Público (sobretudo o feminino) tem dificuldade para encontrar roupas, alimentos e artigos de beleza que atendam necessidades específicas, afirma estudo sobre potencial da terceira idade
Quatro a cada dez consumidores com mais de 55 anos enfrentam dificuldades para encontrar produtos e serviços que atendam necessidades específicas do público “maduro”. A decepção é ainda maior na procura por vestuário ou entre o público feminino.
As conclusões são de estudo da consultoria Hype60+ (especializada no público da terceira idade) e da aceleradora Pipe.Social. “O público maduro é muito invisível pelas marcas, que começam a incluí-lo em estratégias e criar produtos e serviços em um passo lento”, analisou uma das coordenadoras da pesquisa e cofundadora da Hype60+, Layla Vallias.
No caso exclusivo das consumidoras, o percentual de quem não encontra produtos que atendam às necessidades passa de 40% para 43%. Destaque para o segmento de moda e acessórios, onde 46% não tiveram os desejos de consumo atendidos.
“Mulheres [da terceira idade] reclamam que chegam no shopping e encontram apenas roupas de jovem ou tudo bege”, afirmou Layla, observando que muitas empresas acabam rotulando o público através de clichês estéticos ou publicitários. Como reflexo, mais da metade (52%) do contingente afirma não ser fiel a marca alguma.
Além do vestuário, 40% dos entrevistados pela Hype60+ (que ouviu mais 2,2 mil pessoas) não encontram alimentos que cumpram necessidades específicas. Entre os produtos de beleza e higiene pessoal, o percentual atinge 27% da amostra.
O desencontro pode ser explicado por algumas hipóteses. Entre elas, avalia a cofundadora da Hype60+, está o receio de um “envelhecimento da marca” após a aposta no público. “Precisamos de campanhas mais positivas”, argumentou Layla, citando a Natura como exemplo de companhia que dá passos nessa direção.
A consultora também observa que pontos de venda pouco amigáveis são obstáculo para o pleno consumo do público de idade. Segundo ela, há inclusive escritórios de arquitetura que já se especializam em adequar pontos físicos a essa realidade, alterando pontos como layout e iluminação.
Além disso, aspectos aparentemente singelos como a disponibilidade de poltronas na loja ou etiquetas de preço com dimensões maiores também podem contribuir com um ambiente mais acolhedor.
Entre os prestadores de serviços, a escassez de soluções que atendam a chamada “geração prateada” também é marcante: pacotes turísticos que agradem a terceira idade não são encontrados por 36%, enquanto cursos em geral – cuja popularidade entre os “maduros” é enorme – não atendem às expectativas de 31% da amostra.
Envelhecimento
Com o crescimento contínuo da expectativa de vida, o envelhecimento da população se tornará cada vez mais evidente: se hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 11% dos 208 milhões de brasileiros tenham 65 anos ou mais, em 2060 o percentual saltará para 26%.
Cofundadora da Pipe.Social e também coordenadora do estudo sobre o consumidor sênior, Livia Hollerbach lembra que boa parte dessa parcela da população ocupa papel de arrimo familiar. Entre os ouvidos pelo levantamento, 86% ainda informaram possuir renda própria. Quando analisada a parcela com 75 anos ou mais, o percentual pula para 93%.
Gerenciar o orçamento familiar, contudo, é um grande desafio para o grupo. “44% afirmaram que o padrão de vida deles caiu nos últimos anos”, lembrou Livia. “Muitos gastos como farmácia e saúde vão aumentando com o passar do tempo. Não é muito fácil equilibrar a balança”.
O desafio se torna ainda maior se considerada a chamada “síndrome do ninho cheio”: de acordo com a Hype60+ e a Pipe.Social, 34% dos “maduros” acreditam que seus filhos dependem mais deles do que gostariam.
Adicionalmente, 28% ainda precisam cuidar dos próprios pais. Tal público que se desdobra entre o cuidados com filhos e predecessores é chamado de “geração sanduíche” pelas pesquisadoras.
Tecnologias
Do ponto de vista de adoção de tecnologias, os consumidores “prateados” também surpreendem: 92% deles possuem smartphones, enquanto 90% se declaram usuários do popular aplicativo de mensagens WhatsApp. Ao mesmo tempo, 82% afirmam acessar o YouTube com frequência. Entre as redes sociais, o Facebook é o favorito e aparece como hábito de 87% da base.
Por outro lado, os principais influenciadores lembrados pela terceira idade são figuras da TV aberta – como os jornalistas William Bonner, Ricardo Boechat e Fátima Bernardes e o apresentador Sílvio Santos.
Fonte: DCI