GUSTAVO SANTOS FERREIRA
Cotação da moeda americana já avançou mais de 20% nos últimos 12 meses e pode colaborar com ao menos 1,0% de inflação
Não é só quem viaja pro exterior que paga a conta da alta do dólar. A cada vez que a moeda americana fica 10% mais cara no período de 12 meses, a inflação tende a subir 0,5% no mesmo intervalo de tempo – defendem alguns economistas, como o professor Simão Silber, da USP.
A conta não é tão exata assim. Trata-se de estimativa. Mas vejamos: o dólar ficou mais de 20% mais caro nos últimos 12 meses. Se levarmos essa regrinha à risca, portanto, podemos dizer que perto 1,0% dentro dos 7,36% da atual inflação anual é creditado à esticada de preços da moeda americana.
A pedido do blog, o economista Claudio Felisoni de Angelo, da Fundação Instituto de Administração (FIA) e presidente do Programa de Administração de Varejo (Provar), pesquisou por quais produtos essa alta de preços via dólar se alastra.
A relação de Felisioni impressiona. Passa por de mais de 100 itens. Inclui desde bens consumidos no dia a dia pela maioria de nós até componentes químicos da indústria. Desta seleção, separamos 16 itens pelos quais o dólar influencia a inflação. Abaixo, você pode ver quais são eles e a alta de seus preços medida em 12 meses pelo IPCA-15 de fevereiro. Veja aí:
1. Peixes (pescados ficaram 7,62% mais caros em 12 meses)
2. Frutas secas (de um modo geral, as frutas ficaram 7,21% mais caras; o IBGE não faz distinção entre as frutas secas ou frescas, talvez pelo fato de as frutas secas não serem exatamente unanimidade à mesa)
3. Frutas frescas (idem)
4. Leite em pó com menos de 1,5% de gordura (o produto, light ou não, sofreu alta de 6,68%)
5. Trigo (o preço do pão francês avançou 5,38% no período)
6. Batatas preparadas ou conservadas, não congeladas (não engasgue: elevação anual média de 31,01% – mas vale destacar o peso dos problemas climáticos neste item)
7. Misturas de sucos não fermentados (sucos ficaram 6,32% mais caros)
8. Ketchup e outros molhos de tomate, em embalagens menor que 1kg (o IBGE não pesquisa preços nem de ketchup nem de molhos de tomate – algo absurdo, dado a costumeira instabilidade do preço do tomate, que força as pessoas a recorrem a molhos para fugir da alta de seus preços)
9. Gomas de mascar sem açúcar (outro produto, embora não essencial, muito consumido e não pesquisado pelo instituto)
10. Produtos de beleza (artigos para pele subiram 4,65% em 12 meses; perfumes, 6,67%)
11. Xampus para os cabelos (elevação de 5,13%)
12. Pasta de dente e outros produtos de higiene bucal (outra falha do IBGE, que não afere o preço dos produtos em específico; mas a alta média dos artigos de higiene pessoal foi de 6,13%)
13. Lâminas, loção e espuma de barbear (ficaram 7,81% mais caros)
14. Desodorantes (alta significativa em 12 meses, de 8,86% – mas que não abre precedente para ninguém sair por aí liberando odores desagradáveis, sobretudo, no ônibus ou no metrô lotados)
15. Detergentes (10,35% de alta, o que faz o autor deste blog cultivar ainda mais o seu ódio inabalável por lavar louças – embora faça do ato de sujá-la quase uma arte)
16. Algodão (mais uma falha de difícil compreensão do IBGE, que ignora o produto, de consumo considerável, em sua pesquisa de inflação)
Fonte: Estadão