A exportação brasileira no primeiro semestre sofreu menos com a desaceleração mundial que a média dos demais países. As importações mundiais caíram 3,5% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. A demanda externa efetiva, porém, que reflete as importações dos principais países de destino das vendas brasileiras ao exterior, segundo cálculos da Funcex, teve queda menor, de 0,4%, enquanto as exportações do país recuaram 0,9%. No acumulado em 12 meses também há diferença significativa. A importação mundial aumentou 7,1% e a demanda externa efetiva do Brasil, 12,3%, enquanto o valor total da exportação brasileira teve alta de 10,35%. Especialistas acreditam, porém, que essa pequena “vantagem” brasileira vai diminuir até o fim do ano, refletindo, em parte, o que já ocorreu nos meses de julho e agosto, quando o recuo das exportações do país já foi mais expressivo que o de junho. A disparidade entre as vendas do Brasil e as importações mundiais pode ser explicada pela composição da pauta brasileira de exportação, na qual os básicos são representativos. A demanda pelos produtos básicos demora mais para ser afetada dos que a procura pelos manufaturados. Segundo dados do Mdic, a fatia dos básicos na pauta de exportação brasileira é de cerca de 48%. Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a “vantagem” do país é transitória. A exportação brasileira já começou a sentir uma desaceleração maior nos básicos a partir do segundo semestre e isso deverá fazer maior diferença no quarto trimestre com a China, cuja economia em 2012 deve se desacelerar mais do que se previa inicialmente. O índice oficial de gerentes de compras, um dos principais indicadores chineses para nível de atividade, teve a quarta queda consecutiva do índice oficial de gerentes de compras, para 49,2 pontos, alardeado como o nível mais baixo em nove meses. Resultados abaixo de 50 indicam contração da atividade industrial. O número aumentou os temores de que a economia chinesa demore a retomar o ritmo anterior de crescimento. Dados divulgados pelo Mdic indicam queda acentuada na exportação de básicos em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado, com redução de 15,5% na média diária. No acumulado de janeiro a agosto, a queda é de 4,9%, também pelo critério de média diária. A exportação brasileira para a China teve, em agosto, queda de 12,4% na média diária. A redução foi menor que a média, de 14,4% em agosto, considerando todos os países de destino. Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, diz que a grande dependência em relação à China acabou favorecendo a exportação brasileira no primeiro semestre. “A economia chinesa está desacelerando, mas ainda assim há crescimento”, diz ele. A China é individualmente o maior parceiro comercial do Brasil, com participação atual de 17% dos embarques totais do país. Castro lembra que durante o primeiro semestre a exportação brasileira de básicos foi muito beneficiada pela antecipação dos embarques da soja, principalmente para a China, a preços relativamente bons. Esse efeito, porém, não se repetirá no segundo semestre. Além disso, ele acredita que os embarques de minério de ferro para o país asiático deverão sofrer redução. “Por enquanto, houve queda de valores, mas a desaceleração deve resultar também em redução de volumes.” Para Barral, a vantagem do primeiro semestre também aconteceu porque os preços das commodities exportadas pelo Brasil não caíram tão dramaticamente como se esperava. De qualquer forma, diz ele, não é algo que vai perdurar no médio e longo prazo. “A questão é saber se as exportações brasileiras serão capazes de acompanhar o ritmo da demanda quando a China e a economia mundial se recuperarem”, diz Barral. Para isso, seria necessário diversificar a pauta de exportação, com uma participação maior de manufaturados. “Para isso, porém, ainda precisamos melhorar a competitividade.” (Fonte: Valor Econômico)