Por Rodrigo Pedroso, de São Paulo
O processo de concentração das exportações brasileiras em poucos atores se intensificou ano passado, quando 1,3% das empresas foram responsáveis por 79% dos US$ 242 bilhões obtidos com vendas ao exterior. Esse pequeno grupo aumentou em sete pontos percentuais a participação no total exportado em relação há seis anos e ficou um ponto acima do registrado em 2012. A concentração também é resultado da queda no número de exportadores. Ao longo dos últimos seis anos, 2 mil empresas abandonaram a atividade exportadora no Brasil. O resultado, na visão de analistas, anda em linha com o movimento de “primarização” da pauta exportadora em um cenário de contração dos principais mercados mundiais e perda de competitividade da indústria nacional.
Em 2007, as 250 empresas com maior peso na formação do resultado das exportações nacionais mapeadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) foram responsáveis por 71,8% do total embarcado ao exterior. Em 2012, as 250 que mais venderam representaram 77,8% da exportação registrada, com sinais de concentração na elite da elite dos exportadores nacionais. Entre 2013 e 2012, o ministério registrou queda de 10% – equivalente a 30 empresas – no número de companhias que exportaram mais de US$ 100 milhões no ano.
Enquanto o Brasil perde exportadores – em 2007, 20,8 mil empresas exportaram, número que caiu para 18,8 mil no ano passado – a importação cresce de forma mais pulverizada. Entre 2007 e o ano passado, o numero de empresas que importaram no país cresceu 52% e chegou a 44 mil. O peso das maiores importadoras no resultado total das compras externas, entretanto, tem gravitou ao redor de 63% no período.
“O desempenho das commodities ajudou no aumento da concentração das exportações”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Em função de a comercialização dos principais produtos agrícolas ser intermediada por um punhado de empresas que detêm o mercado – as tradings – e os produtos minerais e o petróleo serem explorados também por poucos ‘pesos pesados’, o aumento do preço no mercado externo e o incremento da produção interna desses produtos deslocaram do ranking dos maiores exportadores as companhias com produção ligada à manufatura. “Ano passado, o produto manufaturado que mais rendeu à exportação foram as plataformas de petróleo”, afirma.
Os dados embasam a análise. Nos últimos seis anos, as montadoras perderam as primeiras posições entre as exportadoras para tradings e frigoríficos. Vale e Petrobras seguiram na ponta como maiores geradoras de divisas, enquanto siderúrgicas e empresas de papel e celulose mantiveram espaço. “Nos bens mais primários, geralmente, uma grande empresa domina a compra e a venda do produto. Em bens com maior grau de industrialização, algumas grandes companhias ocupam e disputam o mercado”, diz Castro.
A perda de espaço das grandes indústrias no topo dos exportadores é reflexo, diz Julio Gomes de Almeida, o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, da saída de empresas médias com produção de maior valor agregado da lista das 250 mais influentes. “Grandes empresas têm mais condições de se protegerem. Se elas perdem espaço e a concentração aumenta, é sinal de que quem realmente deixou de exportar ou diminuiu muito o nível de vendas foram empresas médias. O ‘boom’ dos preços das commodities nos últimos anos é uma parte da explicação”, diz Almeida. Outra parte está na perda de competitividade da indústria nacional dos últimos anos, que “afastou as pequenas e médias empresas do leque de exportadores brasileiros.”
Junto com os fatores domésticos, Mariano Laplane, professor da Unicamp e presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), afirma que mudanças na conjuntura externa pesaram. A contração do mercado europeu e a desaceleração da economia americana fecharam mercados importantes para a manufatura brasileira. No mesmo período, diz, o real, ficou sobrevalorizado e influenciou empresas a se desligar da atividade exportadora. “Quando há condições muito adversas externas, é característico da economia brasileira perder fôlego e musculatura na exportação”, diz.
A perspectiva, contudo, é de estabilização ou início de reversão do quadro nos próximos anos. O ciclo de alta nos preços das commodities também dá sinais de estar chegando ao fim, o que ajuda empresas a planejar exportações, segundo José Augusto de Castro.
Laplane aponta que um grande número de empresas que deixou de exportar nos últimos anos pode reativar antigos clientes com a mudança no cenário externo. “É claro que não se desconcentra de um ano para o outro. Mas o real está mais desvalorizado, os Estados Unidos estão valorizando a moeda e com a economia se recuperando” afirma.
Fonte: Valor Econômico (28/01)