raquel landim
A presidente Dilma Rousseff não se cansa de dar sinais de que não se convenceu da doutrina neoliberal pregada por seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e que vem sendo obrigada a “engolir” o ajuste fiscal.
Na quinta-feira (19), a presidente decidiu manter Luciano Coutinho no comando do BNDES. Conhecido economista heterodoxo, ele é o criador da criticada estratégia de “campeãs nacionais”.
Ninguém pode acusar Coutinho de incoerência. Uma vez no governo, ele aplicou suas ideias e utilizou a força do Estado para alavancar alguns setores e empresas, como o frigorífico JBS ou fabricante de celulose Fibria.
Coutinho está no cargo há quase oito anos –assumiu em abril de 2007, ainda no governo Lula. Na sua gestão, o BNDES se agigantou graças às transferências do Tesouro Nacional.
Até junho de 2008, antes da crise global, o BNDES tinha recebido R$ 14 bilhões do Tesouro, o equivalente a 0,5% do PIB. No ano passado, esse montante chegou a R$ 545,6 bilhões, ou 10,6% do PIB.
Os empréstimos aos bancos públicos ajudaram a deteriorar as contas do governo. Levy já disse que o Tesouro não vai mais financiar o BNDES e que é contra o patrimonialismo praticado pelo banco.
Depois que sua estratégia fez água, Coutinho chegou a afirmar que a estratégia das “campeãs nacionais” chegou ao fim e que o BNDES precisa diminuir de tamanho gradualmente. Mas não dá para acreditar que tenha abandonado as crenças econômicas de toda sua vida.
Levy pode até neutralizar a influência de Coutinho, eliminando as transferências do Tesouro e elevando a TJLP (taxa de juro de longo prazo cobrada pelo banco, mas definida pelo governo). No entanto, terá um páreo duro pela frente. Coutinho é ex-professor de Dilma e a presidente comunga de suas ideias.
Ao manter Coutinho no cargo, Dilma mostra mais uma vez a dubiedade do seu governo. A trégua que o mercado concedeu ao ministro da Fazenda está se esgotando. Se realmente quer reconquistar a confiança dos investidores, estava na hora da presidente começar a ajudá-lo.
Fonte: Folha