Recuperação da indústria de produtos de consumo ganharia tração a partir de abril. Essa projeção depende, porém, do programa de vacinação ganhar velocidade
Por Raquel Brandão — De São Paulo
O começo do ano de 2021 trouxe otimismo às indústrias de consumo, mas o atraso no início da vacinação e o aumento do contágio, somado ao surgimento de novas cepas da covid-19, acenderam o sinal de alerta. Desde os produtores de itens de limpeza até o segmento bebidas, a avaliação de analistas e associações é de que o primeiro
trimestre será de ritmo lento, com a recuperação ganhando tração a partir de abril.
Essa projeção depende, porém, do programa de vacinação ganhar velocidade. Os fabricantes de artigos de limpeza e cuidados de casa viram a produção saltar entre abril e junho e cair nos últimos três meses de 2020, quando o valor do auxílio emergencial foi reduzido. Paulo Engler, presidente da associação do setor, diz que este impacto já foi absorvido. A produção já começou a dar sinais de recuperação, mas só deve voltar a dar viés de alta em abril. Ele ainda vê crescimento de 2,5% a 3% em 2021 ante 2020. O esperado avanço da vacinação deve destravar mais setores como os de bares e restaurantes, escritórios e comércio, que são responsáveis pelo consumo de produtos de limpeza de uso profissional.
No setor calçadista, a expectativa é crescer 14% neste ano, após ter encolhido cerca de 22% em 2020 – patamar de 16 anos atrás. Mas o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, observa que o cenário é uma incógnita. “Ainda não revisamos nossa projeção devido a essa incerteza. Mas acreditamos em uma recuperação a partir do segundo
trimestre.”
Impulsionado no ano passado pela “cesta covid” [álcool em gel, sabonetes e lenços de papel, entre outros itens], o setor de beleza vive momentos diferentes para cada categoria. Embora não tenha dados consolidados dos primeiros dias deste ano, João Carlos Basilio da Silva, presidente da associação do setor, a Abihpec, diz que as vendas de produtos sazonais, como protetores solares, estão em alta. Mas observa que há desafios pois o poder aquisitivo não está crescendo. “O problema para a retomada do consumo ainda é a insegurança”, diz. Por isso, afirma, não há outra solução a não ser intensificar a vacinação, o que ele acredita que deva ocorrer neste mês. “Vamos crescer em relação ao primeiro semestre de 2020, mas ainda será um ano com limitações. Vamos acelerar o crescimento no segundo semestre, conforme a vacinação aumente. Se crescermos algo na casa de 3,5% este ano, será muito bom”, disse o presidente da Abihpec.
O setor de alimentos mostra desempenhos diversos, dependendo da categoria. As associações do setor, como a de alimentos industrializados e a de biscoitos e massas ainda não têm projeção para o ano. Em relatório, o BTG Pactual diz que o desempenho de companhias do setor, como a M. Dias Branco, depende de melhorias de preço e mix
de produtos enquanto o ambiente de custo e de consumo se manterá difícil. O primeiro trimestre não traz otimismo ao setor cervejeiro. Bebida alcóolica mais consumida pelo brasileiro, a cerveja deve ter sua demanda reduzida de 2,5% a 3% neste ano, segundo o presidente de uma das associações do setor, a CervBrasil, Paulo Petroni. “Em 2020 o clima mais quente mesmo no inverno e o auxílio emergencial sustentaram o consumo”, disse ele.
Os analistas do Bradesco BBI, Leandro Fontanesi e Matheus Costa, apostam em uma redução de 2% neste ano na produção da Ambev. Eles atribuem isso ao fim do auxílio emergencial e a uma competição mais acirrada. O banco mantém recomendação de venda da ação da cervejaria.
Em entrevista dada em janeiro ao Valor, Luiz Nicolaewsky, superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), afirmou que o cenário mais provável é o de um pequeno aumento no volume de vendas de cerveja no país em 2021 em relação ao ano passado. O Sindicerv reúne empresas responsáveis por 80% da produção da bebida no país, incluindo Ambev e Heineken. Há certo otimismo devido a investimentos anunciados pelas duas gigantes, mas o setor tem a difícil tarefa de lidar com a falta das festas de Carnaval. O período é um dos de maior venda, em que o faturamento do setor pode crescer até 40% em relação à média do ano.
Fonte: Valor Econômico