Merkel pede reunião com Dilma em cúpula


Cristina, Raúl Castro e Maduro esvaziam encontro de comunidade de países latinos e caribenhos e EU em Bruxelas Líderes do Brasil e da Alemanha devem tratar de clima e acordo entre UE e Mercosul, protelado por Argentina A presidente Dilma Rousseff deve se reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta quarta (10) durante encontro em Bruxelas (Bélgica) entre dirigentes da União Europeia e da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Dilma quer acelerar as negociações para o acordo comercial entre o bloco europeu e o Mercosul, cuja negociação se arrasta há 15 anos. O encontro com Merkel, pedido pela líder alemã, é oportuno em razão da ausência em Bruxelas da colega argentina, Cristina Kirchner, que hesita em apresentar uma proposta aos europeus que permita o avanço das negociações –o que não deve ocorrer antes das eleições argentinas, em outubro.

Os presidentes Nicolás Maduro (Venezuela) e Tabaré Vázquez (Uruguai) tampouco participam da cúpula. Em entrevista à rede alemã Deutsche Welle, publicada nesta terça (9), a presidente afirmou que é “prioritário” para ela selar o acordo comercial neste ano, apesar da resistência do vizinho. “Do ponto de vista do Brasil, o Mercosul tem condições de fazer esse acordo, e eu buscarei sempre levar

os outros países”, afirmou. A comissária de negócios do bloco europeu, Cecilia Malmström, convidou os ministros do Mercosul presentes em Bruxelas para uma reunião paralela à cúpula UE-Celac para discutir o tema. Espera-se ainda que, na conversa com Dilma, Angela Merkel aproveite para pressionar o Brasil a apresentar metas ambiciosas antes a conferência global sobre mudança climática, que ocorrerá em dezembro, em Paris.

Na segunda (8), liderados por Merkel, os líderes das potências que compõem o G7 declararam consenso em reduzir o uso de combustíveis fósseis até o fim do século. Está prevista ainda reunião de Dilma com o premiê grego, Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza. Eleito em janeiro, ele está no centro de uma crise política e econômica que pode culminar com a saída da Grécia do bloco. A cúpula UE-Celac reunirá representantes de 61 países, sendo ao menos 40 chefes de Estado.

O encontro, porém, é marcado pela ausência de líderes sul-americanos e do cubano Raúl Castro, que enviou seu vice, Miguel Díaz-Canel. Apesar da ausência de Raúl, a aproximação de EUA e Cuba deve ser celebrada no comunicado final em Bruxelas, mas sem avançar nas relações com a UE, que debate seus passos em relação à ilha. Especificidades devem ficar fora do texto — esperam-se apenas menções genéricas sobre o fortalecimento das relações políticas e econômicas entre as duas regiões.

Um dos temas abordados pode ser o progresso das negociações para instalar um cabo submarino de fibra ótica ligando Europa e América do Sul, entre Lisboa (Portugal) e Fortaleza (Brasil).

PORRETE – Na entrevista à Deutsche Welle, a presidente brasileira foi questionada sobre a proximidade com a Venezuela, rival política dos EUA e de potências europeias.

“Muita gente gostaria que virássemos as costas para a Venezuela, como durante muito tempo foi feito com Cuba”, respondeu Dilma.

“Colocar a Venezuela como uma ameaça aos EUA não contribui para uma maior democracia na Venezuela, mas para radicalizar posições.

Não seremos jamais um poder regional com o porrete na mão”, acrescentou ela, em alusão à política encampada por décadas pelos EUA.

Folha de S. Paulo – 10 de junho de 2015 (Leandro Colon enviado especial a Bruxelas)


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