O mercado de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos foi um dos que enfrentaram os inúmeros desafios e mudanças nos últimos dois anos, mas um dos poucos que conseguiram resultados positivos. Prova disso, no primeiro trimestre deste ano a balança comercial do setor fechou em alta de U$14,4 milhões, de acordo com informações da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).
Mas, diante dos acontecimentos recentes em âmbito nacional e internacional, o que esperar em 2022? Para saber mais sobre as perspectivas, o in-cosmetics connect entrevistou João Carlos Basilio, Presidente Executivo da ABIHPEC. A conversa traz um panorama atual do mercado, dos consumidores e aponta algumas tendências e desafios. Confira:
in-cosmetics – Como a variação cambial e os recentes acontecimentos na Europa podem impactar as perspectivas para a balança comercial do setor neste ano?
João Carlos – O aumento dos preços das nossas matérias-primas que vem se acumulando (resultado do comprometimento na logística de transportes), a inflação crescente, agora ainda mais pressionada pela guerra e aumento do preço do petróleo e das commodities, tornam o cenário mais desafiador para o setor brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos ao longo desse ano de 2022. No entanto, é importante ressaltar que desde 2021 temos tido um cenário positivo em nossa balança comercial.
Os números da balança comercial do setor brasileiro de HPPC surpreenderam e fechamos o ano de 2021 com uma corrente de comércio de US$ 1.4 bilhão, representando aumento de 16,2%, sobre 2020, quando foi de US$ 1.2 bilhão. O dado reforça o potencial competitivo da indústria nacional de HPPC, consolidando a sua posição na casa dos bilhões de dólares em transações comerciais internacionais.
Pudemos observar que a tendência de crescimento se manteve durante os dois primeiros meses de 2022.
Em janeiro, o setor de HPPC registrou crescimento de 9,3% na Corrente de Comércio em relação ao mesmo mês de 2021, atingindo a marca de U$ 104.1 milhões. As exportações do período alcançaram o valor de US$ 53.6 milhões, representando um aumento de 28,7%. Já as importações sofreram queda de 5,7%, em comparação a janeiro do ano passado, totalizando U$ 50.5 milhões. Os valores garantiram um superávit de US$ 3.1 milhões no saldo da Balança Comercial, revertendo o saldo deficitário de U$ 11.9 milhões em janeiro de 2021.
Em fevereiro de 2022, foi registrado crescimento de 13,3% na corrente de negócios internacionais, em relação ao mesmo mês de 2021, atingindo a marca de US$ 100,8 milhões, com as exportações no período alcançando o valor de US$ 60,9 milhões, representando um aumento de 30,8%, o maior desempenho desde 2014.
Já em março, a corrente de comércio do setor atingiu US$ 130,6 milhões, registrando um aumento de 3,3% na comparação com o mesmo período de 2021 (US$ 126,4 milhões). Já o saldo da Balança Comercial apresentou superávit no valor de US$ 3,7 milhões, revertendo o saldo deficitário de março de 2021, que foi de US$ 5,9 milhões.
Em relação ao primeiro trimestre de 2022, já é o terceiro mês consecutivo que a corrente de comércio do setor de HPPC apresenta resultado positivo, o que levou o acumulado de janeiro a março de 2022, a uma a marca de US$ 348.9 milhões, representando um aumento de 8,2% sobre o mesmo período de 2021, quando totalizou US$ 322.4 milhões.
Outro aspecto que merece atenção é que as importações representaram apenas 6,3% do total de vendas ex-factory do setor de HPPC brasileiro em 2021, portanto, cerca de 94% do mercado é abastecido por produção nacional.
IC – Quais mudanças de comportamento do consumidor no pós-pandemia devem direcionar o setor ao longo de 2022?
JC- De 2020 para cá, tivemos muitas mudanças de comportamento de consumo, na forma como o consumidor brasileiro toma suas decisões de compra e gasta seu dinheiro. Após dois anos muito desafiadores de pandemia e de grandes aprendizados, para 2022 vislumbramos algumas tendências de comportamento de consumo que são reflexo de um consumidor mais cauteloso e também, mais consciente.
Seguem três tendências que nós, acompanhando e analisando o mercado e o trabalho de nossos associados, acreditamos que seguirão ganhando força em 2022:
- Aceitação, autocuidado e inclusão já fazem parte do estilo de vida do consumidor, uma vez que com a pandemia isso já se tornou realidade no dia a dia do consumidor. A tendência agora é a busca pelo amor próprio que impulsiona a felicidade. Para as pessoas se sentirem mais confortáveis com si mesmas, elas buscam por produtos que elevam sua identidade e que as empoderam a olharem e exercerem a sua melhor versão.
Os consumidores anseiam conforto e autocuidado e, com isso, investem mais na atenção com sua mente, com o seu corpo e com os seus valores individuais. Diante deste cenário, as empresas estão investindo em tecnologia e inovação para oferecer esse cuidado de forma cada vez mais personalizada aos seus consumidores, avançando em direção à demanda dos consumidores.
- b) A economia de baixo carbono é um movimento que veio para ficar. O setor de HPPC é consciente da necessidade de trabalhar sustentabilidade como pressuposto – isso está no DNA desse setor – e isso vem se intensificando cada vez mais em frentes de trabalho que incluem processos, produtos, embalagens, relações com fornecedores, clientes e consumidores.
Os consumidores buscam, cada vez mais, mitigar os impactos negativos de seu consumo e causar impacto positivo no meio ambiente, por meio de suas ações do dia a dia; com isso estão fazendo suas escolhas baseadas em informações sobre o tema, buscam conhecimento e muita informação.
- c) Consumidores 60+ cada vez mais digitalizados – em decorrência da pandemia e do momento em que houve fechamento dos estabelecimentos comerciais em todo o mundo, esse público, também conhecido como ‘adulto+’, foi forçado a se digitalizar e, hoje, tais consumidores estão mais familiarizados e confortáveis com a digitalização das relações e o uso da tecnologia em seu favor. Para 2022, a tendência é que as empresas invistam ainda mais na atualização do ambiente digital para atender e atrair esse público em específico, proporcionando mais autonomia para compras e serviços virtuais.
IC – Qual a visão da ABIHPEC em relação aos investimentos das empresas para a inovação do setor?
JC – Investir em inovação é o caminho para transformar os desafios em oportunidades e a indústria brasileira de HPPC tem caminhado positivamente neste sentido.
Hoje, somos o quarto maior mercado consumidor de produtos de HPPC do mundo e perseguimos o objetivo de nos tornar o terceiro nesse ranking. Somos também um setor de oportunidades, competitivo e que inova muito.
Os produtos de HPPC brasileiros são reconhecidos globalmente como inovadores em diversas categorias, especialmente pela qualidade e inovação, sendo o uso de insumos da biodiversidade brasileira um grande diferencial para a atratividade e o aumento da competitividade no mercado internacional.
Para se ter uma ideia, no ano passado (2021) foram 7.368 novos produtos colocados no mercado (Fonte: Mintel). Com esse resultado, ultrapassamos a China em números de lançamentos e conquistamos, portanto, a segunda posição no ranking de países que mais lançam anualmente.
Toda essa força e o uso estratégico da inovação são realizações de um setor muito empreendedor, que conta hoje com mais de 3.300 empresas capacitadas e habilitadas para produzir e atender aos mais diversos segmentos e, inclusive, nichos de mercado.
IC – Como associação de referência no setor, como a ABIHPEC vê os avanços da indústria em inovação e sustentabilidade?
JC – O trabalho focado em inovação e sustentabilidade está no DNA do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos há muitos anos, exemplo disso, é a forma como o setor cumpre com suas responsabilidades relacionadas à logística reversa de embalagens pós-consumo e a circularidade de embalagens.
A ABIHPEC, desde antes da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), desenvolveu e coordena o Dê a Mão para o Futuro – Programa de logística reversa para embalagens pós-consumo.
Criado pela ABIHPEC em 2006, o “Dê a Mão para o Futuro” tem o objetivo de encontrar soluções para a questão das embalagens pós-consumo e contribuir para o incremento dos índices de reciclagem no Brasil.
Por meio do programa Dê a Mão para o Futuro, realizado em parceria com Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (ABIPLA) e Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos (ABIMAPI), o setor de HPPC segue empenhado em viabilizar a recuperação e destinação das embalagens para reciclagem, aliado à inclusão do catador, a formalização de seu trabalho e a melhoria de sua renda e de sua qualidade de vida.
De 2013 a 2020 foram investidos pelo projeto De Mãos para o Futuro (DAMF) mais de R$ 81 milhões no programa que resultou na marca de 655 mil toneladas de materiais recicláveis recuperados. O programa representa um importante compromisso da Indústria de HPPC com o meio ambiente e a sustentabilidade, que vai da fabricação ao destino das embalagens e, por conta de ser um modelo estruturante e capacitador, atende a sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.
Em 2019, foi reconhecido pela ONU – CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) como case de Big Push de Sustentabilidade no Brasil e, em 2020, recebeu o segundo reconhecimento da CEPAL, como destaque em impacto positivo no emprego, trabalho e renda, além de promover o desenvolvimento local, com a melhoria da renda dos trabalhadores e redução de desigualdades estruturais de gênero, de raça e geracionais.
Além disso, de 2020 para cá, tivemos muitas mudanças de comportamento de consumo, na forma como o brasileiro toma suas decisões. E após dois anos de grandes aprendizados, nós vislumbramos algumas tendências que são reflexo de um consumidor mais consciente. Dentre as diferentes tendências, uma das mais latentes é a economia de baixo carbono, um movimento que veio para ficar. O nosso setor de HPPC é consciente da necessidade de trabalhar sustentabilidade como pressuposto e vem intensificando cada vez mais as frentes de trabalho de sustentabilidade aplicando inovação na busca de soluções e melhorias que incluem processos, produtos, embalagens, relações com fornecedores, clientes e consumidores.
IC – Qual a importância do retorno presencial da in-cosmetics Latin America depois de um hiato de dois anos por conta das restrições sanitárias?
JC – Estamos muito felizes com o retorno da in-cosmetics Latin América, pois retomar um evento presencial possibilita a geração de novos negócios, incentiva a competitividade e proporciona o encontro das empresas de produtos acabados com sua cadeia produtiva.
IC – A ABIHPEC e ApexBrasil renovaram convênio para promover o setor brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Qual a perspectiva para este novo ciclo e quais os próximos passos após a assinatura?
JC – Em 24 de fevereiro, celebramos a assinatura do convênio de cooperação técnica e financeira nº 33-08/2022 com a ApexBrasil. Com a finalidade de promover, facilitar e acelerar o processo de internacionalização das empresas do setor de HPPC e seus correlatos, o acordo prevê investimentos acima de R$ 24 milhões, sendo 56,5% originários da ApexBrasil, e 43,5% de contrapartidas da ABIHPEC e empresas participantes do Beautycare Brazil.
Para este novo convênio, o projeto selecionou 19 mercados-alvo, onde já vem atuando desde a assinatura do convênio, com foco comercial e de promoção de imagem e com a realização de estudos e análises de oportunidades e ampliação de negócios. São eles: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Colômbia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Japão, México, Panamá, Peru, Reino Unido, Rússia e Turquia.
Trata-se de um momento extremamente importante para o setor, pois é uma iniciativa imprescindível para a ampliação e reforço da internacionalização do setor brasileiro de HPPC, especialmente para as empresas de médio e pequeno porte, que integrarão o projeto setorial.
As perspectivas são muito positivas e, desde a assinatura do convênio em fevereiro, já estamos trabalhando a todo vapor. Estivemos, recentemente, na in-cosmetics global, em Paris, e os resultados foram positivos – realizamos com um total de US$ 8,5 milhões em vendas internacionais, com expectativa de mais US$ 15,82 milhões para os próximos 12 meses. Já nos dias 28 de abril a 2 de maio, estamos na Cosmoprof Bologna, na Itália, promovendo a participação de 44 empresas brasileiras apoiadas pelo projeto Beautycare Brazil, e as expectativas são bastante promissoras, tanto para a geração de negócios como para o acompanhamento de tendências e muita inovação em diversas categorias.
Fonte: In-cosmetics connect