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Por Estevão Taiar e Robson Sales
Setembro marcou o 19º mês consecutivo de queda da atividade industrial na comparação com igual mês do ano anterior e levou o setor ao patamar que o setor estava há aproximadamente uma década. Para piorar, em vez de a recessão começar a perder fôlego no início do segundo semestre, essa retração ganhou ritmo e deve contribuir para uma queda ainda maior do Produto Interno Bruto (PIB) tanto neste ano quanto no próximo.
Na comparação com setembro de 2014, a produção industrial encolheu 10,9%, primeira queda superior a dois dígitos desde abril de 2009, quando a atividade nas fábricas recuou 14,1%. O real desvalorizado pode trazer algum efeito positivo no médio prazo, mas fatores como a greve dos petroleiros ainda devem contribuir para uma piora nos próximos meses.
É essa avaliação de economistas ouvidos pelo Valor sobre os dados da produção industrial divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em setembro, a produção industrial caiu 1,3% em relação ao mês anterior. Em agosto, a queda havia sido menor, de 0,9%. “Tirando a crise financeira de 2008 e 2009, que foi muito pontual e teve recuperação rápida, estamos com a produção industrial no nível de 2005, de 2006. Ou seja: voltamos dez anos”, diz o chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch (BofA) no Brasil, David Beker. Alguns consultores já revisaram as projeções de crescimento econômico para baixo depois dos dados divulgados pelo IBGE.
É o caso da Tendências Consultoria Integrada, que esperava uma queda de 0,5% no PIB do terceiro trimestre em comparação com o segundo. Agora, a consultoria calcula retração em torno de 1%. Para Alexandre Andrade, da GO Associados, os números da indústria só devem começar a melhorar a partir do segundo semestre do ano que vem.
O setor automobilístico, novamente, foi o destaque negativo e contribuiu com mais da metade da queda de 1,3% entre agosto e setembro. Na comparação entre esses dois meses, a indústria de automóveis caiu 6,7%. Em relação a setembro de 2014, o tombo foi de 39,3%. “A retração dos bens de consumo duráveis, como os automóveis, está ligada ao esgotamento do ciclo do crédito, menor confiança do consumidor, deterioração do mercado de trabalho, queda da renda real, por causa da alta inflação”, diz Andrade, da GO Associados.
Sobre os possíveis efeitos positivos do câmbio, os economistas sugerem cautela e dizem que a desvalorização do real não será suficiente para reverter os números negativos dos últimos meses. “É difícil rearticular as cadeias de produção, esperar os contratos expirarem, para conseguir criar um novo horizonte de negócios”, diz Andrade, citando também a importância da estabilidade da moeda. “Enquanto não ficar em um patamar mais ou menos fixo, não vai adiantar muito.” Beker também afirma que os benefícios do câmbio na indústria demoram para se concretizar, mas faz a ressalva: “A gente vem conversando com as empresas, e quem pode já está começando a substituir as importações”. Todos concordam, no entanto, que a greve dos petroleiros deve agravar ainda mais a situação já frágil da indústria.
O segmento de extração responde por 11% da produção total do setor e é o único com desempenho positivo em 2015. O IBGE já admite esse fator negativo a mais, mas pondera que o reflexo só será contabilizado nos resultados dos próximos meses, já que o recuo na produção se iniciou nas últimas semanas, diz o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. De acordo com informações do Sindipetro, a greve atinge mais de 25% da produção diária da estatal.
As 15 primeiras plataformas paralisadas na Bacia de Campos já reduziram em cerca de 400 mil barris diários a produção. Esse volume pode subir, porque o número de plataformas sob controle dos grevistas é de 25. A despeito do segmento extrativista, Macedo lamenta o desempenho industrial. “Se o ano acabasse agora, seria o pior fechamento da série.”
Fonte: Valor
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