Governo admite pela primeira vez que país deve ter deficit comercial no ano



RENATA AGOSTINI

Faltando apenas um mês para o fim do ano, o governo reconheceu pela primeira vez que as importações devem superar as exportações do país em 2014. Caso a previsão se concretize, será o primeiro deficit comercial brasileiro anual desde 2000.

Até o início do mês passado, mesmo com um deficit bilionário acumulado, o governo ainda insistia na possibilidade de saldo positivo.

O resultado negativo de novembro, de US$ 2,4 bilhões, forçou a revisão da expectativa. O deficit mensal foi o maior desde pelo menos 1994, ano do início da série do Ministério do Desenvolvimento (Mdic).

Editoria de Arte/Folhapress


“O Mdic está trabalhando agora com deficit comercial para 2014. Embora o número de dezembro seja tradicionalmente superavitário, ainda assim não deverá superar o deficit acumulado de janeiro a novembro”, afirma Roberto Dantas, diretor do departamento de estatística e apoio à exportação do Mdic.

Segundo ele, dados do governo mostram que o deficit de novembro foi o maior desde pelo menos 1950.

A diferença entre o que país vende e compra do exterior compõe as contas externas, o cálculo das operações comerciais e financeiras do Brasil com o resto do mundo.

Um resultado comercial negativo ajuda a aumentar o rombo nessa conta. Caso o fluxo de investimentos estrangeiros diretos –aplicados em atividades produtivas– seja insuficiente, o país precisa aumentar seu endividamento ou atrair investimentos mais voláteis para “cobrir” a diferença.

Em outubro, o deficit na balança comercial já fora a principal causa do saldo negativo nas contas externas de acordo com o Banco Central.

PREMISSAS ERRADAS

O governo previu, no início de novembro, que ao longo do mês haveria aumento nos preços do minério de ferro, produto com peso expressivo nas exportações.

Apostou também na manutenção das exportações de carnes e na melhora da chamada conta petróleo, que calcula a diferença entre a importação e a exportação de petróleo e combustível.

Nenhuma das três premissas se confirmou. As exportações de carne caíram no mês, com redução nos embarques especialmente para Venezuela e Arábia Saudita. Já a queda nos preços internacionais afetou as receitas do país com a venda de petróleo e de minério de ferro.

No total, as vendas para o exterior em novembro somaram US$ 15,7 bilhões, 25% abaixo do registrado no mesmo mês de 2013. Houve redução nas exportações para todos os principais destinos, com exceção dos EUA.

De janeiro a novembro, as vendas estão em queda pelo terceiro ano consecutivo. E a indústria é quem mais sofre.

A participação de produtos manufaturados nas vendas chegou ao menor patamar desde pelo menos 1994. Boa parte do fraco desempenho deve-se à crise na Argentina.

Fonte: Folha


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