MÔNICA SCARAMUZZO
Banco Brasil Plural, por exemplo, deve levantar de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões para financiar companhias em recuperação judicial
Empresas em crise são um filão para fundos especializados em investimentos de altíssimo risco. No Brasil, instituições financeiras como Opus, Jive, Blackwood e o banco Brasil Plural são alguns dos gestores que têm visto oportunidade em negócios provenientes de massas falidas.
O banco de investimentos Brasil Plural, por exemplo, está estruturando um fundo que deve levantar de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões para colocar no mercado recursos para empresas em reestruturação ou em recuperação judicial. Esse fundo terá como âncora o braço do Banco Mundial, o IFC (International Finance Corporation), que deverá colocar R$ 50 milhões, afirmaram ao Estado Warley Pimentel e Fábio Vassel, executivos do banco. Os fundos Jive, Blackwood e Opus não retornaram os pedidos de entrevista.
Os recursos desse fundo poderão ser destinados para compra de “equities” (ações) ou dívida de empresas de pequeno e médio portes, informou Pimentel. A expectativa é de que a operação esteja estruturada até o fim do ano. “O diferencial do nosso fundo é que buscaremos ter o controle ou uma fatia relevante das empresas nas quais o fundo fará o aporte”, disse Pimentel.
Os executivos acreditam que a demanda por esse tipo de recurso tem potencial de crescimento no Brasil, uma vez que o cenário atual macroeconômico é de desaceleração e empresas em busca de assessoria para reestruturação financeira.
Há 14 meses, o Brasil Plural decidiu criar sua própria área de reestruturação financeira de olho em empresas em crise. “O Brasil tem um vácuo nessa área, hoje ocupado por bancos de investimentos ou butiques. Hoje, os principais bancos são também credores dessas empresas”, afirmou Vassel, que é responsável por esse negócio.
O banco tem em mãos um dos casos mais emblemáticos de processo de recuperação judicial, que é o do Grupo Inepar. A empresa paranaense de máquinas e equipamentos entrou com pedido de recuperação no fim de agosto e tem hoje uma dívida acumulada em R$ 2 bilhões. Na esteira da Inepar, outras empresas estão indo para o mesmo caminho e a expectativa é de que os números avancem até o fim do ano, segundo especialistas ouvidos pelo Estado.
Recuperação. Dados da Serasa Experian mostram que, em setembro, 90 empresas pediram recuperação judicial, alta de 38,5% ante agosto, quando foram realizadas 65 solicitações, e 20% acima do mesmo mês de 2013. As micro e pequenas empresas lideraram os requerimentos de recuperação judicial com 49 pedidos, seguidas pelas médias, com 25, e pelas grandes, com 16.
Já os pedidos de falências cresceram 21,5% em setembro ante agosto, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. No mês passado, foram feitos 181 pedidos em todo o País, contra 149 requerimentos em agosto. Em termos absolutos, este é o pior resultado do ano e o número mais alto para meses de setembro em quatro anos, destacou a instituição. Na comparação com o mesmo mês de 2013, o acréscimo foi de 16%.
De acordo com a Serasa Experian, dos pedidos feitos no mês passado, 91 foram efetuados por micro e pequenas empresas, 39 por médias e 51 por grandes empresas. Segundo a instituição, o aumento dos pedidos de recuperação judicial e falência reflete a deterioração do quadro conjuntural doméstico.
Confiança abalada. Luiz O. Muniz, sócio e diretor das operações do banco Rothschild para América Latina, afirmou ao Estado que o ano de 2014 registrou importantes casos de empresas que entraram em recuperação judicial. Em sua avaliação, havia uma expectativa de crescimento econômico para o ano, que não se materializou. “Cada caso (de empresa em recuperação) é um caso”, disse.
Segundo Muniz, o baixo crescimento da economia minou a confiança do empresariado de modo geral. Muitas empresas estão com baixas margens operacionais.
O pedido de recuperação judicial, segundo Muniz, não é necessariamente o fim da linha para essas empresas. “Nos Estados Unidos, usa-se a terminologia ‘proteção contra credores’ para demonstrar que o ‘Chapter 11’ (equivalente à nossa recuperação judicial) existe para que a empresa continue a operar enquanto trabalha num plano de reestruturação da dívida sem ter de lidar diariamente com pressão por caixa dos credores”, afirmou o executivo.
Neste ano, o Rothschild assessorou importantes companhias que entraram em recuperação. Foram os casos do grupo de energia Rede e da companhia de lácteos LBR, que teve parte de seus ativos vendidos para a francesa Lactalis. O banco também assessorou os credores da OGX, petroleira do empresário Eike Batista, e a mineradora Mirabela Nickel.
Surpresa. “Geralmente, o empresário que entra em crise (na maioria empresas familiares e pouco profissionalizadas) não tem domínio sobre os dados da empresa”, afirmou Luís Paiva, sócio da Corporate Consulting. “É uma surpresa para todo mundo. Eles só percebem a gravidade do problema quando se dão conta de que não têm dinheiro em caixa para pagar contas do dia a dia.”
Na maioria desses casos, toda a gestão tem de ser revista, com cortes profundos de custos e do quadro de funcionários, além da necessidade de remodelar toda a operação. O objetivo é buscar um caminho para que o patrimônio e a história de uma empresa não seja reduzida a pó.
Fonte: Estadão