Mercosul pode rever estratégia com avanço da Aliança do Pacífico

Economias do bloco devem crescer 3,3%. Para grupo do Brasil, estimativa é de 1,1%.

Juntos, eles ganharam mais projeção e força, mas a pergunta que não quer calar é se a união de México, Chile, Peru e Colômbia, desde 2012, na Aliança do Pacífico, proporcionou ganhos ou foi só marketing, como disse o então chanceler brasileiro Antonio Patriota. Especialistas consideram que a união dos países permite que façam frente ao Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela).

É inegável que a união aduaneira liderada pelo Brasil está atenta aos movimentos do grupo do Pacífico e pode ter de rever algumas estratégias. Maria Regina Soares de Lima, pesquisadora sênior do Iesp/Uerj, destaca que a Aliança é uma união real, mas baseada em modelo distinto do do Mercosul, e tem o objetivo de acessar mercados principalmente fora da região latina.

— Enquanto a Aliança quer vender para fora, o Mercosul está mais próximo do modelo de integração clássico.

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, já defendeu um diálogo com o Mercosul. Para Harold Trinkunas, da Brookings Institution, o Mercosul é visto como protecionista, e a Aliança, como mais favorável ao livre comércio.

— O Brasil tem algumas opções, como uma aproximação ou ação mais independente dos demais membros do Mercosul. E um caminho para isso é levar em frente a ideia chilena de abrir um diálogo entre os dois grupos.

PIB de US$ 2,22 trilhões

Com 200 milhões de pessoas e um PIB de US$ 2,22 trilhões, as economias da Aliança do Pacífico devem crescer 3,3% em 2014, enquanto as do Mercosul, juntas, devem ter expansão de, no máximo, 1,1% este ano, diz o BBVA. A Aliança tem cerca de 50% do que a América Latina exporta para o mundo, mas o comércio entre os quatro países representa 4% de suas exportações. Já o Mercosul tem mais de 40% das exportações da região e a fatia do comércio intrabloco é de 15%.

Sebastián Herreros, da Divisão de Comércio Internacional e Integração da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), diz que as semelhanças das economias de Chile, Peru e Colômbia restringem as possibilidades de integração.

— Seria estrategicamente interessante a aproximação com o Mercosul, que permitiria mais complementaridade da produção industrial — afirma.

Autor do estudo “Os Pumas do Pacífico”, o pesquisador Samuel George, da Bertelsmann Foundation, diz que, assim como os Tigres Asiáticos, o sucesso da Aliança do Pacífico está calcado em políticas macroeconômicas e integração global:

— Como os Tigres, investem no modelo de fronteiras abertas e mais comércio. E apostam mais na Ásia do que nos EUA.

A Aliança trouxe ao menos um avanço: zerou as tarifas de 92% no comércio de bens dentro do bloco. Porém, Herreros, da Cepal, diz a que cerca de 90% dos itens já tinham tarifa zero. Para ele, o que a Aliança tem feito é estender aos parceiros acordos que antes eram bilaterais. Para Lia Valls Pereira, pesquisadora do Ibre/FGV , o grupo do Pacífico não é uma contestação ao Mercosul:

— O Mercosul foi criado com a meta de se tornar união aduaneira e pretendia integração mais profunda, que apesar da retórica, não ocorreu na prática. A Aliança se coloca mais aberta a negociações sem que isso signifique perda de soberania.


Fonte: O Globo

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