores têm uma visão mais clara, hoje, do que é o Brasil e os outros países do Mercosul. “No entanto, as empresas exportadoras brasileiras que têm a Argentina como um dos seus principais mercados, podem ter redução de investimentos estrangeiros”, ressalva. Além disso, lembra que as empresas brasileiras automobilísticas também serão afetadas, já que a Argentina é uma das principais nações compradoras desse setor.
O professor da ESPM também analisa que uma crise na Argentina não causaria uma fuga de capitais no Brasil, pois o mercado já conhece a situação do país vizinho, que já vem registrando nota baixa pelas agências de classificação de rating. Ele ressalta que, caso aconteça uma fuga de investimentos, o Brasil possui reservas internacionais para cobrir os prejuízos e amortecer uma crise, situação bem distinta da que existia no ano de 2001, quando o País teve que recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por não ter reservas suficientes, explica o professor da ESPM.
Para Assunção, se a Argentina tivesse dívidas com governos de países e com organizações multilaterais, isso prejudicaria mais as relações diplomáticas.
Para o professor do Mackenzie, as negociações de comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), também não devem ser afetadas. E comenta que o apoio do bloco do sul à Argentina faz parte do jogo da política internacional.


Fonte: DCI

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