Sob a ameaça de cancelamento do tratado de livre comércio em produtos da indústria automobilística, autoridades brasileiras voltarão a discutir a revisão do acordo só após o Carnaval – mas no Brasil e não na Cidade do México, como chegaram a anunciar na semana passada, depois da visita de uma missão de negociadores mexicanos a Brasília. A nova missão ao Brasil foi definida após conversa telefônica entre o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o ministro da Economia mexicano, Bruno Ferrari. O governo brasileiro queixou-se da pouca disposição negociadora dos enviados mexicanos. A decisão de renegociar foi tomada após telefonema do presidente mexicano, Felipe Calderón, à presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira. A chanceler do México, Patrícia Espinosa, já havia sido informada em janeiro, pelo ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, da decisão brasileira de acionar a cláusula que permite a “denúncia” (cancelamento) do acordo, desde que haja anúncio com 14 meses de antecedência. A pedido de Calderón, Dilma aceitou negociar uma revisão. Para decepção brasileira, porém, o envio de uma missão de altos funcionários mexicanos a Brasília, na semana passada, foi acompanhado de uma nota em que o governo do México negava a intenção de rever o acordo. Os mexicanos se limitaram a investigar intenções e propostas brasileiras. O fato de o México estar em ano eleitoral reduz as margens de negociação. Descontente, Dilma orientou seus ministros a pedirem explicações ao governo mexicano sobre o real interesse em rever as regras de comércio bilateral e a vinda da nova missão ao Brasil servirá para marcar sua função negociadora. O governo brasileiro se defende da acusação de que decidiu mudar as regras existentes desde 2002 no momento em que elas geram saldo negativo ao Brasil, após dez anos em que elas foram favoráveis aos brasileiros – os mexicanos calculam em US$ 10 bilhões o superávit acumulado em favor do Brasil, nesse período. Para as autoridades brasileiras, as fortes mudanças no cenário internacional já justificariam o acordo. Além disso, segundo o argumento levado aos mexicanos, o objetivo era ter um maior intercâmbio de carros e peças entre os dois países, o que é dificultado pela quase inexistência de uma indústria de autopeças mexicana. Há queixas pelo pequeno volume de automóveis populares importados do Brasil pelo México. A indústria tem levado ao governo argumentos contra o fim do acordo, que, embora tenha se tornado deficitário no comércio de carros de passeio, é superavitário em outros itens do setor, como veículos pesados e autopeças. Os negociadores do Brasil querem a inclusão de caminhões leves e ônibus no livre comércio bilateral, e garantem estar decididos a pôr fim ao acordo se a próxima missão, esperada para fevereiro, não aceitar a revisão das regras. (Fonte: Valor Econômico)