Fabricar álcool em gel para atender o mercado doméstico ajudou na sobrevivência de muitas indústrias de cosméticos desde que a pandemia iniciou. Agora que o governo retirou a restrição para exportar, elas também pretendem vender o produto a clientes internacionais.
São Paulo – Empresas brasileiras fabricantes de cosméticos encontraram na produção do álcool em gel a possibilidade de amenizar os efeitos negativos da crise da covid-19 sobre seus negócios e agora começam a buscar espaço para o produto no exterior. A exportação do álcool em gel estava restrita no Brasil desde o final de março, por determinação do governo federal, mas foi liberada há cerca de duas semanas.
A Mairibel, a Sther Cosméticos e a Private Cosméticos, as três do interior de São Paulo, são algumas das indústrias que começaram a trabalhar para enviar seu álcool em gel ao exterior. Entre os mercados para os quais elas querem exportar está o árabe. Apesar do pico da pandemia ter passado em vários países, as empresas acreditam que o consumo do álcool em gel seguirá existindo no Brasil e no mundo, principalmente com as medidas de higiene adotadas para a reabertura das atividades comerciais.
Private
A Private, de Valinhos, não tinha o álcool em gel na linha de produção, mas possuía expertise na área e começou a fabricar o produto em março, diante da demanda do mercado surgida com a pandemia da covid-19. Com a queda na procura pelos produtos de beleza no período, a produção de álcool em gel foi essencial para a empresa e respondeu por 20% dos negócios. “Foi extremamente importante para que a gente conseguisse se sobressair no mercado”, disse para a ANBA o CEO da Private, Márcio Antônio Espíndola.
A Private Cosméticos fabrica tanto produtos com a marca própria, que é a Private, como para terceiros, principalmente para grandes lojas de departamentos do Brasil. A gama de itens produzidos vai de artigos de higiene pessoal, como os sabonetes, até produtos para cabelo, como a proteína e queratina, e produtos para a pele, como os cremes corporais.
O álcool em gel entrou para a linha de produção da Private com a mesma proposta dos seus demais itens, de ser premium, e é feito a partir do carbopol. A empresa também comercializa o álcool líquido. “Mantivemos o álcool em gel no padrão de qualidade mais top do mercado”, diz Espíndola. O produto é vendido em supermercados e farmácias no Brasil, principalmente na região onde a Private fica.
Com a liberação das exportações, Espíndola vai oferecer o álcool em gel para os clientes do exterior que já atende com outros produtos. “E é claro que, de onde vier a demanda, a gente tem condições de atender”, disse. A empresa exporta para os mercados árabe e europeu. Entre os países árabes, as vendas vão para países como Líbia, Arábia Saudita, Emirados, Iraque e Kuwait.
Sther
A Sther Cosméticos, de Jundiaí, tinha o álcool em gel no portfólio, apesar de ele não estar em produção, e no começo deste ano planejava relançar a produto com menor custo, acreditando numa demanda em função da H1N1. Foi então que chegou a notícia da covid-19. O processo foi acelerado e o produto chegou logo nas prateleiras. Segundo o diretor comercial da Sther Cosméticos, Arthur Eduardo Elias Ricardi, foram vendidas 20 mil caixas de álcool em gel em dez dias no final de março e depois mais 60 mil caixas em abril. A comercialização segue.
O álcool em gel é vendido pela Sther com a marca Suavity. A empresa também fabrica o álcool líquido e produz os dois itens para terceiros. Inicialmente, a indústria fez o álcool em gel com carbopol, mas passou a usar a celulose diante da escassez do primeiro insumo. Em breve, serão oferecidos os dois tipos do produto, segundo Ricardi.
A Sther fabrica xampu, condicionador e creme para pentear infantis, além de produtos para higiene, cabelo e corpo, como loção hidratante, sabonete líquido e óleo corporal, entre outros. As marcas são a Suavity, a Ricardi e Lorys, as três sob o guarda-chuva Sther. Todos os produtos, sendo líquidos, podem ser feitos para terceiros, de acordo com Ricardi.
A empresa exporta para Emirados, Paquistão, Tanzânia, Quênia, Angola, Bolívia, Paraguai, Estados Unidos, Costa Rica e Bulgária, e já chegou a vender para o Egito. Segundo Ricardi, a Sther recebeu demanda do exterior por álcool em gel quando a exportação estava restrita. Agora, com as vendas liberadas, quer atender esse mercado. Já há um pedido da Costa Rica. “Para os árabes a gente ofereceu, mas a maioria foi atendido pela China”, conta Ricardi. Ele, porém, buscará mais clientes na região.
A Sther seguirá produzindo o álcool em gel e acredita na continuidade da demanda. Ricardi afirma que esse consumo virá principalmente no comércio que está reabrindo portas. “Cada lojinha vai ter consumo do álcool em gel. A pessoa que fica em casa de quarentena não é a grande consumidora de álcool em gel, é aquela que tem contato externo”, diz.
Mairibel
A Mairibel, da cidade de Artur Nogueira, chegou a dar férias coletivas para os funcionários quando a pandemia da covid-19 começou a se propagar no Brasil. Seus executivos, no entanto, logo perceberam a necessidade de álcool líquido e álcool em gel no mercado brasileiro e propuseram iniciar a produção. O gerente comercial, Juraci Marques de Oliveira, conta que a empresa já tinha fabricado o produto em 2012 para combater a H1N1.
A empresa começou fabricando 14 mil frascos de álcool em gel de 500 ml e vendeu 10 mil unidades na primeira ligação que Oliveira fez. “Aí compramos bastante matéria-prima, bastante álcool e começamos a produzir em grande quantidade para atender os supermercados e as farmácias”, relata Oliveira.
Segundo ele, o objetivo não foi ganhar dinheiro, mas manter a empresa funcionando e ajudar a sociedade neste momento de pandemia. “Fomos abençoados com essa estratégia porque as pessoas acharam o produto barato e bom, de qualidade, e continuam pedindo até hoje”, afirma.
A produção atendeu atacados, supermercados e farmácias, e agora, com a retomada de várias atividades no Brasil, também igrejas, escolas e secretarias de educação estão entrando em contato para comprar o álcool em gel, segundo Oliveira. O gerente conta que as vendas do produto foram muito importantes para o caixa da empresa entre 05 e 15 de abril, já que muitos clientes fizeram o pagamento à vista. “Foi o que nos salvou aqui”, diz.
A Mairibel fabrica produtos de higiene e beleza com as marcas Mairibel, Reference Collor, Hidratylife, Hidratycollor e Encantos da Natureza. São mais de 150 produtos para cabelo e pele no catálogo da empresa, como máscaras de hidratação, óleos essenciais, xampus, coloração, entre outros. A maioria é produto capilar, especialmente para cabelos afros. A Encantos da Natureza é voltada para o segmento premium e é natural.
O álcool em gel é comercializado com as marcas Mairibel e Hidratylife, e feito com carbopol importado dos Estados Unidos. A Mairibel exporta pequenos volumes para sete países árabes, por meio de um intermediário. “Estamos motivados”, diz, Oliveira, sobre o mercado árabe. Agora, além de ter planos de ampliar as vendas externas aos árabes dos seus produtos em geral, a empresa está em busca de clientes da região para o álcool em gel.
Exportação liberada
Desde o dia 19 de março, para exporta álcool em gel e outros produtos necessários no combate à pandemia da covid-19, as empresas precisavam de uma licença especial que só era concedida caso o sistema público do Brasil não estivesse necessitando do produto. Com o mercado bem abastecido, essa exigência foi retirada em 22 de junho, facilitando a exportação. As empresas citadas na reportagem são associadas da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.