Ministro da Fazenda diz que a estratégia do governo é para o longo prazo (Flávia Barbosa)
A recuperação do Brasil, que passará em 2015 pela mais grave recessão em duas décadas, será lenta, devido à desaceleração global e aos desequilíbrios domésticos, e exige uma reorganização “tijolo por tijolo” afirmou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante seminário sobre a América Latina organizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), na capital americana. Ainda assim,em conversa com jornalistas, ele projetou uma retomada do Produto Interno Bruto (PIB) já no segundo semestre, em resposta à implementaçãodo ajuste fiscal e a medidas como o programa de concessões. Segundo o ministro, a avaliação do governo é que o cenário externo no médio prazo será de baixo crescimento na América Latina, na China e até nos EUA. Portanto, ademandapor com- modities será reduzida por um período estendido. Isso exige do Brasil uma nova estratégia de crescimento, pois “vamos encarar este mundo por um tempo” – A nossa estratégia é para o longo prazo. É melhor que alcancemos a melhor forma possível, em vez de apenas tentar manter algo anticíclico – afirmou Levy, que monopolizou as perguntas da platéia ao fim do painel e foi muito cumprimentado.
O potencial das medidas anticíclicas – como desonerações e financiamento público abundante, que foram a primeira resposta à crise global e ao fim do boom das commodities – está esgotado, garantiu o ministro. Agora, é arrumar os indicadores macroeconômicos e iniciar reformas de caráter estrutural. – Será uma recuperação lenta. Quando as coisas estiverem estruturadas, esperamos parar de cair, e começar a crescer, lentamente, porque essas coisas você tem que construir tijolo por tijolo em sua economia, em um novo mundo – disse.
O país, defendeu o ministro, já caminha nesta direção, com as leis aprovadas pelo Congresso na semana passada, como o aperto no seguro-desemprego. Esta medida incentiva a redução da rotatividade no mercado de trabalho, fenômeno que “significa menos investimentos em
qualificação e trabalhadores menos eficientes”: – As leis que conseguimos passar na semana passada são coisas que levantam algum dinheiro, mas o mais importante équeelas retrabalham aeconomia. São na verdade reformas estruturais disfarçadas de coisas simples.
É importante também que o Brasil comece a modernizar o sistema tributário, que é burocrático e oneroso. O ministro da Fazenda antecipou que deve
enviar agora em meados de 2015 ao Congresso uma propostadesimplificação daestrutura doICMS- que está em negociação com os 27 governadores e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Ainda na frente doméstica, defendeu Levy, o reequilíbrio fiscal é fundamental para aumentar o nível de poupança pública. Alcançar este objetivo será importante para elevar diretamente os investimentos do Estado, mas também gerar confiança e previsibilidade e elevar a poupança privada, fonte de financiamento para governos e empresas. O plano é completo pela revisão das despesas federais, para eliminar excessos e aumentar a eficiência dos gastos essenciais, como educação e saúde. – Épreciso mudar os incentivos. Acreditamos que essas coisas(reformas) vãosacudir aeconomia (…), podem destravar algum crescimento potencial avaliou o ministro da Fazenda.
MELHORA NO 2º SEMESTRE
No campo externo, Levy defende que é o momento de o Brasil ser mais agressivo na política comercial. Já no segundo semestre, porém, a economia brasileira vai colher os benefícios do ajuste fiscal e medidas que o governo começará a anunciar nos próximos dias, como o Plano Safra 2015/2016, que será “robusto” e o novo programa de concessões. Se nós tomarmos as providências necessárias com rapidez, nós temos bastante chance de ver um segundo semestre, uma segunda metade do ano, favorável para a economia – disse. — “Temos bastante chance de ver uma segunda metade do ano favorável” Joaquim Levy – Ministro da Fazenda
Fonte : – O Globo – 02 de junho de 2015