Sob impacto negativo da Copa, de freada do consumo das famílias e forte retração dos investimentos, o PIB brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.
Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do país encolheu em 0,9%. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (29).
Como o resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informado anteriormente), o país pode ter entrado em recessão técnica.
O termo é controverso. Alguns analistas acham que esses dois recuos, por serem baixos, não indicariam recessão. Além disso, o desemprego no país é baixo. Outros analistas, no entanto, defendem que os indicadores apontam para recessão na economia.
Em valor, o PIB do país somou R$ 1,271 trilhões no segundo trimestre.
Os resultados apresentados pelo IBGE ficaram piores que as previsões de mercado. A média das projeções de bancos e consultorias apontava para uma queda de 0,4% frente ao primeiro trimestre e de 0,5% na comparação com o mesmo período de 2013, segundo pesquisa da Bloomberg.
Com o resultado do segundo trimestre, a economia brasileira acumula alta de 0,5% nos seis primeiros meses deste ano e caminha, segundo analistas, para fechar o ano com um baixo crescimento de 0,7% -se confirmada a projeção, será o pior desempenho desde 2009, quando a queda foi de 0,3%, verificada no auge da crise global.
Nos últimos quatros trimestres encerrados em junho, o PIB soma uma alta de 1,4%.
Do primeiro para o segundo trimestre, ditaram o tombo do PIB a indústria e os serviços, com quedas de 1,5% e 0,5%, respectivamente. A agropecuária teve leve alta de 0,2%.
Ao olhar a economia por outro ângulo (o destino da produção gerada por esses três grandes setores), o consumo das famílias, item de maior peso na composição do PIB, cresceu apenas 0,3%.
Já os investimentos em máquinas para a produção, transporte, agropecuária, energia, entre outros, e em construção civil tiveram forte retração de 5,3%. Esse componente é tido como dos mais importantes do PIB, pois sinaliza o quanto a economia terá capacidade de crescer no futuro por meio do aumento da sua capacidade produtiva e da infraestrutura.
Até mesmo o consumo do governo (na compra de insumos para saúde, educação e outros serviços públicos) recuou 0,7%.
COPA E ESTAGNAÇÃO
Para Silvia Matos, economista da FGV, a retração do PIB já era esperada. O efeito da Copa do Mundo, segundo ela, foi mais sentido em junho, no início da competição. Isso porque houve um acumulo maior de feriados excepcionais nas cidades-sede e dias de dispensa antecipada de trabalhadores.
Com menos pessoas a produzir, a economia encolheu. “Uma estagnação ou uma pequena queda já era esperada, mas a Copa ajudou o resultado a ser um pouco pior.”
Desde o fim de 2013, o PIB está estagnado, passado o boom do crédito e sob efeito de juros e inadimplência maiores. Endividadas, as famílias já não têm o mesmo ímpeto para gastar. A inflação maior neste ano (e concentrada em alimentos) também corroeu seus rendimentos, o que freou o consumo de bens de menor essencialidade.
Os investimentos, por seu turno, sofrem com a menor confiança de empresários, também com mais juros mais elevados e bancos menos dispostos a emprestar diante das incertezas da economia do país.
INDÚSTRIA
Sob o prisma da produção, a indústria sente os reflexos do menor consumo (especialmente de bens de maior valor, como veículos) e a competição cada vez maior com produtos vindos do exterior. Até mesmo os serviços, que sustentavam o PIB, já mostraram contração na esteira da crise da indústria (que contrata serviços de transporte, consultorias, empresas de terceirização e outros) e do consumo dos lares do país.
Outro fator que inibe o consumo é o esfriamento do mercado de trabalho, segundo Ramos. É que o rendimento cresce menos e com a fraca geração de postos de trabalho -nas maiores regiões metropolitanas do país, o cenário é pior: há queda no número de trabalhadores ocupados.
Fonte: Folha – PEDRO SOARES – LUCAS VETTORAZZO