IPCA deve ir a 3,9% no 1º trimestre, preveem economistas



Por Tainara Machado

O “realismo tarifário” aplicado às contas de luz deve levar a inflação a ter a maior alta desde 1995, considerando apenas meses de março. De acordo com a média das estimativas de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou 1,38% no mês passado, após altas de 1,24% em janeiro e de 1,22% em fevereiro. A última vez que o índice oficial de inflação teve variação acima de 1% por três meses consecutivos foi no primeiro trimestre de 2003, quando a inflação acumulada no período foi de 5,13%.

No período entre janeiro e março deste ano, com alta de mais de 30% das tarifas de energia elétrica, o IPCA deve subir 3,9% (caso se confirmem as projeções para março), o equivalente a 60% do teto permitido pelo regime de metas de inflação para o ano inteiro, de 6,5%. Com esse resultado, o IPCA acumulado em 12 meses deve ultrapassar a marca de 8%, ao alcançar 8,18% no período encerrado em março, mantendo­se neste nível até o fim do ano. Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, boa parte do avanço esperado para o índice oficial de preços no mês passado está relacionado ao novo aumento da tarifa de energia elétrica no período. Depois de subir 11,68% no primeiro bimestre, o economista estima que a conta de luz deve ter ficado 23,9% mais cara em março.

Romão lembra que a tarifa aumentou porque a taxa extra aplicada às contas de luz quando a bandeira está vermelha (o que sinaliza maior custo de geração) subiu de R$ 3,00 para R$ 5,50 por 100 kWh consumidos. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) concedeu uma série de reajustes extraordinários para distribuidoras, de modo a compensar o fim dos repasses do governo federal em auxílio à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Nos cálculos de Romão, o IPCA em março subiria 0,53% caso a tarifa de energia não tivesse sido reajustada no mês passado. Para Leonardo Costa França, economista da Rosenberg & Associados, a alta de 21,02% da conta de luz em março deve ter adicionado 0,67 ponto percentual ao IPCA de 1,39% esperado pela consultoria no mês. Por causa desse aumento, o grupo habitação deve ser a principal fonte de pressão sobre a inflação nesta leitura, ao passar de avanço de 1,22% para um aumento de 5,05% na passagem mensal.

Romão, da LCA, menciona que além desse grupo, os alimentos e bebidas devem ter voltado a acelerar, com alta esperada de 1,23% em março, após aumento de 0,81% em fevereiro. “O primeiro trimestre já é de fortes altas de alimentos, por causa do período de chuvas, mas neste ano as precipitações ficaram mais concentradas em março, o que reforçou a sazonalidade”, afirma o economista. As paralisações de caminhoneiros em vários pontos do país também parecem ter contribuído para esse movimento, diz, com aumento dos preços de leites e derivados, por exemplo.

Nos cálculos do Itaú Unibanco, que estima alta de 1,33% para o índice em março, os alimentos e bebidas devem adicionar 0,29 ponto percentual à inflação do mês. Do lado mais positivo, França, da Rosenberg, ressalta que o grupo transportes deve perder força, ao passar de aumento de 2,2% em fevereiro para avanço de 0,69% em março, já que os efeitos do aumento de impostos sobre combustíveis começam a sair da conta. Para o economista, como os reajuste de itens administrados, como gasolina e transporte público, ficaram concentrados no primeiro trimestre, é possível que o IPCA tenha variações mais moderadas nos próximos meses.

Ainda assim, a alta de quase 4% do índice oficial de inflação apenas no primeiro trimestre deve levar o IPCA a encerrar o ano em 7,9%, bem acima do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Romão, da LCA, concorda. Em sua avaliação, os preços devem ceder gradativamente nos próximos meses, com alta em torno de 0,7% em abril, 0,5% em maio e algo como 0,25% em junho. Ainda assim, diz, não será uma desaceleração suficiente para que a inflação no acumulado em 12 meses fique abaixo de 8% em algum momento deste ano. Para Romão, o pico deve ser alcançado em agosto, com IPCA de 8,4%, mas o índice deve encerrar 2015 com alta de 8,1%, diz.

Fonte: Valor

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